Empate técnico no primeiro debate entre Biden e Trump

Meia hora antes do começo do primeiro debate presidencial destas eleições americanas, as ruas da região central capital Washington estavam mais silenciosas e vazias. Nem de longe era como uma final de Copa do Mundo no Brasil, mas, sim, os americanos foram para a casa ligar a TV.

Na Casa Branca, correspondentes e equipes técnicas acertavam luz e equipamentos para as transmissões da noite quando, no meio da tarde, um email na caixa de mensagens chamou a atenção. A presidente da Associação dos Correspondentes da Casa Branca – organização da qual esta jornalista faz parte – se posicionava contra uma determinação da emissora que organizou o debate. No momento da transmissão, não foi permitida a permanência na arena de nenhum jornalista do grupo de repórteres que segue de perto a agenda diária do presidente americano. O pedido foi para que ao menos um jornalista de impresso entrasse para registrar os detalhes do debate, mas isso não foi atendido.

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A TV americana que organizou o evento investiu pesado para ter Biden e Trump frente a frente e fez valer a exclusividade. Na hora do "valendo", foram permitidos – além das equipes da emissora – apenas fotógrafos de diferentes meios. Não havia plateia.

Joe Biden passou os últimos dias antes do evento em Camp David, a casa de campo oficial dos presidentes americanos. De lá, foi direto para Atlanta.

O começo do debate

Nem Biden ou Trump puderam levar anotações ou celulares para o palco. Tampouco puderam falar com integrantes das equipes de campanha nos intervalos. No púlpito havia apenas folhas de papel em branco e uma caneta para anotações. Para evitar que ambos falassem ao mesmo tempo em situações de confronto, o microfone de um permaneceu com o áudio fechado enquanto o outro falava.

Biden entrou primeiro e se posicionou do lado direito. Na chegada, Trump foi observado por Biden. O republicano não fez contato visual com o oponente.

O começo foi uma sequência de perguntas e respostas a ambos sobre o assunto que mais preocupa os americanos: a economia. Trump usou repetidas vezes o adjetivo "desastre" para se referir à administração democrata e disse que Biden transformou os Estados Unidos no terceiro mundo ao focar em armar aliados internacionais. Joe Biden respondeu que sua administração equilibrou os números da economia, falou dos progressos sobre a saúde e não conseguiu concluir o pensamento ao fim do tempo previsto para a resposta.

Os principais temas do debate

Aborto: Um tema delicado e que pode influenciar o voto dos mais conservadores e também dos liberais. Trump disse que apoia a última decisão da Suprema Corte, que não limitou a venda do medicamento usado para interromper gestações de até dez semanas. Sobre interrupção da gravidez com intervenções cirúrgicas especialmente para casos de violência de gênero, Trump disse ser contra permitir o aborto em gestações mais avançadas. Biden sempre foi um defensor dos direitos reprodutivos da mulher e afirmou que vai lutar para que mulheres vítimas de violência sexual que engravidarem de agressores tenham acesso ao tratamento seguro.

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Crise migratória: Joe Biden lembrou da política de tolerância zero de Trump, que separou crianças das famílias que entraram no país ilegalmente, e afirmou que aumentou o patrulhamento e a segurança na fronteira. Trump que, durante a campanha prometeu deportação em massa de ilegais, manteve a postura. Afirmou que os imigrantes ilegais causam violencia em cidades como Nova York e matam os americanos. "É o crime de migrantes", disse Trump. "Somos um país de não civilizados. Estão morando em hotéis de luxo em Nova York. Temos que nos livrar deles rápido".

Com trinta minutos de debate, mais solto e visivelmente indignado com os posicionamentos de Trump, Biden afirmou que Trump mente – o que se repetiu em diversos momentos do embate. O democrata recentemente legalizou a situação dos imigrantes cônjuges de americanos que entraram sem visto mas estão no país há mais de dez anos. E replicou a provocação: "Meu filho não é um perdedor. Você é um perdedor".

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Ucrânia e Rússia: Mais um tema em que Biden e Trump tem visões opostas. "Todo o mundo está explodindo com a administração dele", disse Trump. O republicano já falou mais de uma vez que, se ganhar, vai acabar com a guerra entre Ucrânia e Rússia de forma rápida. Criticou o repasse bilionário de dólares a Kiev, chamando o ucraniano Volodimir Zelensky de "melhor vendedor do mundo". "Quero a guerra resolvida entre Zelensky e Putin antes de eu assumir", afirmou. Biden disse que Trump, enquanto presidente, permitiu que Putin fizesse o que quisesse e isso levou à invasão da Ucrânia. "Putin matou milhares de pessoas e quer restabelecer o Império Soviético. O que vai acontecer com os países que integram a OTAN?", questionou Biden, fazendo referência à Organização do Tratado do Atlântico Norte, que congrega países europeus e os Estados Unidos.

Israel e Hamas: Biden foi questionado sobre a não liberação dos reféns mantidos em poder do Hamas e sobre o cessar-fogo. O presidente americano lembrou o plano que os Estados Unidos apoiam, mas não logrou dizer quando o cessar-fogo vai acontecer ou quando Netanyahu será convencido. "Você tem que deixar Israel terminar o trabalho" disse Trump, dando a entender que Biden apoia os palestinos. "Nunca ouvi tanta besteira", respondeu o presidente que tenta a reeleição.

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A invasão do Capitólio: Trump foi questionado o que ele diz aos que pensam que ele violou o juramento ao incentivar seus apoiadores a invadirem a sede do legislativo americano. Trump desviou totalmente. Falou que fez muito pelo país, xingou a administração de Biden e não respondeu. Pressionado pelo entrevistador, o republicano disse que não influenciou as pessoas e não tem responsabilidade pelo que aconteceu. Como fez no passado, culpou a ex -líder da Câmara Nancy Pelosi por ter dispensado a ajuda da Guarda Nacional naquele dia.

Biden respondeu: "Ele incentivou os invasores. Os americanos não vão esquecer aquele dia. Os invasores devem estar presos e agora ele quer soltá-los" . Essa foi a primeira vez que Joe Biden virou para Trump para olhá-lo de frente. O republicano seguiu evitando contato visual.

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Acusações cruzadas: Foi o momento mais tenso. Trump foi questionado se "iria atrás Biden" se eleito. O republicano não respondeu diretamente, mas falou que Biden "será processado várias vezes quando sair do posto". Donald Trump negou que tenha se relacionado sexualmente com a atriz pornográfica Stormy Daniels e disse que nunca arrecadou tanto na campanha quando depois que foi indiciado. Mais uma vez falou que o processo em Nova York foi armado. O atual presidente descreveu alguns dos vários processos que Trump enfrenta, incluindo levar para casa documentos sigilosos da Casa Branca.

Ameaça à democracia: "Esse cara não tem nenhum senso de democracia americana", disse Biden. Trump se esquivou mais uma vez do tema e atacou o oponente dizendo que Biden é o pior presidente da história. Joe Biden levantou a voz: "Ele diz que tudo foi fabricado (sobre a invasão do Capitólio) mas temos imagens, todos sabem o que aconteceu".

Mudanças climáticas: Trump, quando presidente, retirou os Estados Unidos do Acordo de Paris e afirmou várias vezes que o aquecimento global não existe. Sobre o tema, o republicano não fez essa afirmação no palco e mudou de assunto. Usou quase todo o tempo dessa pergunta sobre o clima para falar do apoio que tem dos policiais negros e para acusar Biden. Disse apenas: "quero água limpa, ar limpo e tínhamos".

Biden foi direto: "ele fala de maneira a indicar que tem bom coração e se preocupa com o clima e a natureza. Não vejo nada disso". E relatou o que tem feito para promover a energia limpa e renováveis.

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China e a crise dos opioides: Quando presidente, Trump pesou a mão nas tarifas dos produtos chineses. Biden não fez muito diferente, mas no campo diplomático e político joga de forma mais amena. Recebeu Xi Jinping na capital americana e sempre falou que o que deseja é uma concorrência leal.

Sobre a crise dos opioides, considerada uma epidemia nos Estados Unidos, especialmente entre os mais jovens, o republicano acusou Biden de falta de controle. Fato é que a crise vem desde a administração passada.

A disposição física dos candidatos: Muito se falou nas últimas semanas sobre a condição física de Biden e os lapsos de memória de Trump relatados em uma biografia. Com uma hora e quinze de debate, estando os dois em pé, a performance dos dois candidatos melhorou com o tempo. Trump tem 78 anos, Biden 81. O democrata tem viajado incansavelmente, muito para o exterior e a rotina com fusos distantes deixa marcas. Os dois começaram mais lentos, com aparente tensão, e melhoraram no decorrer do debate. A voz de Biden com o tempo ficou mais forte e os pensamentos fluíam com clareza. Trump pareceu mais comedido que em 2020. Nos bastidores em Washington, muitos falavam que o debate poderia virar uma troca de xingamentos. Provocações aconteceram, mas menos que o esperado. Biden se exaltou quando Trump xingou Hunter Biden – sem nomeá-lo – e respondeu.

Havia uma expectativa de que os processos criminais de Trump fossem citados de forma mais direta por Biden, mas o presidente não o provocou.

Biden lembrou que foi o segundo senador mais jovem eleito na história dos Estados Unidos e que agora é o com maior idade.

Questionado como estará aos 82 anos, quando terminar o mandato se eleito, Trump disse que fez testes recentes de memória. "Estou em tão boa forma quanto estava há trinta anos. Estava mais magro, mas me sinto muito bem". Biden disse: " eu jogo golfe com você se carregar minha mochila, Você faria isso?".

Respeito ao resultado das eleições: Trump usou a mesma tática mais de uma vez. Não respondeu se irá respeitar o resultado das eleições e não falou sobre o fato ter questionado o das eleições passadas. Ao fim, disse: "se for um resultado justo e correto eu vou".

Biden: "Eu duvido que você vai aceitar".

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