Elon Musk está blefando de que X deixará o Brasil, avaliam membros do governo
Companhias já sinalizaram que abandonariam o país por razões econômicas. Bilionário, que critica de Moraes, diz que "princípios são mais importantes que lucro"
Uma empresa ameaçar abandonar um país quando seus interesses são, de alguma maneira, atingidos é mais comum do que pareça. Neste final de semana, o dono do X (o antigo Twitter), o bilionário Elon Musk, subiu o tom na briga que trava no Supremo Tribunal Federal, com o ministro Alexandre de Moraes.
Musk, além de reclamar nas redes que o Brasil está sofrendo censura por conta de decisões do magistrado, disse que pretende suspender as restrições aos perfis impostas por Moraes e avalia fechar as operações no país. Aqui, o X tem cerca de 19 milhões de usuários ativos e aproximadamente 40 funcionários. A justificativa, segundo Musk, é por que “princípios são mais importantes que o lucro”.
Entre fontes da área econômica do governo Luiz Inácio Lula da Silva (PT), contudo, em um primeiro momento, as ameaças de Musk poderiam ser tratadas como um blefe.
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Desde que assumiu a empresa, em outubro de 2022, Musk reduziu drasticamente a operação no Brasil. Demitiu cerca de 100 funcionários do escritório da companhia, fechou departamentos como assessoria de comunicação e curadoria e sequer contratou um substituto para a então CEO da empresa no Brasil, Fiamma Zarife, que trocou o Twitter pelo Airbnb.
Em todo o mundo, Musk sofre críticas por ter dificuldades em moderar o conteúdo publicado no X. Ele defende uma espécie de "libera geral". Na sua batalha contra Moraes, chegou a dizer que descumpriria as restrições impostas por ele e as suspenderia. Entre os que estão impedidos de usar as redes está o blogueiro bolsonarista Allan dos Santos, que vive foragido nos Estados Unidos.
Outras companhias que atuam nas redes sociais, como Telegram ou Spotify, já anunciaram que avaliavam deixar as operações em países latino-americanos.
Em um passado não tão distante, empresas diversas também fizeram as mesmas ameaças no Brasil, como Coca-Cola ou a General Motors.
Há ainda as que enfrentam ondas de boatos, que, por causa da possível regulamentação das atividades de aplicativos em debate no Congresso Nacional, poderiam também alterar suas operações, como o iFood ou a Uber. Boa parte dessas empresas têm em comum um ponto, elas reclamam da regulamentação de suas atividades ou do fim de vultosos subsídios governamentais que interferem em suas contas.
A diferença do X, neste caso, é uma atuação além da financeira. Musk está tentando interferir no debate político, assim como faz claramente nos Estados Unidos em apoio ao republicano Donald Trump. Financeiramente, os cerca de 40 funcionários do X que ainda trabalham no Brasil representam uma minúscula parcela da força de trabalho e das despesas da empresa.
Em terras tupiniquins, o discurso do bilionário alimenta as redes bolsonaristas. Basta ver quem são os políticos que aplaudiram, entre eles, o próprio ex-presidente. Jair Bolsonaro republicou um vídeo ao lado de Musk, em maio de 2022, em que o chama de "mito da nossa liberdade".
O governo Lula sentiu, em parte, o golpe. Estimulado pelo Palácio do Planalto, advogado-geral da União, Jorge Messias, recorreu às redes para criticar Musk.
"Não podemos conviver em uma sociedade em que bilionários com domicílio no exterior tenham controle de redes sociais e se coloquem em condições de violar o Estado de Direito, descumprindo ordens judiciais e ameaçando nossas autoridades. A Paz Social é inegociável", escreveu Messias, em seu perfil do X.
Até o momento, o ministro Alexandre de Moraes não caiu na provocação de Musk.