Voo da FAB com 228 repatriados vindos do Líbano chega ao Brasil; Lula volta a criticar Israel e Netanyahu
Pedidos de regresso foram feitos após confronto entre Israel e Hezbollah; Lula lamentou conflito no Oriente Médio: "Vamos tentar trazer todos que quiserem vir"
O avião da Força Aérea Brasileira (FAB) enviado para o resgate de brasileiros no Líbano – palco do conflito entre Israel e o grupo Hezbollah – chegou ao Brasil. A aeronave KC-30 pousou na Base Aérea de São Paulo, em Guarulhos, às 10h25 deste domingo (6), sendo o primeiro voo da Operação Raízes do Cedro a regressar ao país.
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Ao todo, 228 brasileiros e três animais foram resgatados neste primeiro voo, com prioridade para idosos, mulheres, crianças, grávidas, doentes e pessoas com deficiência. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) acompanhou a chegada dos repatriados. Depois, falou à imprensa e repetiu críticas a Israel e ao primeiro-ministro Benjamin Netanyahu.
Lula fez agradecimentos à numerosa comunidade libanesa no Brasil. "Vocês ajudaram a construir a cidade de São Paulo, o estado de São Paulo, ajudaram a construir o Brasil. Vocês têm muita responsabilidade por aquilo que nós somos", disse.
Ao citar diretamente a escalada do conflito no Oriente Médio, repetiu críticas à postura de Israel tanto na Faixa de Gaza, na guerra contra o grupo extremista Hamas, quanto em Beirute, nos bombardeios contra Hezbollah.
"Tivemos posição muito dura contra o ato do Hamas de invadir Tel Aviv e nós temos posição muito dura contra o comportamento do governo de Israel matando inocentes, mulheres, crianças, sem nenhum respeito pela vida humana. [Foi] uma forma que Netanyahu encontrou para ficar no poder. É se vingar dos palestinos. E, agora, Beirute", declarou Lula. "Acho que atacar Beirute por conta de um grupo que estava querendo atacar Israel é não levar em conta a necessidade de evitar que o povo seja vítima", continuou.
O chefe do Executivo lamentou a morte de crianças e mulheres nos ataques de Israel ao Líbano. "Normalmente, a vítima não é quem faz guerra, é o povo inocente que não quer guerra. Quando [a gente] não perde a vida, perde escola, hospital, médicos", completou.
O presidente ainda reforçou que "enquanto tiver companheiro, seja brasileiro ou parente, que quiser vir, vamos buscar". "Não deixamos ninguém para trás. Vamos tentar trazer todos aqueles que quiserem vir", concluiu.
O chefe do Executivo estava acompanhado da primeira dama Rosângela da Silva, a Janja, que também falou e fez um apelo aos "homens do mundo". "Por favor, parem de matar nossas mulheres e crianças. Parem com esta guerra. O mundo precisa de paz, não precisamos de bombas e de mais mortes", disse. Rudy El Azzi, cônsul geral do Líbano, e tenente-brigadeiro Marcelo Damasceno, comandante da Aeronáutica, também conversaram com jornalistas.
A previsão é de que novos voos sejam autorizados pelo governo brasileiro nos próximos dias, podendo resgatar até 500 brasileiros por semana. Ao todo, 3 mil dos cerca de 20 mil brasileiros que vivem no Líbano fizeram o pedido de regresso.
"Os voos se assemelham ao perfil dos 13 que foram feitos na Operação Voltando em Paz, realizada em 2023 para resgatar quase 1.600 brasileiros e mais de 50 animais domésticos das zonas de conflito em Israel, na Faixa de Gaza e na Cisjordânia", explicou Marcos Fassarella Olivieri, tenente-coronel aviador da FAB.
O que está acontecendo no Líbano?
O Líbano voltou a ser palco dos confrontos entre Israel e o Hezbollah este ano, quase duas décadas após a última guerra. A tensão começou a aumentar em outubro de 2023, quando Israel iniciou a ofensiva na Faixa de Gaza. Para demonstrar apoio ao Hamas, o grupo começou a disparar projéteis contra Israel, que decidiu responder.
As hostilidades se intensificaram após a explosão de pagers e walkie-talkies usados pelo Hezbollah – em ação atribuída a Israel. Isso fez o grupo lançar novos ataques contra Israel, que está respondendo com uma onda de bombardeios. Ao todo, já foram registradas mais de mil mortos, incluindo sete líderes do Hezbollah.
Nesta semana, Israel iniciou uma ofensiva terrestre no sul do Líbano. Pouco tempo depois, o Hezbollah começou a lançar mísseis contra Israel – a maioria interceptados – e avançar na fronteira com a ajuda de artilharia. O Irã, que apoia o grupo extremista, também entrou no conflito, lançando cerca de 180 mísseis em direção a Tel Aviv.
Temor de escalada
O temor é que a escalada dos conflitos provoque uma nova guerra no Oriente Médio. O cenário, segundo a Organização das Nações Unidas (ONU), poderia resultar em um número catastrófico de mortos, além do aumento de refugiados na região.
Na última semana, os Estados Unidos, ao lado de aliados, lançaram um apelo de cessar-fogo de 21 dias entre Israel e o Hezbollah, pedindo uma rodada de negociações para acabar com os conflitos. O apelo, contudo, foi rejeitado por Israel, que disse que continuará os ataques até que o grupo pare de lançar foguetes contra o país.