Disputa partidária altera rota do União Brasil e expõe derrota de Bivar
Em racha, ala do partido ligada ao antigo Democratas definiu troca de comando; ACM Neto ironiza: Vai deixar de ser “Desunião”
“Não se pode falar mais em divisão do União Brasil, ou Desunião Brasil”. Com essas palavras, o ex-prefeito de Salvador ACM Neto, eleito vice-presidente do União Brasil, ironizou a troca de comando do partido. A movimentação se deu após crescentes embates entre a gestão de Luciano Bivar, presidente da sigla desde a fundação, em 2022, e o novo eleito, Antônio Rueda. A troca deve ser oficializada em abril, sob desgaste: Bivar não aceita o resultado que deu poder ao rival e planeja recorrer.
+ Antônio Rueda derrota Bivar e é eleito presidente do União Brasil
A mudança de rota do partido foi mobilizada pela ala do antigo Democratas (DEM), em um racha que aumentou desde a fusão com o Partido Social Liberal (PSL). Há dois anos, as duas legendas buscaram uma reinvenção, meses após a desfiliação do ex-presidente Jair Bolsonaro, que foi eleito pelo PSL depois de anos como deputado pela mesma sigla. À época, o então presidente citou desentendimentos com Bivar e saiu com o objetivo de criar o próprio partido, mas acabou se unindo ao PL, onde permanece até hoje.
A projeção dada ao PSL com as eleições de 2018, no entanto, impulsionou um crescimento do partido, que atingiu a segunda maior bancada na Câmara dos Deputados. A fusão ao DEM e criação do União Brasil, em 2022, criou a maior legenda do Congresso Nacional naquele ano, com 81 deputados e sete senadores. Atualmente, o partido conta com 59 nomes na Câmara e oito no Senado. Líderes das duas Casas afirmam que as bancadas apoiam a saída de Bivar.
O indicativo da troca mostra a derrocada do atual presidente. Empresário e deputado eleito por Pernambuco, Bivar dava as cartas no PSL, onde chegou a concorrer ao Executivo. No comando do partido desde 2018, ele assumiu a presidência do União Brasil desde o princípio Em um primeiro momento, contou com o apoio de Rueda, que também fazia parte do PSL, até que os desentendimentos falaram mais alto e se tornaram opositores dentro do partido.
Ascensão de Rueda
Com indiretas que sinalizavam falta de diálogo partidária, representantes da legenda elegeram Rueda na última quinta-feira (29). O advogado disse receber o resultado com alegria, e que a legenda agora terá uma liderança “compartilhada” com os demais representantes. A chapa, encabeçada por ele, nomeia oito vice-presidentes, sendo ACM Neto o principal. Outros 37 nomes também fazem parte da Executiva Nacional, que é o principal órgão decisório do partido.
“É uma chapa que aglutinou todo o sentimento do partido. É inédito em uma chapa dessa”, defende o governador de Goiás, Ronaldo Caiado, que se destaca como uma das lideranças do antigo DEM. Ao SBT News, ele também avaliou haver grande entendimento partidário para a mudança: “Foi por ampla maioria. Precisava de 42 votos da comissão instituidora, nós tivemos 30 votos, dentro daquilo que se exige para que eleja o diretório”.
A jornalistas, outros representantes da sigla afirmaram que a mudança vai possibilitar um crescimento partidário, e defenderam a substituição de Bivar. “Não se pode falar mais em divisão do União Brasil ou Desunião Brasil. Agora, nós demos uma demonstração clara de que a política vai prevalecer. Porque quem tem mandato e quem tem liderança política que compõe essa nova direção partidária. E todos aqui Unidos em torno da figura do presidente Antônio Rueda e da nova Executiva. Portanto, não há mais divisão”, declara ACM Neto.
Possível judicialização
Bivar, que havia cancelado a convenção, mas teve decisão revogada pelo partido, defende que a decisão não é definitiva. E sinaliza um possível movimento se colegas da legenda insistirem pela manutenção de Rueda. "A convenção foi cancelada. Fizeram uma convenção, entre aspas, a arrepio do estatuto, então preciso aguardar alguma coisa concreta. Não tenho nenhum conhecimento oficial", diz, ao ser questionado pela reportagem. "Se tentarem registrar a ata, é claro que a gente vai judicializar", emenda.
Na contramão, Caiado afirma que haverá um movimento para tentar pacificar os ânimos, de forma que o foco passe para as eleições municipais e crescimento da legenda. “Isso é um jogo democrático. Ganha, perde. Eu acredito que vai refletir sobre isso e sem dúvida nenhuma, ter altivez de ser o presente até o último dia. Caso contrário, caberá ao partido tomar as medidas necessárias”, afirma.
ACM Neto também marca posição caso haja movimento de levar o caso à Justiça: “Se fizer, nós vamos às instâncias judiciais demonstrar a lisura do processo e demonstrar que nós cumprimos rigorosamente o regimento e o estatuto do União Brasil, que esta convenção foi realizada com todo o respaldo jurídico. E, é claro, com a força política de algo que é inquestionável, porque não há um dono de partido”.
Nos bastidores, há expectativa em torno do desenrolar da crise interna do partido. A intenção é estabilizar o movimento, para não afetar a janela de filiações, que começa na próxima quinta-feira (7) e as eleições de 2024.