Exclusivo: Policiais militares são indiciados por estupro de jovem durante o Carnaval em SP
Delegado conclui inquérito e aponta que vítima não tinha condições de reagir ou compreender situação no momento da violência
Fabio Diamante
Robinson Cerantula
Os dois policiais militares suspeitos de estuprar uma jovem dentro da viatura em Diadema, na Grande São Paulo, foram indiciados nesta quarta-feira (16). O cabo James Santana Gomes e o soldado Léo Felipe Aquino da Silva, da PM paulista, estão presos preventivamente há mais de 40 dias. Eles vão responder por estupro de vulnerável, crime com pena prevista de 8 a 15 anos de prisão.
O delegado Schayan Vago, responsável pela investigação, esteve no Presídio Militar Romão Gomes, na zona norte de São Paulo, onde os militares estão detidos, para ouvir os depoimentos. Eles foram interrogados por mais de duas horas.
Um laudo pericial apontou que a vítima, de 20 anos, havia consumido grande quantidade de bebida alcoólica e fazia uso de medicamentos potentes para tratamento de depressão. A combinação desses fatores comprometeu sua capacidade de compreender a situação e reagir. A jovem relatou episódios de apagões de memória e os peritos afirmaram que a mistura poderia causar sedação acentuada, prejuízo cognitivo e dificuldades motoras.
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Outro laudo médico não encontrou vestígios de sêmen, mas não descartou a ocorrência de violência sexual. O documento conclui que não há elementos suficientes para afirmar ou negar a conjunção carnal.
Durante o interrogatório, os policiais negaram o estupro. No entanto, imagens das câmeras corporais ajudaram a confirmar a versão da vítima. Ela contou que, após participar de um bloco de Carnaval em Diadema, na Grande São Paulo, pediu ajuda aos policiais porque seu celular estava sem bateria e precisava chamar um transporte por aplicativo. Após carregar o aparelho no painel da viatura, os militares ofereceram uma carona.
Segundo a investigação, a jovem permaneceu sob custódia dos PMs por mais de duas horas. Durante esse tempo, o cabo James teria retirado a câmera corporal por cerca de 27 minutos e até se sentado sobre o equipamento.
Bebida alcoólica
As imagens também mostraram que os policiais consumiam bebida alcoólica durante o serviço. A vítima afirmou que eles bebiam whisky e que chegou a beber com eles. Já os policiais alegaram que consumiam apenas energético e se recusaram a realizar exame de sangue que poderia confirmar o uso de álcool.
Os policiais ainda foram filmados por uma câmera de segurança impedindo que a jovem pedisse ajuda a um morador em uma rua de São Bernardo do Campo. A mulher foi forçada a entrar na viatura.
A jovem conseguiu enviar mensagens de áudio e vídeo para a mãe, denunciando a violência sexual. Ao final, os PMs deixaram a vítima no acostamento da Rodovia Anchieta. Depois disso, as câmeras corporais registraram o momento em que os policiais jogaram a bolsa e o celular da jovem no Rio Tamanduateí, na capital paulista. Essa foi a única confissão feita pelos PMs. Eles admitiram que se livraram da bolsa da vítima.
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