De olho nas eleições municipais, União optou por pragmatismo em vez de apoio ao governo
Partido poderia contribuir com PT e ter protagonismo em debate, mas usou escolha para garantir comissão com R$ 1,2 bilhão em recursos
Com prioridade para os interesses do próprio partido, o União Brasil poderia ter apoiado o governo na disputa por comissões na Câmara dos Deputados, mas optou pelo pragmatismo, e ficou com o segundo colegiado que mais dispõe de recursos em emendas parlamentares. A sigla vai presidir a Comissão de Integração Nacional e Desenvolvimento Regional, uma das poucas que não teve cortes orçamentários pelo governo federal. Em 2024, o colegiado terá R$ 1,2 bilhão para direcionar a projetos, o que pode impulsionar capital político nas eleições municipais.
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Em racha interno para troca na própria sigla, o União trabalha com a estratégia de aumentar o quadro partidário no pleito deste ano. E a intenção falou mais alto do que o apoio à base governista. O partido poderia ter escolhido a Comissão de Segurança Pública, mas acabou deixando o colegiado com o PL, que indicou o líder da bancada da bala, deputado Alberto Fraga (DF). No fim das contas, a legenda do ex-presidente Jair Bolsonaro garantiu cinco comissões de destaque na Câmara - sendo a de nomes radicais no comando das principais delas.
Em destaque está a deputada Caroline de Toni (SC), eleita presidente da Comissão de Constituição e Justiça (CCJ), que analisa praticamente todos os projetos que passam pela Câmara. Aliada de Bolsonaro, ela foi a parlamentar em todo o Congresso que mais se opôs a decisões do governo em 2023.
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Outro nome que provocou desgaste na base de Lula foi a indicação de Nikolas Ferreira (PL-MG) para a Comissão de Educação. Além de serem contra o nome do parlamentar, com a alegação de que a conduta polêmica não condiz com o colegiado, o movimento expôs a dificuldade de negociações do PT, e deu vitória à oposição na Câmara dos Deputados.
Uma decisão diferente do União Brasil poderia ter suavizado o impacto da vitória da oposição na Câmara. Atualmente, o partido tem três ministérios no governo Lula: Comunicações, com Juscelino Filho, Turismo, com Celso Sabino, e Desenvolvimento Regional, sob comando de Waldez Góes. A legenda, ligada ao Centrão, tem como líder o deputado Elmar Nascimento (BA), aliado do presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), e tem mostrado outras dissidências.
Entre os 59 deputados na Câmara, 17 apoiaram o pedido de impeachment contra o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), que aponta crime de responsabilidade do mandatário ao comparar a guerra entre Israel e Hamas ao Holocausto. Não há qualquer indicativo de que o pedido avance. Mas o apoio de nomes de partidos ligados à base provocaram desconforto e podem ser alvo de sanção pelo governo federal.
Pragmatismo x exposição
Ao assumir uma comissão com alto valores em emendas, o União terá a possibilidade de avançar em capital político, com direcionamento de recursos para cidades antes das eleições municipais. As emendas de comissão precisam ser decididas de forma coletiva - com aprovação de maior parte dos deputados que fazem parte do colegiado - mas a presidência seleciona quais pedidos serão analisados e atua nas negociações.
Outras comissões têm mais visibilidade, e podem também ser utilizadas para ampliar capital político. Mas há o risco de que falta de apoio entre os membros dos próprios colegiados, caso sejam adotadas estratégias da base governista.
Apesar do movimento do União Brasil, a escolha do partido foi semelhante à adotada pelo próprio PT. A legenda de Lula vai presidir a Comissão de Saúde, que tem os maiores recursos da Câmara para o ano. São R$ 4,5 bilhões, o que equivale a 60% de todo o recurso disponível para comissões na Casa. As decisões ligadas à saúde passam por análise prévia do presidente eleito, deputado Dr. Francisco (PT-PI).