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"Bola da vez", Pablo Marçal é alvo de Tabata Amaral, mas escapa das outras campanhas

Especialistas comentam estratégias de candidatos à Prefeitura de São Paulo com a subida de ex-coach nas pesquisas de intenção de votos

"Bola da vez", Pablo Marçal é alvo de Tabata Amaral, mas escapa das outras campanhas
Tabata atacou Marçal por supostas ligações com o PCC; Boulos disse que o ex-coach e Nunes são "armas" de Bolsonaro | Reprodução/Redes sociais
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Pablo Marçal (PRTB) é "a bola da vez" na eleição para prefeito de São Paulo. A constatação é de cientistas políticos ouvidos pelo SBT News durante a última semana, quando Tabata Amaral, candidata do PSB ao cargo, fez do ex-coach o alvo de vídeos de campanha. Os ataques geraram reações de eleitores de Guilherme Boulos (PSOL), que acreditam que o antigo líder do MTST está "pegando leve" com Marçal.

Um deles, que associava o candidato ao PCC, viralizou nas redes sociais. Nele, a deputada federal trocou seu tradicional blazer por uma jaqueta de couro preta. Em um ambiente sombrio, reunindo fotos e recortes de reportagens, pouco lembrava a estudante de Harvard "certinha" que está em seu segundo mandato como parlamentar em Brasília.

No vídeo, Tabata fala das ligações de aliados do ex-coach com o PCC e sobre a condenação dele por participação em uma quadrilha de fraude bancária, em 2005. "Uma pesquisa por seus aliados esbarra sempre nas mesmas letras: P de Pablo, C de Coach, C de Criminoso", diz em um trecho.

Para os especialistas ouvidos pelo SBT News, a tática de Tabata de escolher Marçal como principal alvo tem como pano de fundo o crescimento do ex-coach nas pesquisas de intenção de voto e as polêmicas em que está sempre envolvido nas redes sociais.

"O Marçal é a bola da vez", diz Paulo Niccoli Ramirez, professor da Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo (Fespsp) e doutor em Ciências Sociais. O candidato do PRTB é "a figura da direita que mais cresce nas pesquisas" e os ataques surgem como tentativa de "ter alguma alavancagem nas pesquisas", afirma.

Se no início da corrida aparecia em terceiro nas pesquisas de intenção de voto, Tabata, atualmente, figura em quinto lugar nos levantamentos. No Datafolha, divulgado na última sexta-feira (23), aparece com 8%. Guilherme Boulos tem 23%, seguido de Marçal (21%), Ricardo Nunes (19%) e Datena (10%). Na Quaest, publicada na quarta-feira (28), também aparece com 8%, enquanto Boulos tem 22%, Nunes, 19%, Marçal, também 19%, e Datena, 12%.

Tabata quer se aproveitar da popularidade de Marçal nas redes sociais para alavancar seu nome, ainda desconhecido de boa parte do eleitorado, apesar de sua atuação parlamentar. Na pesquisa de voto espontânea do Datafolha, quando os nomes dos candidatos não são apresentados, ela aparece com 4% das intenções de voto. Como comparação, na espontânea, Boulos aparece com 17% das intenções, Marçal, com 13%, e Nunes, com 7%.

O coordenador do mestrado em Gestão e Políticas Públicas da Fundação Getúlio Vargas (FGV), Marco Antônio Teixeira, avalia que a estratégia de Tabata é a "nova chance que ela tem de se recolocar entre os competidores". Para ele, a linguagem, ríspida, "chama atenção da plateia".

Segundo ele, no início da corrida eleitoral – em um cenário ainda sem Datena e Marçal no páreo – Tabata era vista como um "plano C" para a prefeitura, status que foi perdido após Datena decidir não ser seu vice e concorrer à prefeitura pelo PSDB e com a chegada do candidato do PRTB à disputa.

Com uma identidade antibolsonarista, porém de centro, a opção da deputada foi mirar a artilharia pesada contra Marçal, que tem um eleitor mais conectado com a extrema-direita, e reduzir confrontos com Nunes, de quem pode captar algum voto mais centrista. Essa é a avaliação de Mayra Goulart, professora de Teoria Política da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ) e coordenadora do Laboratório de Eleições, Partidos e Política Comparada.

"É uma estratégia que tem a ver com a identidade política da Tabata e também com as interseções em termos de eleitorado. Tanto a identidade política da Tabata quanto o perfil do seu eleitorado é mais próximo de Nunes do que de Marçal", afirma a professora.

Tabata está "surfando no engajamento". A constatação de Mayra pode ser conferida nas redes sociais. O vídeo em que relaciona o ex-coach ao PCC já tem mais de 5,4 milhões de visualizações só no X (antigo Twitter). Esse engajamento é proporcionado pelos eleitores de Marçal, mas também pelo campo progressista que, segundo ela, tem "um engajamento reativo diante de confrontos diretos com o extremismo de direita". Segundo a pesquisadora, a esquerda tem mais dificuldades para pautar um tema nas redes, mas consegue se mobilizar para responder assuntos que mobilizam a extrema-direita.

"Tabata está surfando nesse engajamento que a extrema-direita é capaz de propiciar e na reação, que também gera engajamento, dentro do campo progressista", afirma.

Boulos é cobrado e mira "bolsonarismo"

Na segunda-feira (26), Guilherme Boulos em uma transmissão ao vivo nas redes sociais com a militância, o candidato respondeu à reclamação de seus eleitores de que estava "pegando leve" com Pablo Marçal. "Eleição não é concurso de quem grita mais alto", defendeu.

No mesmo dia, porém, ele publicou em suas redes um vídeo em que coloca Nunes – oficialmente apoiado por Jair Bolsonaro e pelo PL – e Marçal como "as duas faces do bolsonarismo".

"Bolsonaro conta com duas armas para tomar São Paulo de assalto", inicia narrando, enquanto imagens de projéteis caem. A tentativa da campanha é associar os dois adversários ao ex-presidente, já que 63% do eleitorado na capital paulista rejeita um candidato apoiado por Bolsonaro, segundo o Datafolha.

"O bolsonarismo não goza de popularidade na cidade, pelo contrário, o Lula tem mais popularidade em São Paulo e maior capacidade de transferência de voto do que o bolsonarismo. Carimbar a pecha de bolsonarista pode ter esse efeito positivo", diz Marco Antônio Teixeira.

O reconhecimento da importância do presidente da República para a candidatura de Boulos ficou evidente em seu primeiro programa eleitoral na TV, nesta sexta-feira (30). Lula conduz a apresentação do candidato e de sua família, reforçando a associação.

Boulos foi o deputado federal mais votado de São Paulo nas eleições de 2022 e, em 2020, na campanha pela prefeitura, foi para o segundo turno contra Bruno Covas (PSDB). A aposta para este ano é repetir a polarização de 2022, em que Lula venceu Bolsonaro.

"A eleição de São Paulo para esse ano é uma espécie de terceiro turno da campanha presidencial", define Paulo Niccoli Ramirez.

Ataque a Marçal não é opção para Nunes

A estratégia de criticar Pablo Marçal para se aproveitar do engajamento dele nas redes sociais não é uma opção para o atual prefeito, Ricardo Nunes (MDB), na busca pela reeleição. Apoiado oficialmente pelo PL, partido do ex-presidente Jair Bolsonaro, o prefeito perde para Marçal o posto de representante do bolsonarismo na campanha

O levantamento mais recente do Datafolha mostra que, entre os eleitores de Bolsonaro na capital paulista, 44% dizem que votarão em Marçal e 30%, em Nunes. Nesse sentido, atacar Marçal – como faz Tabata e, em menor volume, Boulos – pode significar perder a simpatia de parte de seu potencial eleitorado.

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