Francesa estuprada por mais de 50 homens a mando do marido depõe na França: “Fui sacrificada no altar do vício”
Abusos aconteciam depois da vítima ser dopada e duraram uma década; investigação policial revelou o crime e levou envolvidos ao tribunal
A francesa Gisèle Pelicot testemunhou pela primeira vez nesta quinta-feira (5) contra o seu ex-marido Dominique Pelicot, no quarto dia de julgamento de um caso que gerou indignação e repercutiu amplamente na França. Por mais de uma década, a mulher foi dopada pelo marido com quem teve três filhos para que estranhos pudessem estuprá-la.
Em um relato comovente e impactante, ela descreveu o horror ao descobrir que seu ex-marido documentava sistematicamente os estupros cometidos por dezenas de homens enquanto ela estava inconsciente. “É insuportável. Tenho tanto a dizer que nem sempre sei por onde começar”, declarou Gisèle diante do tribunal de Avignon, no sul da França.
Em aceno à direita, Macron nomeia Michel Barnier como primeiro-ministro da França
A vítima, que aceitou a divulgação de seu nome e insistiu em um julgamento aberto ao público, revelou que espera que seu testemunho ajude a prevenir que outras mulheres passem por situações semelhantes.
O caso teve início em 2020, quando Dominique Pelicot foi flagrado tirando fotos íntimas de mulheres em um supermercado. Esse incidente levou à descoberta, pela polícia, de milhares de vídeos que mostram Gisèle sendo estuprada em sua própria casa, sem qualquer conhecimento ou consentimento.
Polícia investiga suposta ligação entre Deolane Bezerra e o PCC
Os abusos teriam começado em 2011 e seguiram por uma década, até serem interrompidos no final de 2020. De acordo com a investigação, Pelicot convidava homens pela internet para abusar de sua esposa e estabelecia regras rígidas para os encontros. Os suspeitos precisavam, por exemplo, tirar a roupa na cozinha e esperar que Gisèle estivesse completamente inconsciente antes de iniciar os abusos.
Além do ex-marido, que já confessou ser culpado de todas as acusações, mais 50 homens, com idades entre 26 e 74 anos, estão sendo julgados e enfrentam penas de até 20 anos de prisão. Alguns réus negaram as acusações, alegando terem sido manipulados por Pélicot. Em seu depoimento, contudo, Gísele foi enfática sobre a culpa compartilhada por todos ao não denunciar a situação.
Enterro de imigrante que morreu no aeroporto de Guarulhos não foi autorizado por parentes
"Que eles reconheçam os fatos, o contrário é insuportável. Estes senhores permitiram-se entrar na minha casa, não me violaram com uma arma apontada à cabeça. Estupraram-me com toda a consciência. Por que não foram à delegacia? Até um telefonema anônimo poderia salvar minha vida", afirmou
Ao final de seu depoimento, Gisèle revelou o impacto devastador que os anos de abuso tiveram em sua vida. “Eu achava que éramos um casal unido”, disse, antes de descrever como sua identidade foi destruída ao descobrir os vídeos que a polícia lhe mostrou. “Fui sacrificada no altar do vício. Eles me tratavam como uma boneca de pano, como um saco de lixo.”
"Não tenho mais identidade. ... Não sei se algum dia conseguirei me reconstruir.”, afirmou.
Deolane Bezerra segue presa após passar por audiência de custódia
O julgamento deve durar até dezembro e, nas próximas semanas, mais réus e especialistas serão ouvidos para esclarecer a complexidade do caso.
* Com informações da Associated Press