Análise: Bolsonaro escreve seu Jair 3:16
Ex-presidente lança candidatura de filho primogênito em carta com simbologias messiânicas


Cézar Feitoza
O ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) escreveu uma carta, de próprio punho, para anunciar que seu filho mais velho, Flávio, recebeu sua bênção para a corrida presidencial de 2026.
O texto foi divulgado pelo próprio Flávio nas primeiras horas deste Natal – festa cristã que comemora a obra redentora de Jesus Cristo.
Há uma questão simbólica aqui.
No terceiro parágrafo da carta, Jair escreve: "Entrego o que há de mais importante na vida de um pai: o próprio filho para a missão de resgatar o nosso Brasil".
Qualquer pessoa que cresceu em uma igreja evangélica consegue ver no texto semelhanças com o versículo mais decorado nas escolas bíblicas dominicais.
João 3:16: "Porque Deus amou o mundo de tal maneira que deu o seu Filho unigênito, para que todo aquele que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna".
A obra redentora de Cristo, filho unigênito entregue por seu Pai para resgatar seu povo do reino das trevas; a candidatura de Flávio, filho primogênito entregue por seu pai para resgatar o Brasil do petismo.
Os símbolos usados por Jair em sua carta e por Michelle em seu discurso de Natal mostram que os aliados do ex-presidente vão apostar nas comparações bíblicas para reforçar a visão polarizante sobre religião e política.
A esquerda sofre para retomar alguma relação com os evangélicos – segmento que representa, segundo o último Censo, quase 27% da população brasileira. O distanciamento é resultado do preconceito que o espectro político teve dos cristãos (pentecostais, em especial) ao longo das últimas décadas.
O presidente Lula tenta remediar o problema. Nesta semana, fez evento no Planalto para decretar a cultura gospel como patrimônio cultural brasileiro.
É pouco. Enquanto Bolsonaro escreve seu próprio Jair 3:16, o desafio de Lula e seus apoiadores é aprender a falar a língua evangélica.








