Quem é Tallis Gomes, empresário que disse "Deus me livre de mulher CEO"
Antes da fala contra mulheres, homem relatou publicamente que não contrata trabalhadores "esquerdistas" e que impõe uma jornada de 80h semanais aos funcionários
O empresário Tallis Gomes, de 37 anos, que atacou nesta semana mulheres em cargos de comando, tem histórico de declarações que afrontam a legislação trabalhista brasileira. Uma das empresas de Tallis foi denunciada por funcionários ao Ministério Público do Trabalho por assédio moral e jornada exaustiva.
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Em publicação no Instagram na quarta-feira (18) à noite, Tallis Gomes escreveu que mulher no cargo de CEO, ou seja, presidente de empresa, passa por uma "masculinização".
“Deus me livre de mulher CEO. Salvo raras exceções, (eu particularmente só conheço 2), essa mulher vai passar por um processo de masculinização que invariavelmente vai colocar meu lar em quarto plano, eu em terceiro plano e os meus filhos em segundo plano", disse o homem nas redes sociais.
Na sequência, defendeu "papéis tradicionais de gênero". “Homem que tem condição de bancar a sua mulher e não o faz está perdendo o maior benefício de uma mulher, que é o uso da energia feminina nos lugares certos, lar e família.”
Carga horária semanal de 80h
Antes da recente declaração sobre mulheres em cargo de comando, Tallis, em agosto, afirmou que não contrata "esquerdista". A um podcast, ele disse: "Eu não contrato esquerdista, isso é a base da nossa cultura. Esquerdista é mimizento não trabalha duro e fica com essa coisa de que o mundo deve alguma coisa para ele."
A legislação trabalhista brasileira proíbe a discriminação no ambiente de trabalho, tanto para contratação quanto para a manutenção do funcionário.
Na mesma entrevista, Tallis Gomes afirmou que os funcionários dele trabalham 80h por semana. "Ontem estava todo mundo trabalhando até 1h da manhã, e 8h da manhã [do outro dia] o escritório estava cheio".
A jornada de trabalho brasileira tem limitação de até 8 horas diárias e 44 horas semanais para trabalhadores contratados pela CLT. Uma das empresas de Tallis Gomes, a G4 Educação, enfrenta uma série de denúncias do MPT (Ministério Público do Trabalho) sobre relatos de assédio moral e jornada exaustiva. As denúncias são separadas por temas dentro do MPT, em processos distintos.
Além da G4, o empresário é criador da Easy Taxi e do aplicativo de beleza Singu.
Palestra cancelada
A declaração sexista de Tallis motivou críticas e culminou com o cancelamento de uma palestra que ele daria na quinta-feira (19). O Instituto Caldeira, em Porto Alegre (RS), onde a palestra aconteceria, afirmou que o cancelamento ocorreu "em função das recentes circunstâncias" e lamentou profundamente o ocorrido.
Empresárias reagem
Empresárias de sucesso se manifestaram contra Tallis.
A cofundadora do Instituto de Tecnologia e Liderança (Inteli), Ana Beatriz Gomes, disse no Linkedin: “Deus me livre é trabalhar com um CEO que pensa isso!”.
Luiza Trajano, que atuou como CEO da rede de lojas Magazine Luiza e atualmente preside o Conselho de Administração da empresa, postou no Linkedin que não concorda com o posicionamento Tallis.
Depois da repercussão negativa Tallis pediu desculpas. "Muitas mulheres se sentiram machucadas pelas minhas palavras, e eu estou profundamente chateado por ter magoado essas pessoas", afirmou.