PGR pede reabertura de inquérito sobre possível interferência de Bolsonaro na Polícia Federal
Pedido de Gonet ao STF busca aprofundar apuração sobre trocas no comando da PF e possíveis conexões com estruturas paralelas na Abin e no GSI

Jessica Cardoso
Paola Cuenca
A Procuradoria-Geral da República (PGR) solicitou nesta quarta-feira (15) ao Supremo Tribunal Federal (STF) a retomada das investigações sobre a suposta interferência do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) na Polícia Federal (PF) durante seu governo.
O pedido foi assinado pelo procurador-geral, Paulo Gonet, e encaminhado ao ministro Alexandre de Moraes, relator do caso no inquérito 4.831.
O processo foi aberto após o então ministro da Justiça, Sergio Moro, hoje senador pelo União Brasil, acusar Bolsonaro de tentar intervir politicamente na PF e em investigações que envolviam familiares e aliados do ex-presidente.
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Ao deixar o governo, em abril de 2020, Moro declarou que a troca no comando da corporação, com a exoneração do ex-diretor-geral da PF Mauricio Valeixo, tinha o objetivo de “obter acesso a relatórios de inteligência” e de “interferir nas investigações” em andamento.
Inicialmente, a Polícia Federal concluiu que não havia indícios de crime e o ex-procurador-geral Augusto Aras solicitou o arquivamento do caso. No entanto, em maio de 2024, Moraes questionou se o novo chefe do Ministério Público Federal manteria essa posição.
Na manifestação apresentada nesta quarta-feira (15), Gonet defendeu a necessidade de novas diligências. Segundo ele, há indícios de que as mudanças na direção da PF e em superintendências regionais, especialmente no Rio de Janeiro e em Pernambuco, possam ter tido como “real motivação” a obtenção de informações privilegiadas e a ingerência em investigações sigilosas.
O procurador-geral disse ainda que mensagens trocadas entre Bolsonaro e Moro, em abril de 2020, reforçam a suspeita de interferência. Em uma delas, o ex-presidente afirmou: “Moro, o Valeixo sai essa semana. Isto está decidido. Você pode dizer apenas a forma”. Em outra, Bolsonaro enviou uma reportagem com o título “PF na cola de 10 a 12 deputados bolsonaristas” e comentou: “Mais um motivo para a troca”
“Imprescindível, portanto, que se verifique com maior amplitude se efetivamente houve interferências ou tentativas de interferências nas investigações apontadas nos diálogos e no depoimento do ex-ministro, mediante o uso da estrutura do Estado e a obtenção clandestina de dados sensíveis”, disse Gonet no documento.
A PGR também quer que a PF confronte o inquérito com as petições nº 12.732 e 11.108, que apuram o funcionamento de uma suposta estrutura paralela montada na Agência Brasileira de Inteligência (Abin) e no Gabinete de Segurança Institucional (GSI) para obtenção ilegal de dados, disseminação de notícias falsas e ataques a instituições públicas.