Após morte de palestinos, centros de distribuição de ajuda são fechados em Gaza
Serviços ficarão suspensos nesta quarta-feira (4) para "atualização, organização e melhoria da eficiência"

Camila Stucaluc
A Fundação Humanitária de Gaza (GHF, na sigla em inglês) suspendeu os serviços nos centros de distribuição de ajuda humanitária na Faixa de Gaza nesta quarta-feira (4). A pausa temporária, segundo o grupo, servirá para “atualizar, organizar e melhorar a eficiência” da distribuição de auxílio na região.
O anúncio acontece após a morte de dezenas de palestinos em áreas próximas ao centro da GHF em Rafah, no sul de Gaza. Na terça-feira (3), 27 pessoas morreram após o exército de Israel, que faz a segurança do local, fazer disparos de advertência contra um grupo “considerado uma ameaça”. Dois dias antes, um outro tiroteio no mesmo centro humanitário deixou 31 mortos e mais de 100 feridos.
“Os tiros de advertência foram disparados a aproximadamente meio quilômetro do local de distribuição de ajuda humanitária, contra vários suspeitos que avançaram em direção às tropas de forma a representá-las uma ameaça”, disse o exército israelense. As IDF [Forças de Defesa de Israel] estão cientes dos relatos de vítimas, e os detalhes do incidente estão sendo investigado”, completou.
A GHF abriu os primeiros pontos de distribuição de ajuda humanitária em Gaza na última semana, em um esforço para conter a insegurança alimentar na região. O cenário, que já era crítico, agravou-se após Israel impedir por três meses a entrada de ajuda humanitária no enclave palestino, como forma de pressionar o Hamas a libertar os reféns capturados no ataque de 7 de outubro de 2023.
Desde que retirou parcialmente o bloqueio da entrada de mantimentos, Israel vem tentando substituir as organizações que atuam na região, como a Organização das Nações Unidas (ONU), pela GHF. O exército alega que o Hamas interrompe as redes de abastecimento dos grupos para roubar alimentos e lucrar com a venda dos itens, e, por isso, precisa fazer a segurança dos centros da Fundação.
A alegação é refutada pelas organizações, que criticam o funcionamento da GHF, acusando o grupo de não seguir os princípios humanitários. As mortes relatadas nos centros de distribuição também chamaram a atenção da ONU, que pediu uma “investigação imediata e independente” sobre os casos.
+ Embaixador da Palestina chora ao falar sobre morte de crianças em Gaza
"É inaceitável que os palestinianos estejam a arriscar as suas vidas por comida. Apelo a uma investigação imediata e independente sobre estes acontecimentos e a que os autores sejam responsabilizados. Israel tem obrigações claras sob o direito internacional humanitário de concordar e facilitar a ajuda humanitária”, disse o secretário-geral da ONU, António Guterres.