Transplantados com HIV: Polícia do RJ prende suspeita de dar ordem para economizar em testes
Adriana Vargas dos Anjos, coordenadora técnica do PCS Lab Saleme, foi citada em depoimentos como responsável por mudanças no controle de qualidade
A Polícia Civil do Rio de Janeiro prendeu, na manhã deste domingo (20), Adriana Vargas dos Anjos, coordenadora técnica do PCS Lab Saleme e investigada por ser a responsável pelo controle de qualidade dos exames que resultaram na contaminação por HIV de pelo menos seis pacientes transplantados.
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Ela foi detida por agentes da Delegacia do Consumidor (Decon), com o apoio do Departamento-Geral de Polícia Especializada (DGPE), em Belford Roxo, na Baixada Fluminense, na segunda fase da Operação Verum. Na primeira fase, foram presas quatro pessoas suspeitas de envolvimento na emissão dos laudos falsos. Neste domingo, além da prisão de Adriana, são cumpridos oito mandados de busca e apreensão.
A coordenadora do PCS Lab Saleme foi citada, em mais de um depoimento, como responsável pela orientação de que os reagentes usados nos exames fossem trocados apenas semanalmente, e não diariamente, como era o procedimento padrão, para reduzir custos.
Em depoimento, na segunda-feira (14), o técnico Ivanilson Fernandes dos Santos afirmou que a ordem dada por Adriana era de "economizar porque estava tendo muitos gastos". O biólogo do laboratório, Cleber de Oliveira dos Santos, que foi preso na última quarta-feira (16), afirmou que foi substituído no cargo de coordenador no dia 20 de janeiro deste ano. Três dias depois, a coleta de uma amostra de sangue de um doador de órgãos resultou no primeiro laudo negativo para HIV.
Segundo as investigações, houve uma falha operacional no controle de qualidade aplicado nos testes, com o objetivo de diminuir custos. A análise das amostras deixou de ser realizada diariamente e se tornou semanal. Na quinta-feira (17), ao prestar depoimento à Polícia, Adriana negou qualquer alteração ordenada por ela.
Órgãos infectados com HIV
Seis pacientes que foram transplantados no Rio de Janeiro testaram positivo para HIV após receberem órgãos contaminados com o vírus. O caso é inédito na história dos transplantes no Brasil.
O caso foi descoberto após um paciente, que recebeu um coração, começar a passar mal cerca de 9 meses após o transplante. Após uma série de exames, ele testou positivo para HIV. A notificação foi feita no dia 10 de setembro.
A Secretaria Estadual de Saúde descobriu, então, que pelo menos dois doadores eram soropositivos, mas o exame feito pelo PCS Lab Saleme – empresa privada que presta serviços para a SES-RJ – não detectou o vírus e liberou os órgãos para os transplantes.
Até o momento, seis pacientes transplantados foram diagnosticados com HIV. Outros 288 doadores estão sendo testados pelo Hemorio, o hemocentro do Rio de Janeiro.
O PCS Lab Saleme foi contratado pelo governo do estado em dezembro de 2023, em um processo de licitação de R$ 11 milhões. Segundo a SES, o serviço foi suspenso após a descoberta dos pacientes infectados e, com isso, os exames para transplantes passaram a ser realizados pelo Hemorio.