Ministério Público é contra prisão preventiva de PMs suspeitos de matar estudante de medicina em SP
Promotoria afirma que não há novos indícios que sustentem detenção; imagens de câmeras corporais mostraram conversa entre agentes

Derick Toda
O Ministério Público de São Paulo foi contra a prisão preventiva dos militares Guilherme Augusto Macedo e Bruno Carvalho de Prado, suspeitos de matarem o estudante de medicina Marco Aurélio Cardenas Acosta, de 22 anos, em um hotel na Vila Mariana, zona sul de São Paulo.
A defesa que representa a vítima havia pedido a prisão, na última quarta-feira (15), com base em novas imagens das câmeras corporais dos militares. No entanto, na segunda-feira (20), promotor Estefano Kummer considerou que não há elementos novos que sustentam uma detenção com base na conversa de um dois bombeiros e um militar em que o socorrista afirmou que o estudante “tem que sofrer mesmo”.
Na visão do promotor, cabe apenas “medidas na Corregedoria da Polícia Militar”. No entanto, de acordo com o documento da promotoria, Estefano não se manifestou sobre a escolha do hospital em que Marco foi levado e as versões diferentes apresentadas pelo PM Guilherme, que realizou o disparo, deu aos colegas de farda e em depoimento.
O SBT teve acesso ao processo judicial, em primeira mão, nesta sexta-feira (24).
Novas imagens
As novas imagens revelaram que o estudante, morto por policiais militares em novembro do ano passado — foi levado baleado a um hospital que estava com a emergência fechada, superlotado e com equipamentos quebrados.
As gravações das câmeras corporais dos PMs mostram detalhes do socorro ao jovem.
Os soldados Guilherme Augusto Macedo e Bruno Carvalho de Prado faziam patrulhamento quando o estudante deu um tapa no retrovisor da viatura. Em seguida, foi perseguido pelos policiais.
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Durante a abordagem dentro do hotel, Marco desequilibrou e quase derrubou o PM Bruno. Logo depois, o colega dele, Guilherme, disparou à queima-roupa, às 2h49 da manhã. Os policiais chamaram o resgate enquanto o estudante ainda estava no chão. Os bombeiros chegaram cerca de 20 minutos depois.
A equipe decidiu levar a vítima ao Hospital Ipiranga, a cerca de cinco quilômetros do local. Mas, segundo o prontuário médico, os bombeiros tinham sido avisados das condições precárias da unidade. O documento alertava que o hospital estava superlotado, com a emergência fechada e o tomógrafo quebrado — equipamento usado para localizar projéteis dentro do corpo.
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A conversa registrada nas câmeras, dentro do centro cirúrgico, mostra a sátira durante o atendimento. Um dos bombeiros afirma: “Tá sem tomografia, não tem como localizar nada. Vai ser na mão mesmo. Eles estavam lá, mexendo nele, lá.” Outro completa: “Tem que sofrer mesmo, ninguém é obrigado.”
O atendimento de Marco Aurélio foi bem diferente do prestado ao soldado Bruno, derrubado pelo estudante. O policial foi levado à UPA da Vila Mariana, a apenas dois quilômetros do hotel.
As imagens também mostram que o PM Guilherme, autor do disparo, deu três versões diferentes sobre o ocorrido. Na primeira, afirmou que o estudante encurralou os policiais. Depois, disse que Marco partiu para cima dele. E, por fim, contou que tentou conter o jovem de outro modo antes de atirar — versão desmentida pelas imagens.
Em depoimento, o policial ainda declarou que Marco teria tentado pegar a arma de um dos PMs. No hospital, o estudante sofreu duas paradas cardiorrespiratórias e morreu durante a cirurgia.
Os policiais militares Guilherme e Bruno respondem pelo crime de homicídio em liberdade. Agora, cabe a Justiça entender se segue o posicionamento do Ministério Público ou se determina a prisão dos suspeitos.
A Secretaria da Segurança Pública de São Paulo afirmou que os diálogos gravados pelas bodycams não representam o posicionamento institucional nem os protocolos do Corpo de Bombeiros. Informou ainda que o PM indiciado por homicídio doloso permanece afastado das atividades operacionais.
A secretaria também declarou que o atendimento à vítima foi feito seguindo os protocolos de emergência, encaminhando Marco ao local considerado mais adequado para o atendimento.
O Hospital Ipiranga informou que o estudante foi atendido por uma equipe médica multidisciplinar e que, apesar dos esforços, não resistiu. As defesas dos policiais envolvidos na ação não responderam aos contatos da reportagem.








