Violência política marca eleições de 2022; veja casos
Polarização acirra ações emocionais e, consequentemente, incentiva casos de agressão, explica analista
A violência por motivos políticos tem marcado as eleições de 2022. Faltam menos de quatro dias para o pleito a ser realizado no dia 2 de outubro e, na reta final da campanha, novos casos de agressão e assassinato surgem em um cenário tensionado pela polarização.
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No domingo (25.set), um apoiador do presidente Jair Bolsonaro (PL) morreu esfaqueado após briga em um bar em Santa Catarina. Hildor Henker, de 34 anos, usava uma camisa em apoio ao presidente. Segundo testemunhas, a vítima e o assassino bebiam juntos quando começaram a discutir. A polícia investiga motivação política, já que o agressor, foragido, seria petista.
Outro caso de violência foi registrado no mesmo dia, na cidade de Montes Claros, em Minas Gerais, contra o deputado federal Paulo Guedes (PT-MG). O político, que tenta reeleição, discursava em um trio elétrico quando foi alvo de diversos tiros. O autor dos disparos seria o policial militar Dhiego Souto de Jesus, de 30 anos. Ele foi preso e encaminhado para a delegacia da Polícia Federal, mas nega a acusação.
Um dia antes, no sábado (24.set), outro caso de homicídio. Desta vez, um eleitor do ex-presidente Lula (PT) foi esfaqueado e morto na cidade de Cascavel, no Ceará. Edmilson Freire da Silva, de 59 anos, é suspeito de matar a golpes de faca o petista de 39 anos. "Com base nas primeiras informações, a motivação está relacionada a questões políticas. [...] Agora, Edmilson, que já tinha passagem por lesão corporal dolosa no contexto de violência doméstica, se encontra à disposição da Justiça", informou a A Polícia Civil do Estado do Ceará (PC-CE), em nota.
Testunhas afirmaram que, ao chegar no bar, Edmilson teria perguntando quem no estabelecimento era eleitor de Lula. A vítima teria anunciado seu voto no candidato do PT quando os dois começaram a discutir.
Na 6ª feira (23.set), uma jovem de 19 anos também foi agredida após fazer críticas a Bolsonaro. Estefane de Oliveira Laudano foi atingida na cabeça com um pedaço de madeira, após uma discussão com um apoiador do presidente, em um bar na cidade de Angra dos Reis, no Rio de Janeiro. A vítima foi socorrida e levada até a Santa Casa de Angra dos Reis. Depois, transferida para o Hospital Municipal da Japuíba, na mesma cidade, onde levou sete pontos na região do corte. A identidade do agressor ainda não foi revelada.
Para o cientista político André Rosa, a polarização é um incentivo à guerra de narrativas dos dois principais candidatos, ancorada no alinhamento ideológico entre político e eleitor, o que acirra ainda mais as ações emocionais e consequentemente, incentiva a violência.
"É importante frisar que nenhuma polarização deve ser o ponto chave para explicar qualquer violência, uma vez que tais ações refletem muito mais uma cultura política ainda em desenvolvimento. Falta acima de tudo, maturidade política, inclusive, alcançada através dos sistemas educacionais, que deveriam prezar por uma educação política de argumentos e ideias, e não voltadas à violência. Portanto, a violência política é acima de tudo, cultura política e, no caso do Brasil, ainda em desenvolvimento", ressalta.
Julho de 2022: caso em Foz do Iguaçu
O guarda municipal Marcelo Arruda festejava seus 50 anos com amigos e familiares na sede da Associação Esportiva Saúde Física Itaipu (Aresfi), quando o agente penitenciário federal Jorge José da Rocha Guaranho invadiu o local de carro gritando "Bolsonaro" e "mito". O homem, que estava armado, também teria ameaçado os convidados. A festa com temática do PT e do ex-presidente Lula, foi interrompida e os dois discutiram. Marcelo atirou pedras em direção ao carro do agente que chegou a deixar o local.
Guaranho retornou após 10 minutos e desceu já apontando a arma para Marcelo. O guarda avisa ser policial, enquanto a esposa, que é policial civil, pede calma ao homem, chegando a ficar na frente dele. Guaranho e Marcelo trocam disparos. Baleado, o petista chegou a ser levado ao hospital, mas não resistiu aos ferimentos.
O presidente Jair Bolsonaro chegou a conversar por chamada de vídeo com familiares de Marcelo Arruda. No dia seguinte ao crime, o chefe do Executivo publicou mensagem nas redes sociais em que, sem fazer menção direta ao episódio nem se solidarizar com a vítima ou com familiares, disse dispensar "qualquer tipo de apoio de quem pratica violência contra opositores".