"Diferentemente do governo federal, acredito na força das relações diplomáticas", diz Ibaneis em carta a Trump sobre Brasília
Governador do DF rebateu declaração do presidente dos EUA, que citou dados desatualizados de violência na capital: "Não reflete a realidade"

Pedro Canguçu
O governador do Distrito Federal, Ibaneis Rocha (MDB), encaminhou nesta terça-feira (12) uma carta à Embaixada dos Estados Unidos após a fala do presidente Donald Trump citando Brasília como uma "capital violenta". No documento, disse que percepção do mandatário norte-americano sobre a cidade "não reflete a realidade" e afirmou que o governo do DF "é de centro-direita, em oposição ao governo federal, de esquerda".
"Ele não conhece a nossa realidade. Brasília é a segunda cidade mais segura do Brasil. Nossos índices são muito melhores do que os de Nova York e Washington. Mas vou responder diplomaticamente", pontuou Ibaneis mais cedo nesta terça, antes do envio da carta.
Leia carta de Ibaneis a Trump:
Na resposta aos EUA, Ibaneis declarou que uso de informações equivocadas por Trump são "possivelmente decorrentes da atual ausência de diálogo mais consistente" entre os dos países. Em outra menção à gestão do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), comentou que "diferentemente do governo federal, acredito no diálogo e na força das relações diplomáticas".
"Tenho, de forma reiterada, afirmado que o governo federal deve abandonar disputas ideológicas e adotar uma postura pragmática nas relações internacionais, abrindo canais de negociações produtivas com os Estados Unidos", completou Ibaneis, no contexto do tarifaço de 50% imposto pelos EUA a exportações brasileiras de diversos setores, em vigor desde 6 de agosto.
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Trump utilizou dados desatualizados
Durante o anúncio da intervenção federal na segurança de Washington, capital norte-americana, Trump acabou mencionando Brasília para justificar o envio da Guarda Nacional à cidade. No discurso, ele colocou a capital brasileira na lista dos "piores lugares do mundo", associando a cidade a altos índices de violência.
Trump chegou a mostrar um gráfico comparando a taxa de homicídios de cidades como Cidade do Panamá, Bogotá e Brasília. Segundo ele, Washington D.C. teria 41 homicídios por 100 mil habitantes, mais do que centros urbanos que, segundo ele, estão entre as mais violentas do mundo. No caso de Brasília, o número citado pelo mandatário dos EUA foi de 13 homicídios por 100 mil habitantes.
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Mas os dados mais recentes da Secretaria de Segurança Pública do DF (SSP-DF) mostram que o índice citado por Trump não confere. Segundo o levantamento, Brasília registrou, em 2024, média de 6,9 homicídios por 100 mil habitantes, o menor número desde 1977, com 207 casos no total.
O Atlas da Violência, do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), traz números parecidos com os apresentados por Trump, mas referentes a 2023: foram 11 homicídios por 100 mil habitantes, e não 13, como ele afirmou.
Naquele ano, o DF registrou 347 assassinatos. Ou seja, mesmo nos períodos com índices mais altos, os números não batem com os que Trump mostrou.