Gaza vive 'o pior cenário de fome possível', alerta painel de segurança alimentar da ONU
Agência afirma que fome, desnutrição e mortes aumentaram drasticamente em meio ao bloqueio e colapso dos serviços essenciais
SBT News
"O pior cenário de fome está atualmente acontecendo em Gaza", afirmou nesta terça-feira (29) a Classificação Integrada da Fase de Segurança Alimentar (IPC), agência de segurança alimentar apoiada pela ONU. O comunicado representa o alerta mais grave já emitido pela instituição sobre a crise crescente no enclave palestino, enquanto imagens de crianças desnutridas circulam e aumentam as críticas às ações de Israel no conflito.
De acordo com o relatório da IPC, “conflitos e deslocamentos se intensificaram, e o acesso a alimentos e outros itens e serviços essenciais caiu a níveis sem precedentes”. A agência destaca que “evidências crescentes mostram que a fome generalizada, a desnutrição e as doenças estão causando um aumento nas mortes relacionadas à fome”.
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Desde a última atualização da IPC, em maio de 2025, o consumo de alimentos — principal indicador da fome — despencou em Gaza. Os dados revelam que 39% da população passa dias seguidos sem se alimentar. Cerca de 500 mil pessoas, quase um quarto dos habitantes da região, vivem em condições semelhantes à fome. O restante enfrenta níveis emergenciais de insegurança alimentar.
Outro dado alarmante é o crescimento da desnutrição aguda — segundo indicador-chave da fome. Na primeira metade de julho, a desnutrição atingiu o limiar da fome na Cidade de Gaza. Entre abril e meados de julho, mais de 20 mil crianças foram internadas por desnutrição aguda, sendo mais de 3 mil em estado grave. Hospitais relataram pelo menos 16 mortes de crianças com menos de cinco anos desde 17 de julho.
Apesar da dificuldade para coletar informações precisas, devido ao colapso dos sistemas de saúde após quase três anos de conflito, o número de casos de desnutrição aguda e relatos de mortes por inanição tem crescido rapidamente, alertou a agência da ONU.
“Gaza está agora à beira de uma fome generalizada. As pessoas estão morrendo de fome não porque não há alimentos disponíveis, mas porque o acesso está bloqueado, os sistemas agroalimentares locais entraram em colapso e as famílias não conseguem mais sustentar nem mesmo os meios de subsistência mais básicos", disse QU Dongyu, Diretor-Geral da Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO).
Segundo os dados mais recentes, 320 mil crianças com menos de cinco anos estão em risco de desnutrição aguda, sendo milhares delas afetadas pela forma mais grave e mortal. Sem acesso a água potável, leite materno ou alimentação terapêutica, os serviços de nutrição entraram em colapso.
Em junho, 6.500 crianças foram internadas para tratamento nutricional – o maior número desde o início da guerra. Apenas nas duas primeiras semanas de julho, esse número já ultrapassou 5.000. Com menos de 15% dos serviços de tratamento funcionando, o risco de morte entre bebês e crianças pequenas nunca foi tão alto, segundo o IPC.
Israel retoma ajuda humanitária
No fim de semana, Israel anunciou que iria permitir que mais ajuda humanitária cheguasse à população de três regiões de Gaza. Os militares disseram que a medida "refutaria a falsa alegação de fome deliberada na Faixa de Gaza".
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Contudo, segundo a ONU, mesmo com a reabertura parcial das travessias, a ajuda humanitária que chega a Gaza é insuficiente para suprir as necessidades básicas da população, que ultrapassa os dois milhões de pessoas.
Estima-se que são necessárias mais de 62 mil toneladas de ajuda alimentar e nutricional por mês para atender à demanda. Além disso, a retomada das importações comerciais de alimentos é essencial para garantir uma dieta diversificada, com frutas, vegetais, laticínios, carnes e peixes.
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Isso, somado a escassez de combustível, água potável e outros insumos, dificulta ainda mais os esforços para conter a fome e impedir novas mortes de crianças, completa o relatório.