Governo Lula está desapontado com demora na divulgação dos boletins de urnas na Venezuela; análise
No Brasil Agora, observação é de que Lula "deu um passo além do que estava sendo discutido entre seus diplomatas" ao dizer não haver "nada anormal" no pleito
No Brasil Agora desta sexta-feira (2), o editor-executivo do SBT News em Brasília, Afonso Benites, comentou que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) "deu um passo além do que estava sendo discutido entre seus diplomatas" ao comentar as eleições na Venezuela. Na última terça (30), o petista disse não haver "nada anormal" no pleito, com reeleição do presidente Nicolás Maduro contestada por Edmundo González Urrutia, que teve vitória reconhecida pelos Estados Unidos.
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Benites e o apresentador Murilo Fagundes opinaram sobre o governo estar desapontado com a demora na divulgação dos boletins de urnas. Assista à análise no programa do SBT News no YouTube.
Na visão de Benites, o que importa é "o que foi assinado", ou seja, o que de fato Lula decidir enquanto mandatário oficialmente e não suas falas. O jornalista considerou que a declaração do presidente prejudica a posição almejada pelo Brasil de atuar como "mediador desse conflito".
Assista ao Brasil Agora desta sexta (2):
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Isso pode ser observado pelos movimentos seguintes à repercussão negativa da eleição: o petista tem dado um "gelo" em Maduro desde então. Diz cobrar as atas para, só depois, cravar uma condenação ou apoio à reeleição, e equipe de governo tem desviado das tentativas de contato por telefone solicitadas pelo presidente venezuelano.
Além disso, o presidente brasileiro afirmou não ver problema na nota emitida pelo Partido dos Trabalhadores (PT) reconhecendo a vitória de Maduro, movimento considerado pelos analistas como uma "bola fora".
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"O governo brasileiro deveria endurecer o discurso contra Maduro, deveria então condenar essa divulgação do resultado sem a comprovação do fato de que o atual presidente venceu a eleição, né?", questionou Benites. "Esse tipo de atitude só dificulta o processo de pacificação", avaliou.
Maduro x Lula
Antes do pleito, Maduro, no poder desde 2013, afirmou, sem provas e erroneamente, que "no Brasil, nem um único boletim de urna é auditado". As falas ocorreram após Lula dizer que ficou "assustado" com a declaração do venezuelano sobre possível "banho de sangue" caso ele fosse derrotado.
Na ocasião, Lula disse que "quem perde as eleições toma um banho de voto". Sem citar o brasileiro, Maduro sugeriu: "Quem se assustou que tome um chá de camomila".
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No final, a consequência prática foi que o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) explicou, mais uma vez, a confiabilidade das urnas no Brasil e desistiu de enviar dois auditores ao processo venezuelano.
"Com a vitória dele, também está tendo um banho de sangue", criticou Benites. O jornalista também comparou peso e influência que Brasil tem na América Latina em relação à situação no Oriente Médio.
Lula já condenou, em diversas oportunidades, o que classificou como "genocídio" as ações de Israel, em guerra contra o grupo extremista palestino Hamas, na Faixa de Gaza. "Qual a influência que o Brasil tem com relação ao Oriente Médio? Muito menor [do que tem] com relação à Venezuela", avaliou.