Eleições SP: Ajustes nas estratégias dos candidatos marcam debate do SBT
Discursos passam a se organizar ao redor dos dois mais bem colocados nas pesquisas: Nunes e Boulos. Isolado, Marçal testa versão 'moderada'
O debate do SBT com candidatos à Prefeitura de São Paulo, nesta sexta-feira (20), foi marcado por ajustes nas estratégias das campanhas. A mais escancarada delas foi a mudança na postura de Pablo Marçal (PRTB), que disse que o eleitor viu nos encontros anteriores sua "pior versão" e que, agora, "vai ver alguém que tem postura de governante".
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Um integrante da campanha do ex-coach afirmou que a "versão mais moderada" não está relacionada às últimas pesquisas, que mostram um distanciamento de Marçal dos dois primeiros colocados – Ricardo Nunes (MDB) e Guilherme Boulos (PSOL). A estratégia, segundo o membro da equipe do ex-coach, sempre foi ser "uma pessoa diferente" em cada debate, para "desmascarar os adversários". Agora, "ele está mostrando quem ele é", disse.
Mas essa não foi a única mudança vista no debate do SBT. Nos bastidores, também chamou atenção a diferença no visual de Tabata Amaral (PSB) – que, pela primeira vez desde o início dos embates, vestia preto. O SBT News questionou a deputada federal sobre a mudança de estilo e se ela estava associada a uma tentativa de parecer mais sóbria. Segundo Tabata, a roupa preta é "uma continuidade do que já estavam fazendo", como nos vídeos em que atacou Marçal – quando vestiu uma jaqueta de couro preta. "Foi instinto", disse Tabata.
O encontro também foi marcado por um certo alinhamento de discurso entre os candidatos que representam cada polo político. José Luiz Datena (PSDB), Tabata e Boulos fizeram dobradinhas, enquanto Nunes foi convidado por Marina Helena (Novo) para falar mal do PSOL e acabou até mesmo elogiado por Marçal. Nos bastidores, o alinhamento Marina-Marçal se refletia em conversas entre assessoras dos dois candidatos dentro do estúdio, atrás das câmeras.
A certa altura do debate, Tabata deixou registrado o estranhamento diante de tanta gentileza entre candidatos que antes se atacavam. Falou que parecia um "joguinho combinado". A própria Tabata, porém, acabou participando de conversas amenas com Boulos e Datena diante das câmeras.
O candidato do PSOL fez sua primeira pergunta para Datena, sobre violência contra mulher – ele poderia ter escolhido Nunes para responder, mas preferiu o tucano. No terceiro bloco, Boulos questionou Tabata sobre saúde mental – tema caro para a deputada e que pareceu até um aceno de Boulos para angariar apoio dela em um eventual 2º turno. O tucano e a candidata do PSB também discutiram sobre saúde pública, com direito a um elogio dele para a adversária: "Acho ótimo a sua ideia", disse.
Ao escolher o atual prefeito para responder à sua pergunta, Marina Helena criticou gestões do PSOL por fazerem "cabides de emprego", dando a oportunidade para que Nunes criticasse o partido do principal adversário dele segundo as últimas pesquisas. "O PSOL tem muito disso mesmo", afirmou o político do MDB.
Marçal, que até então era um crítico feroz a todos os candidatos, soltou um elogio a Nunes ao comentar o enfrentamento da Prefeitura à má qualidade do ar. Essa atitude se junta a uma outra, que ainda não tinha sido vista nos debates anteriores: mais de um candidato fazendo acenos ao adversário, expressando concordâncias com propostas e até mesmo alinhamento nas críticas.
Dentro dessa dinâmica, a discussão acabou polarizada entre os dois candidatos mais bem posicionados nas pesquisas de intenção de voto. Boulos pareceu antecipar um possível confronto no 2º turno. Mesmo quando a dinâmica do debate o fazia perguntar e interagir com outros candidatos, teve como alvo de suas críticas a gestão de Nunes à frente da Prefeitura.
Nunes tentou defender sua gestão e, disputando votos bolsonaristas com Marçal, citou Deus, igreja e até o Papa em pelo menos três momentos, o que pode sinalizar uma tentativa do emedebista de ser visto pelo eleitor como um candidato religioso. O prefeito buscou se diferenciar do adversário, que desde o 7 de setembro está sendo alvo de lideranças evangélicas, como o pastor Silas Malafaia.