Campos Neto: Brasil não tem taxa de juros "exorbitante", mas é "muito alta"
Presidente do Banco Central participou de audiência pública na Câmara dos Deputados
O presidente do Banco Central (BC), Roberto Campos Neto, disse nesta terça-feira (13) que o Brasil não tem uma taxa de juros "exorbitante", mas ponderou, depois, que é "muito alta". As declarações foram feitas durante participação em audiência pública na Câmara dos Deputados.
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Campos Neto apresentou gráficos com a média da inflação anual e a taxa Selic média anual em quatro períodos: 2000 a 2024, 2010 a 2018, 2014 a 2018 e 2019 a 2024. "A gente teve nos últimos cinco anos, de 2019 a 2024, a menor inflação no período [5,6%], com a menor taxa de juros [8,1%]. Então não é possível afirmar que a gente tem uma taxa de juros exorbitante, apesar de ter uma inflação muito baixa", declarou, ao comentar os dados.
"Na verdade, o que a gente tem hoje, olhando o que aconteceu em termos de história brasileira, é uma taxa Selic menor do que a média, ainda passando por um período de inflação global muito grande", acrescentou.
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Posteriormente, comentando outros gráficos, disse que, no período de 2019 a 2024, o Brasil teve a taxa de juros nominal e a taxa de juros real mais baixas, em comparação com outros cinco períodos (1999-2002, 2003-2006, 2007-2010, 2011-2014 e 2015-2018), sendo de 8,2% e 2,9%, respectivamente.
"Ainda é verdade que as taxas de juros no Brasil são absurdamente altas, isso a gente não discute. O que a gente está querendo mostrar aqui é que, ao longo do tempo, a gente tem sido capaz de trabalhar com taxas de juros mais baixas comparado com outros intervalos na história".
A taxa básica de juros, a Selic, está em 10,5% ao ano. Campos Neto afirmou que a forma com o Banco Central faz política monetária é pensando na chamada taxa de juros neutra. "Aquela que não gera inflação e não gera desinflação. Então quanto mais baixa essa taxa de juros neutra, melhor, porque você pode trabalhar com uma taxa de juros mais baixa sem gerar inflação", explicou.
De acordo com ele, os juros no Brasil são muito altos por diferentes fatores, como a taxa de recuperação de crédito no país, classificada por ele como "muito baixa". Pelos dados apresentados por Campos Neto, ela é de 18,2 centavos por dólar, superando apenas as da Turquia, Burundi, Venezuela, Haiti e Angola. "A gente precisa recuperar melhor os créditos", pontuou.
O presidente do BC disse não ser verdade que juros alto é bom para banco. "Na verdade é ruim para banco. O banco vive hoje uma carteira de crédito que precisa ter securitização, que precisa ter giro, e quando o juros são altos, isso não acontece".
"Freia a economia"
Campos Neto reforçou que "a taxa de juro alta freia a economia". Porém, acrescentou, o Brasil possui uma taxa que as pessoas consideram alta, "mas o crescimento [econômico] tem surpreendido para melhor".
Ele salientou ainda que a população mais pobre é quem paga a conta da inflação, e por isso é preciso tomar cuidado com ela.
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Segundo o presidente do BC, o Comitê de Política Monetária, que define o patamar da Selic, toma sua decisão olhando as expectativas de inflação; o hiato do produto, ou seja, qual a capacidade que o país tem de crescer sem gerar inflação naquele momento; e a inflação corrente, afetada por diversas variáveis, incluindo expectativa de inflação e atividade econômica.
Ele relembrou que o Executivo federal é que define "o mandato da inflação". "O governo decide que a meta é 3% [ao ano], o governo decide a banda, o governo decide que passou a ser contínua, não é um trabalho do BC, o BC é minoria no Conselho Monetário Nacional".
Conforme Campos Neto, há a meta e o Banco Central tem liberdade operacional para atingi-la. "E o que a gente tem feito", afirmou.