"Kid preto" diz ao STF que repassou carta sobre tentativa de golpe a comandantes do Exército
Réu na trama golpista, Fabrício Moreira de Bastos entregou carta que pressionava comandantes a aderirem ao golpe
Gabriela Vieira
O tenente-coronel Fabrício Moreira de Bastos confirmou nesta segunda-feira (28) a existência da "Carta do Comandante do Exército de Oficiais Superiores da Ativa do Exército Brasileiro".
Segundo o "kid preto", nome dado aos integrantes das Forças Especiais, ele teria recebido ordens de encaminhar a carta de seu superior no Centro de Inteligência do Exército (CIE). No intuito de “dissuadir os militares de assinar, aderir e publicar o documento”.
“O coronel De La Vega sabia que a turma de 1997, da qual eu fiz parte, estava preparando algum tipo de manifesto. Ele pediu que fizéssemos contato com esse documento e encaminhássemos para ele. Eu não fazia parte do grupo, mas o [coronel Bernardo] Correa Netto, sim, então eu pedi para ele me encaminhar o documento. Quando isso aconteceu, na 2ª [feira] pela manhã, eu entreguei uma cópia em mãos para o general”, disse Bastos.
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Ao ser questionado sobre o conteúdo da carta durante a interrogação do Supremo Tribunal Federal (STF) nesta segunda-feira (28), Bastos disse que era uma carta "muito mal escrita".
"Uma carta ou um manifesto escrito por quatro coronéis, é impossível de pressionar o alto comando do Exército, é de uma inocência desses quatro coronéis, que confeccionando um manifesto, com adesão de alguns outros, eles teriam o condão de pressionar 16 comandantes do alto comando. É uma inocência quase franciscana", afirmou.
De acordo com a Procuradoria-Geral da República (PGR), a Carta ao Comandante do Exército de Oficiais Superiores da Ativa do Exército Brasileiro seria uma forma de pressionar o alto comando do Exército a fazer parte da trama golpista. A denúncia indica que Bastos encaminhou a carta a outros militares.
Ainda segundo a PGR, a carta teria sido discutida em 28 de novembro de 2022 entre os "kids pretos". Entre os integrantes estavam o tenente-coronel Mauro Cid, Bernardo Romão Correa Neto e Sérgio Cavaliere.
Correa Neto, portanto, afirma que o momento teria sido "um encontro entre amigos". E, ainda, nega que a carta tenha sido discutida ou alterada durante reunião entre os "kids pretos" na noite de 28 de novembro de 2022.
Segundo a Polícia Federal (PF), as últimas alterações no documento teriam sido realizadas pela manhã.
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Interrogatórios
O Supremo Tribunal Federal (STF) interrogou nesta segunda-feira (28) os réus do núcleo três da trama golpista. Os dez integrantes respondem por tentativa de golpe de Estado. Fabrício Moreira de Bastos estava entre os interrogados.