Lula diz que "não há clima" para número 2 da Abin continuar se elo com Ramagem for comprovado
Presidente também afirmou que governo não manda na Polícia Federal e defendeu investigação correta dos suspeitos
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) afirmou, nesta terça-feira (30), que "não há clima" para manter o diretor-adjunto da Agência Brasileira de Inteligência (Abin), Alessandro Moretti, no cargo se ficar comprovado o conluio com o deputado e ex-diretor do órgão Alexandre Ramagem (PL-RJ) na espionagem clandestina de adversários políticos de Jair Bolsonaro (PL).
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Sem citá-lo, o chefe do Executivo disse que "tinha um cidadão" que mantinha relação com Ramagem e que, se isso for verdade, "não há clima para esse cidadão continuar na polícia".
"A gente nunca está seguro. O companheiro que eu indiquei para ser o diretor-geral da Abin (Luiz Fernando Corrêa) é o companheiro que foi o meu diretor-geral da PF entre 2007 e 2010. É uma pessoa que eu tenho muita confiança e por isso o chamei, já que não conhecia ninguém dentro da Abin. E esse companheiro montou a equipe dele", falou o petista, em entrevista à CBN Recife.
"Dentro da equipe dele tinha um cidadão, que é o que está sendo acusado, que mantinha relação com o Ramagem, que é o ex-presidente da Abin do governo passado. Inclusive, relação que permaneceu já durante o trabalho dele na Abin. Se isso for verdade que está sendo provado, não há clima para esse cidadão continuar na polícia. Mas antes de você fazer simplesmente a condenação, é importante investigar corretamente", afirmou Lula.
Ontem, a PF realizou buscas em três endereços (casa no RJ, gabinete na Câmara Municipal e outra residência em Angra dos Reis) ligados ao vereador Carlos Bolsonaro (Republicanos-RJ) no Rio de Janeiro.
O filho "02" de Bolsonaro (PL) é investigado como chefe do núcleo político da "Abin paralela", que teria funcionado monitorando adversários e produzindo relatórios para o clã Bolsonaro clandestinamente.
Na entrevista, Lula comentou a ação e negou que haja "perseguição" da Polícia Federal a Bolsonaro e aliados.
"O governo brasileiro não manda na Polícia Federal, muito menos na Justiça. Você tem uma investigação, decisão de um ministro da Suprema Corte que mandou fazer busca e apreensão sob suspeita de utilização com má-fé pela Abin, dos quais o delegado que era responsável era ligado à família Bolsonaro, e a PF foi cumprir um mandado da Justiça", declarou.
"Abin paralela"
As apurações da PF indicam que a Abin paralela atuou de 2019 até meados de 2022, levantando dados de inimigos políticos, produzindo relatórios e informes para obtenção de vantagens pessoais e também para atrapalhar investigações. Os espiões usavam o software FirstMile para rastrear e monitorar autoridades e adversários políticos do clã Bolsonaro.
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Investigações apontam que figuras públicas como os ministros Alexandre de Moraes e Gilmar Mendes, ambos do Supremo Tribunal Federal (STF), o ex-presidente da Câmara Rodrigo Maia e o ministro da Educação e ex-governador do Ceará, Camilo Santana, foram espionados ilegalmente.
Durante a gestão Bolsonaro, a agência foi chefiada pelo agora deputado federal Ramagem, principal alvo da primeira fase da operação Vigilância Aproximada, realizada na semana passada.