Áudios criados por inteligência artificial representam perigo para democracia, avalia especialista
Poder Expresso desta terça (9) debateu o uso de inteligência artificial nas eleições brasileiras deste ano
No Poder Expresso desta terça-feira (9), o especialista em direito digital Fernando Neisser avaliou que os áudios criados por inteligência artificial (IA) representam o maior perigo para a democracia no Brasil.
O programa debateu o uso da tecnologia nas eleições brasileiras, com foco nas disputas municipais já neste ano.
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Neisser aponta que erros em fotos e vídeos estão mais sujeitos a ferramentas e especialistas em identificação de manipulações e falsidades. O mesmo, porém, não se aplica aos áudios.
“O brasileiro fala pelo áudio do Whatsapp. Essa é a verdade. A gente tá acostumado a trocar áudios e a encaminhar áudios. O político que tem uma voz mais reconhecível na sua cidade, no seu estado, e que tiver essa voz copiada, imagina um áudio, às vésperas da eleição, no sábado a noite, de um suposto candidato a prefeito anunciar que está renunciando, ou xingando o eleitorado. Imagina o efeito disso? E como combater isso em poucas horas, antes que o eleitor vá às urnas?”, questionou.
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Ainda na visão do especialista, o risco da tecnologia não é por trazer fake news, já que a estratégia não é nova na política, mas sim por envelopar a desinformação em uma suposta credibilidade diante da maquiagem criada.
“Mentira e política andam juntas desde que a gente vivia nas cavernas. Isso não é novidade. O problema é, nas palavras do ministro Alexandre de Moraes, quando estava no TSE, é que a IA é uma fake news com anabolizantes. A mentira que já existia ganha uma força muito grande. Uma coisa é uma mentira em um panfleto, agora um áudio com a voz da pessoa, mais gente vai acreditar nisso”, avaliou.
Para Neisser, o TSE já avançou em diversas respostas a possíveis problemas nos conteúdos com IA, mas falta à Justiça Eleitoral brasileira uma solução quanto às plataformas que produzem esse material.
Entenda as regras do TSE para uso da inteligência artificial nas eleições
Entre as regras aprovadas pelo TSE estão: exigência de rótulos de identificação de conteúdo multimídia fabricado; restrição ao uso de chatbots e avatares para intermediar comunicação da campanha; vedação absoluta, seja contra ou a favor de candidato, do uso de deep fake e obrigação dos provedores de aplicações na internet de retirar do ar, sem necessidade de ordem judicial, contas e materiais que promovam condutas e atos antidemocráticos e discursos de ódio.
As medidas foram bem recebidas pela comunidade jurídica, que viu na iniciativa uma tentativa de adequar o tempo mais lento da criação de normas à velocidade acelerada das atualizações tecnológicas.
Apesar de permanecerem dúvidas quanto à eficácia das regras contra manipulações cada vez mais realistas, a avaliação é que a existências de normas iniciais facilitará a parceria entre os atores sociais e a Justiça Eleitoral relativas à fiscalização das campanhas.