Entenda a polêmica envolvendo o União Brasil; presidente do partido teve casa incendiada
Defesa de Antônio Rueda não descarta que incêndio tenha sido criminoso e o liga a Luciano Bivar, ex-presidente da sigla
Recém-chegado ao cargo de presidente do União Brasil, Antônio Rueda teve duas residências ligadas a ele incendiadas na segunda (11). Rueda não descarta que o incêndio seja criminoso, e o liga ao ex-presidente da sigla, Luciano Bivar, escalando ainda mais a tensão dentro do terceiro maior partido da Câmara dos Deputados —fruto da fusão de dois expoentes da direita: o Democratas (DEM), que remonta o antigo Arena do período ditatorial, e o Partido Social Liberal (PSL), que elegeu Bolsonaro em 2018.
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Fusão entre siglas
Em 2021, após as eleições municipais de 2020, as antigas legendas iniciaram negociações para uma possível união de forças.
Enquanto o PSL tinha uma grande fatia dos recursos partidários —muito por conta da popularidade do ex-presidente Jair Bolsonaro, hoje no PL, que “arrastou” nomes ao Legislativo em 2018—, mas pouca estrutura municipal, o DEM tinha o oposto: capilaridade, mas com bancadas fracas e logo, poucos recursos disponíveis.
Nas municipais, já sem Jair, os sociais-liberais elegiam apenas 91 prefeitos, enquanto os democratas, 471. O acordo parecia promissor a ambos.
Na época nasceu o União Brasil (2022), a bancada era a maior da Casa Baixa, 81 congressistas, com uma cifra equivalente a R$ 1 bilhão. Nas Assembleias Legislativas pelo Brasil, eram 129 nomes, além de 552 prefeituras em todo país (cerca de 10% do total de municípios).
Líderes: a presidência da União ficou, à época, com Luciano Bivar, antigo “chefe” do PSL, enquanto restou a ACM Neto, do DEM, o cargo de secretário-geral.
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Acostumado a dar as cartas na antiga agremiação, Bivar passou os últimos dois anos recebendo divergências. Ao que o antigo homólogo, ACM, ironizou no início deste março (2024): “Desunião Brasil”.
Luciano Bivar
Político de carreira e empresário, está em Brasília desde 1999, quando ocupou o cargo de 2º Vice-presidente da Câmara dos Deputados do Brasil. Em abril de 2022, foi aprovado como pré-candidato da sigla (União) para as eleições presidenciais a serem realizadas em Outubro. Mas desistiu em julho.
Em meio a crise, a ala democrata decidiu em 29 de fevereiro pela retirada do deputado, colocando Antônio Rueda no lugar, e ACM Neto como vice.
Antônio Rueda
Advogado, nunca participou de uma eleição nacional. Era o número 2 do União Brasil, mas despontava como figura central nas negociações. Rueda era próximo do presidente da Câmara, Arthur Lira (PP) e chegou a conseguir até que um nome seu fosse indicado à Presidência da Superintendência de Seguros Privados (Alexandre Camillo), há dois anos.
No dia 29, após o resultado, Rueda disse que era um dia de alegria para o União Brasil, e celebrou o avanço da votação. A decisão daquela quinta-feira havia sido suspensa por Bivar, mas o movimento caiu, e a decisão se manteve, em derrota para o pernambucano.
Ao SBT News, Bivar afirmou que a troca partidária não era efetiva, e classificou o processo como "paralelo". Apontou a possibilidade de judicializar a decisão do partido.
"A convenção foi cancelada. Fizeram uma convenção, entre aspas, a arrepio do estatuto, então preciso aguardar alguma coisa concreta. Não tenho nenhum conhecimento oficial", afirmou. "Se tentarem registrar a ata, é claro que a gente vai judicializar", emendou.
A legenda passava agora a ter uma liderança “compartilhada”. A chapa, encabeçada por Antônio Rueda, nomeou oito vice-presidentes, sendo ACM Neto o principal. Além de outros 37 nomes que fazem parte da Executiva Nacional —o principal órgão decisório do partido.
“É uma chapa que aglutinou todo o sentimento do partido. É inédito em uma chapa dessa”, defendeu o governador de Goiás, Ronaldo Caiado, que se destaca como uma das lideranças do antigo DEM. A reportagem, ele também avaliou haver grande entendimento partidário para a mudança: “Foi por ampla maioria. Precisava de 42 votos da comissão instituidora, nós tivemos 30 votos, dentro daquilo que se exige para que eleja o diretório”.
Os líderes do partido na Câmara, Elmar Nascimento (BA), e no Senado, Efraim Filho (PB), bancaram o nome de Rueda. Ambos eram do antigo Democratas.
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Investigação
Um dia antes da homologação da presidência do partido, foi apresentado uma representação criminal contra Bivar à Delegacia Especial de Crimes Cibernéticos da Polícia Civil do Distrito Federal, pedindo que ele fosse investigado por suposto crime de ameaça, como confirmado pela defesa de Antônio Rueda em coletiva a jornalistas nesta terça-feira (12).
“No dia da convenção [que elegeu um novo presidente ao União Brasil], 29 de fevereiro, as ameaças prosseguem. O próprio deputado Luciano Bivar reafirma essa ameaças contra a vida de Antônio Rueda na presença de um vereador [..] disse alí que gastaria o que fosse preciso, mas acabaria com a vida de Rueda [...] a Polícia Civil pediu ao Supremo Tribunal Federal autorização para abertura do inquérito policial e diante dos fatos que ontem [11 de março] ocorreram, como foi noticiado, o incêndio em duas casas, nós achamos também que devemos levar ao conhecimento das autoridade, levar ao conhecimento do Supremo Tribunal Federal, dessas novas investidas”, disse a defesa em um pequeno resumo dos fatos recentes.
O noticiado dito pelo advogado do atual líder refere-se aos incêndios da noite de segunda (11). O Fogo foi ateado em uma casa de verão e da irmã de Rueda, Maria Emília, que é tesoureira do partido. A suspeita é que a origem tenha sido criminosa. Não houve feridos.
Ao site Metrópoles, Bivar disse que o ocorrido pode ter sido “golpe do seguro”, “já que a casa estava abandonada há anos, e a estrutura, totalmente comprometida, segundo informações da região”. O ex-presidente do partido segue com a narrativa de judicializar o caso da liderança do União Brasil.