Infecções por HIV: Funcionária presa revela que laboratório foi avisado dias antes sobre fiscalização
Jaqueline Bacellar de Assis afirmou em depoimento que o dono do laboratório, Walter Vieira, manipulava os resultados dos laudos
A auxiliar administrativa presa por envolvimento no escândalo dos erros em exames de doadores de órgãos no Rio de Janeiro revelou que a equipe do laboratório havia sido informada previamente sobre uma fiscalização da Vigilância Sanitária.
Enquanto a polícia investiga o caso, as vítimas infectadas por HIV após transplantes tentam retomar suas vidas. Nossa equipe conversou com familiares de uma das vítimas.
O filho de um idoso, de 75 anos, que recebeu um fígado contaminado com o vírus, falou sobre o impacto do erro na vida de sua família. Preferindo manter a identidade em sigilo, ele relatou as dificuldades que seu pai, ainda debilitado, enfrenta. "Ele já vinha de um tratamento do transplante de fígado, né? Então, é mais um médico, mais visitas, mais medicamentos... muito difícil", disse o filho, visivelmente abalado.
O idoso esperou por dois meses na fila de transplante e recebeu o fígado em maio, em um hospital particular. Ele voltou para casa se sentindo bem, mas, um mês depois, começou a passar mal. A família descobriu que ele havia sido infectado pelo HIV somente em outubro, após o homem realizar um exame solicitado pela equipe que fez o transplante,
Além dele, outras cinco pessoas também foram infectadas após receberem órgãos. O laboratório PCS Lab Saleme, responsável pelos exames dos doadores, está no centro das investigações.
Uma das funcionárias presas, Jaqueline Bacellar de Assis, afirmou em depoimento que o dono do laboratório, Walter Vieira, manipulava os resultados dos laudos. Em mensagens apresentadas à polícia, Walter disse a auxiliar administrativa que alteraria a taxa de colesterol de um hemograma porque "estava muito baixa".
Jaqueline também revelou que, em janeiro, Walter orientou a troca dos reagentes usados nos exames apenas uma vez por semana, em uma tentativa de "economizar custos". No entanto, quando soube que a Vigilância Sanitária faria uma inspeção em outubro, ele deu novas instruções para que o controle voltasse a ser feito diariamente.
A suspeita ainda apresentou à polícia conversas em que Ariel Santos, supervisora do laboratório, alertava os funcionários sobre a fiscalização. Ariel prestou depoimento como testemunha e afirmou que não houve qualquer contato prévio entre os fiscais e o laboratório.
O laboratório, por sua vez, alega que houve "falha humana" nos testes de HIV e se colocou à disposição das autoridades. O dono do PCS Lab Saleme e três funcionários investigados tiveram a prisão temporária prorrogada.
"Como ele fez transplante num hospital particular, nunca imaginamos que algo assim pudesse acontecer, com empresas envolvidas nesse tipo de esquema", desabafou o filho do paciente infectado. "Agora, é o momento de responsabilizar os envolvidos, com certeza."