Polícia

Vídeo revela agressão de guarda municipal contra homem desarmado em Americana (SP)

Imagens mostram socos e ameaças contra Bruno Santana, confundido com suspeito de roubo de celular no interior de São Paulo

Um vídeo registrado por uma câmera corporal de um agente da Guarda Civil Municipal (GCM) de Americana, no interior de São Paulo, revelou uma abordagem violenta contra Bruno Santana, de 36 anos, que acabou sendo confundido com um suspeito de roubo de celular. Nas imagens, ele aparece desarmado e sem reagir, sendo agredido com socos e tapas no rosto, além de ser ameaçado e humilhado pelos guardas.

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A gravação mostra gritos de dor e desespero, enquanto a mãe de Bruno tenta entender o que está acontecendo. Ele é empurrado contra um portão, revistado e recebe agressões físicas, mesmo sem oferecer resistência. Em um dos trechos, um dos agentes diz: “vou quebrar suas pernas”, enquanto outros guardas riem ao fundo. Bruno ainda é erguido pela camiseta e leva outro tapa no rosto.

De acordo com a família, a abordagem ocorreu porque a localização de um celular roubado indicava que o aparelho estaria nas proximidades de onde Bruno se encontrava. “Disseram que foi ele que tinha roubado. Ele falou: ‘não, polícia, eu nunca roubei nada’. Depois que bateram, disseram que tinham pensado que era ele, porque parecia com outra pessoa”, contou a mãe, Aldenita Santos Santana.

Aldenita reconheceu o filho nas imagens e correu ao local com medo de que ele fosse morto. “Quando vi o vídeo, eu disse: não acredito que é ele. A vizinha falou: ‘vamos correr lá, porque é o Bruno, senão eles vão matar’”, relatou.

Segundo a família, Bruno não recebeu atendimento médico após a agressão e nem chegou a registrar boletim de ocorrência. O vídeo, considerado sigiloso, chegou às mãos do empresário Marcelo Masoca, que decidiu denunciar o caso. “Quando vi as imagens, percebi que o guarda estava torturando o rapaz de forma desnecessária. Automaticamente denunciei ao Ministério Público”, afirmou.

O episódio aconteceu em 15 de novembro, mas as imagens só vieram a público agora. Bruno trabalha com serviços gerais e, segundo a família, é usuário de drogas. O Ministério Público determinou a abertura de investigações pela Polícia Civil e pela Corregedoria da Guarda Municipal de Americana.

No Diário Oficial do município consta que o agressor, o inspetor da GCM Emerson Antunes da Silva, foi destituído do cargo, assim como o subinspetor Adnei Borges da Silva e a subinspetora Fabiana Ferreira dos Santos.

Para a advogada e especialista em direitos humanos Talita Camargo, as imagens apontam para crimes graves. “Além de injúria, parece haver injúria racial. Temos também o crime de tortura, que é hediondo e imprescritível, ainda mais quando cometido por autoridades que representam o Estado. Essa abordagem mostra despreparo e violação de direitos fundamentais”, explicou.

Dados do Ministério dos Direitos Humanos e da Cidadania apontam que, em 2025, foram registradas 1.219 violações praticadas por guardas municipais em todo o país. São Paulo lidera o ranking, seguido por Rio de Janeiro e Minas Gerais.

Em nota, a Guarda Municipal de Americana informou que o caso está sendo investigado pela Polícia Civil e pela Corregedoria da corporação, e que não vai se manifestar até o fim das apurações.

Bruno Santana foi preso menos de um mês depois, acusado de tráfico de drogas, e encaminhado ao complexo penitenciário. Mesmo assim, a mãe acredita que o filho foi vítima de racismo e cobra justiça. “Eu acho que foi porque ele tem a pele morena. Se fosse uma pessoa branca, não iriam agir desse jeito. Eu quero justiça, que eles sejam afastados e nunca mais voltem a trabalhar”, disse Aldenita.

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