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Economia

Reservatórios em queda e cobrança adicional na luz: saiba como economizar água

Falta de chuvas reforça alerta para economia no consumo; veja medidas simples

Imagem da noticia Reservatórios em queda e cobrança adicional na luz: saiba como economizar água
Dicas práticas para economizar água. | Jefferson Rudy/Agência Senado
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A estiagem que marcou setembro reacendeu o alerta para o risco de crise hídrica no país, levando a Agência Nacional de Energia Elétrica (ANEEL) a manter a Bandeira Vermelha na conta de energia em outubro. Ela ficará no patamar 1, o que significa uma cobrança adicional de R$ 4,46 para cada 100 quilowatts-hora (kWh)

A escassez de chuvas reduz os níveis dos reservatórios hidrelétricos e aumenta a necessidade de acionar usinas termelétricas, mais caras e poluentes. Grande parte da eletricidade no Brasil é gerada por hidrelétricas, que dependem do nível de água nos reservatórios.

É importante destacar que os reservatórios que produzem energia nem sempre são os mesmos que abastecem diretamente as casas. No entanto, ambos fazem parte do mesmo ciclo da água e dependem das chuvas. Assim, ao economizar no consumo diário, a população ajuda a preservar mananciais e rios.

Em São Paulo, onde as chuvas estão abaixo da média, os principais mananciais que abastecem a água da Região Metropolitana seguem em queda. O Sistema Cantareira, maior reservatório da Região Metropolitana, entrou em restrição nesta quarta-feira (1º). A partir de agora, a quantidade de água retirada será menor.

O nível caiu para menos de 30% da capacidade. Uma medida desse tipo não acontecia desde janeiro de 2022. Moradores já começaram a sentir o impacto da seca, com falta de água nas torneiras.

Para o professor e engenheiro ambiental Felipe Hashimoto Fengler, do Centro Universitário Facens, o momento exige ação imediata da população.

“A bandeira vermelha significa que estamos com pouca água disponível nos nossos mananciais e reservatórios, portanto é um sinal de alerta importante”, disse em entrevista ao SBT News.

Impacto do consumo desenfreado de água

Segundo o especialista, o consumo irresponsável de água aumenta o custo de tratamento e distribuição, pressiona os mananciais e compromete o abastecimento futuro. "A necessidade de utilizar fontes mais distantes ou de qualidade inferior, juntamente com o bombeamento mais caro, resulta na temida bandeira vermelha e em contas de água mais elevadas para todos os consumidores."

Em cenários de crise hídrica, a consequência mais drástica é a implementação de racionamento e rodízio, afetando a rotina de milhares de famílias. "Esse cenário provoca um impacto econômico em empresas e comércios dependentes de água", comenta Fengler.

Nos mananciais, a superexploração reduz os níveis de reservatórios e rios, comprometendo a capacidade de abastecimento e a resiliência do sistema hídrico. Esse processo também degrada a qualidade da água, tornando o tratamento mais caro e complexo.

“O consumo descontrolado hoje representa um comprometimento do abastecimento futuro, criando um perigoso ciclo vicioso de escassez que afeta a disponibilidade de água para as próximas gerações", pontua o professor.

+ Sabesp vai retirar menos água do Sistema Cantareira (SP)

Parte do sistema Cantareira, construída pela Sabesp para abastecer de água a cidade de São Paulo. | Rovena Rosa/Agência Brasil
Parte do sistema Cantareira, construída pela Sabesp para abastecer de água a cidade de São Paulo. | Rovena Rosa/Agência Brasil

Como economizar água de forma eficaz em casa?

O especialista aponta que as medidas podem ser divididas em práticas simples do dia a dia e ajustes emergenciais em tempos de crise. Algumas estratégias incluem:

1º passo - Mudanças simples no dia a dia

Entre os hábitos mais fáceis de adotar, Fengler recomenda:

  • Usar baldes para captar a água fria do chuveiro enquanto esquenta. Ela pode ser usada depois para dar aos animais, regar plantas e muito mais;
  • Escovar os dentes e barbear-se com a torneira fechada;
  • Ensaboar toda a louça antes de ligar a torneira para enxaguar;
  • Não use a descarga como lixeira. Jogar um papelzinho ou bituca de cigarro e dar descarga gasta de 6 a 12 litros de água desnecessariamente;
  • A rega de jardins e plantas deve ser feita em horários de menor evaporação (início da manhã ou fim da tarde) e com sistemas eficientes, como gotejamento;
  • Utilizar baldes, panos úmidos e sprays a seco para a limpeza de pisos e superfícies, em vez de mangueiras ou água corrente;
  • Descongelar alimentos na geladeira, e não sob água corrente.
“Escovar os dentes com a torneira aberta gasta mais água, a cada minuto que a torneira fica aberta, gastamos 12 litros de água”, alerta.

Em situações críticas, pequenas mudanças de rotina fazem a diferença. Reduzir o banho de 15 para 5 minutos, por exemplo, pode economizar até 90 litros de água. "Molhe-se, feche o registro para se ensaboar e depois reabra para enxaguar", sugere o especialista.

2º passo - Uso consciente de eletrodomésticos

A máquina de lavar roupas deve ser usada sempre em ciclos curtos e econômicos. Além disso, é interessante acumular roupas para uma carga completa, o que economizará água e energia elétrica, segundo o especialista. A água do enxágue também pode ser reaproveitada para a lavagem de quintais, garagens e calçadas.

O mesmo vale para a máquina de lavar louça: é mais eficiente acumular utensílios para uma carga completa do que realizar ciclos frequentes.

“Também sugiro não pré-lavar, a maioria das máquinas modernas é eficiente o suficiente para remover resíduos de alimentos sem essa etapa. Apenas raspe o excesso de comida dos pratos antes. Use programas econômicos e faça a manutenção dos filtros para garantir eficiência", destaca Fengler.

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3º passo - Lavar carro não é prioridade

Em relação à limpeza de veículos, o engenheiro é categórico: “Concorda que lavar carros não é uma prioridade? Mas se você realmente precisar, existem algumas opções", disse o engenheiro ambiental, que listou as dicas:

  • Lavagem a seco, com produtos que permitem a remoção com um pano de microfibra sem a necessidade de água;
  • Lavagem com balde, preferível ao uso de mangueira. Reduz drasticamente o consumo de água, podendo atingir até 90% de economia;
  • Redução da frequência, em tempos de crise hídrica, a melhor prática é reduzir a frequência da lavagem do carro.

4º passo - Pequenos reparos e grandes resultados

Vazamentos são um dos principais inimigos do consumo consciente. Um furo de apenas 2 milímetros em um cano pode desperdiçar litros por dia. Trocar torneiras pingando, regular caixas acopladas de descarga e instalar arejadores são medidas baratas e eficazes.

“Uma torneira pingando pode desperdiçar até 40 litros de água por dia. A troca de vedantes ou o reparo da torneira é essencial”, disse.

Mudanças físicas na casa ou no apartamento que economizam

Conforme o especialista, alguns cuidados com a infraestrutura residencial trazem economia a longo prazo. São eles:

  • Instalação de arejadores (aerador nas torneiras): são aquelas "peneirinhas" que são acopladas na saída da torneira. Eles misturam ar à água, dando a sensação de maior vazão enquanto, na verdade, reduzem o consumo em até 50%.
  • Torneiras com temporizador: muito comuns em condomínios, são ideais para áreas comuns, mas também podem ser instaladas em casa. A torneira fecha sozinha após um tempo determinado, evitando desperdício.
  • Reparar vazamentos imediatamente: um buraco de 2 milímetros em um cano pode desperdiçar 3.200 litros de água por dia. Fique atento a sinais como paredes úmidas sem motivo aparente e aumento anormal na conta de água. Fazer manutenção preventiva para verificar a integridade da rede hidráulica, especialmente em imóveis mais antigos. E, em regiões mais frias, fazer o isolamento de tubulações de água quente, o que reduz o tempo necessário para a água aquecer.
  • Troca da caixa de descarga modelo de duplo acionamento: as descargas modernas têm dois botões, um para dejetos líquidos (que usa cerca de 3 litros) e outro para sólidos (usando 6 litros). A economia é enorme comparada às válvulas antigas, que gastam de 10 a 12 litros por acionamento.
  • Reaproveitamento de água da chuva: exige a implantação de sistema para coleta, armazenamento e desinfecção, mas pode permitir economia para lavagens, uso em vaso sanitário, lavagem de roupas. Essa água não pode ser utilizada para consumo humano.

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Como monitorar o gasto de água usando a tecnologia?

Para evitar surpresas na conta, Fengler destaca os avanços em medidores inteligentes e aplicativos de controle. “Os hidrômetros inteligentes permitem monitorar o consumo em tempo real, identificar picos de uso e até detectar vazamentos ocultos. Isso possibilita uma ação corretiva antes da conta vir com valor astronômico”, afirmou.

"Os aplicativos e plataformas de gestão de consumo que podem ser conectados aos hidrômetros inteligentes, permitindo visualizar gráficos de consumo, comparar com metas, receber dicas personalizadas e até mesmo estimar o valor da conta de água", explica.

Também há sensores que emitem alertas via celular quando há desperdícios invisíveis, além de sistemas de captação de água da chuva e reuso, cada vez mais acessíveis para residências e condomínios. "Isso ainda nos ajuda a diminuir nossa dependência da rede pública e nos torna mais resilientes às crises", finaliza.

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