Polícia do Rio investiga erros em exames que causaram infecção por HIV em pacientes transplantados
Investigados no caso prestaram depoimento nesta quinta-feira (17)
A Polícia Civil do Rio de Janeiro ouviu três novos depoimentos nesta terça-feira (17) sobre os erros em exames laboratoriais que resultaram na infecção por HIV de seis pacientes transplantados. O caso, descoberto em 10 de setembro, segue em investigação, enquanto o laboratório envolvido ainda recebia pagamentos do governo estadual até o dia 1º de outubro.
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Depoimentos na delegacia
O primeiro depoimento foi de Ariel Santos, supervisora do laboratório PCS Lab Saleme, mencionada por um dos presos como autorizada a assinar laudos. Logo após, Matheus Vieira, sócio e responsável pelo banco de dados da empresa, também prestou seu segundo depoimento de forma espontânea.
O depoimento mais aguardado foi o de Adriana Vargas dos Anjos, coordenadora da unidade e investigada por ser a responsável pelo controle de qualidade dos exames. Segundo Ivanilson Fernandes dos Santos, um técnico preso no caso, Adriana teria orientado que os reagentes usados nos exames fossem trocados apenas semanalmente, e não diariamente, como era o procedimento padrão, para reduzir custos.
Ao deixar a delegacia, o advogado de Adriana negou qualquer alteração ordenada por sua cliente.
Irregularidades no laboratório
Outro técnico do laboratório, Cleber de Oliveira dos Santos, que foi preso na última quarta-feira (16), afirmou em depoimento que foi substituído no cargo de coordenador por Adriana no dia 20 de janeiro deste ano. Três dias depois, a coleta de uma amostra de sangue de um doador de órgãos resultou no primeiro laudo negativo para HIV.
Além da investigação sobre os erros nos exames que causaram a contaminação dos pacientes transplantados, a polícia abriu um segundo inquérito para apurar os processos de contratação do laboratório PCS Lab Saleme. Mesmo após a descoberta das falhas, o laboratório continuou recebendo do governo estadual cerca de R$ 857 mil entre os dias 18 de setembro e 1º de outubro. Segundo a Secretaria de Saúde, esses valores correspondem a despesas referentes ao mês de junho, faturadas antes da abertura da sindicância.
Consequências e desdobramentos
O dono do laboratório e três funcionários estão presos e são investigados por crimes contra as relações de consumo, associação criminosa, falsidade ideológica, falsificação de documentos e infração sanitária. Após o escândalo, três novos laboratórios assumiram os exames da rede pública estadual, restringindo os atendimentos a casos de emergência.
Entretanto, os problemas ainda afetam os pacientes. Uma aposentada que foi ao Instituto Estadual de Diabetes e Endocrinologia Luiz Capriglione relatou que voltou para casa sem conseguir realizar o exame de sangue.
"Eu vim aqui hoje tirar sangue, mas o laboratório não está funcionando. Vou fazer particular", disse Maria Lúcia Ferro, indignada com a situação.