Falta de diálogo em decisões, brigas internas e ameaças; entenda a crise do União Brasil
Interlocutores afirmam que desconforto começou com a fusão que deu origem à sigla, em 2022; afastamento de Bivar pode ser definido nesta quarta (20)
O possível afastamento de Luciano Bivar da presidência do União Brasil escancara uma crise partidária que começou logo na fundação da legenda, em 2022. Interlocutores ligados à cúpula do partido descrevem uma lista de embates, começando pelo projeto frustrado de candidatura do ex-juiz Sergio Moro à presidência da República.
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As situações também passam por brigas diretas entre o comando do partido e representantes estaduais, além de lideranças dentro do Congresso Nacional. Entre os conflitos estão casos que chegaram à Justiça, como a disputa envolvendo o diretório no Amazonas e a liberação dada para desfiliações no Rio de Janeiro.
Paralelo ao cenário de crise, há em jogo um montante milionário. Para as eleições municipais deste ano, a previsão é de que a legenda receba R$ 500 milhões. Em 2023, o União foi o terceiro partido que mais recebeu recursos do Fundo Partidário, com mais de R$ 58,4 milhões.
Conforme apurou o SBT News, as reclamações despontam contra decisões individuais tomadas pelo mandachuva, o deputado federal Luciano Bivar, em um histórico que endossou disputas internas ligadas à falta de diálogo.
Um nome próximo da cúpula do partido exemplifica que o processo de filiação de Moro e a manutenção da disputa dele à presidência pela legenda em 2022 não haviam sido acordados, o que pegou nomes da sigla de surpresa. O movimento impactou palanques eleitorais definidos naquele ano.
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Uma outra figura de destaque no Congresso expôs que Bivar fez uma série de viagens e buscou ter protagonismo frente à legenda, sem uma atuação contundente para atender demandas internas de líderes. Na mesma linha, um deputado avalia, sob discrição, que o descompasso no comando da legenda pode levar a um problema no mandato de Bivar como deputado na Câmara.
A falta de comunicação também é apontada como justificativa para a negociação truncada do partido com o governo. Mesmo com três ministros na Esplanada do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), o União tem apresentado dissidências em projetos defendidos pelo Executivo no Congresso. Em fevereiro, 17 dos 59 deputados da legenda assinaram pedido de impeachment do petista. A expectativa da nova cúpula é de que a relação será reavaliada.
Nova polêmica e ameaças
Bivar foi apontado como autor de ameaças contra o novo presidente eleito no partido, Antonio de Rueda. As situações são ligadas a falas que afirmam fim do futuro político e ações que, segundo outros nomes do partido, se estenderam para familiares. Bivar nega ter feito qualquer movimento ou declaração contra a integridade física de Rueda e afirma haver uma "traição" em todo o caso.
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A situação escalou após incêndios em imóveis ligados a Rueda em Pernambuco, uma casa de praia dele e outro da irmã, Maria Emília de Rueda, que é tesoureira do União Brasil. A defesa de Rueda afirma que acionou o Supremo Tribunal Federal (STF) para apurar a suposta relação entre os casos. Bivar negou envolvimento.
Troca de comando
O União Brasil decidiu pela troca do comando do partido no início de março. A mudança de rota foi capitaneada pela ala do antigo Democratas (DEM), em desdobramento do racha partidário. Com o resultado, o comando do partido passaria, a partir de maio, para Antonio de Rueda. A vice-presidência fica com ACM Neto, além da troca de toda a executiva partidária.
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Apesar da previsão, o afastamento de Bivar pode ser antecipado para esta quarta-feira (20). O partido decide a respeito da medida e da possível expulsão, com cancelamento da filiação, de Bivar. A decisão foi iniciada na última semana, pela análise de supostas ofensas e ameaças a Rueda e sua família. Também cita indícios de motivação política criminosa e a validação de cartas de desfiliação de deputados no Rio de Janeiro, sem decisão colegiada do partido.
A expectativa é de que os membros do União avaliem justificativas apresentadas pelo atual presidente e cheguem a uma decisão final. Ao SBT News, no início do processo, Bivar disse que iria recorrer do caso tanto internamente quanto em instâncias superiores, ligadas à Justiça.