Ex-prefeito de Duque de Caxias é alvo da PF em operação contra esquema de fraude em cartão de vacina de Bolsonaro
Polícia foi até a casa de Washington Reis; 1ª fase da operação prendeu Mauro Cid, ex-ajudante de ordens de Jair Bolsonaro
A Polícia Federal realiza, nesta quinta-feira (4), a segunda fase da Operação Venire, que apura a existência de associação criminosa responsável por inserir dados falsos de vacinação contra a covid-19 em sistemas do Ministério da Saúde.
O ex-prefeito da cidade de Duque de Caxias (RJ), Washington Reis (MDB), é um dos alvos da operação, que apura um esquema de fraude no cartão de vacinação do ex-presidente Jair Bolsonaro. Atualmente, Reis é secretário estadual de de Transporte e Mobilidade Urbana na gestão do governador Cláudio Castro (PL).
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Estão sendo cumpridos mandados de busca e apreensão contra agentes públicos vinculados ao município da Baixada Fluminense, que seriam responsáveis por viabilizar a falsificação no Sistema de Informação do Programa Nacional de Imunizações (SI-PNI) e na Rede Nacional de Dados em Saúde (RNDS).
Os mandados, emitidos pelo Supremo Tribunal Federal, a pedido da Procuradoria-Geral da República, são cumpridos nas cidades do Rio de Janeiro e em Duque de Caxias.
A ação tem como objetivo, ainda, buscar a identificação de novos beneficiários do esquema fraudulento. Na primeira fase da operação, deflagrada em maio de 2023, Mauro Cid, ex-ajudante de ordens de Jair Bolsonaro (PL), foi preso. A casa do ex-presidente também foi alvo de mandado de busca e apreensão na época.
Nas redes socais, Washington Reis se manifestou e falou sobre "covardias" em ano de eleições e negou irregularidades com a vacinação contra a covid-19 no município. Veja a publicação:
Em nota, a prefeitura de Duque de Caxias disse que a segunda fase da operação Venire "não teve como alvo nenhum órgão vinculado à municipalidade". E, com relação aos mandados dirigidos a pessoas físicas, a Prefeitura não se manifestará considerando o sigilo que recobre os atos nesta manhã realizados.
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Cartões de vacina fraudados
Segundo a Polícia Federal, as inserções de dados falsos nos sistemas do Ministério da Saúde ocorreram entre novembro de 2021 e dezembro de 2022 e possibilitavam a condição de imunizado contra a covid-19 dos beneficiários do esquema para burlar restrições sanitárias vigentes no país e nos Estados Unidos.
Jair Bolsonaro, a ex-primeira-dama Michelle, a filha Laura, Mauro Cid e família tiveram seus cartões de vacinas adulterados para viajarem aos Estados Unidos. Eles sustentavam um discurso de ataques à vacinação contra a covid-19.
O esquema passava pelo lançamento de vacinação em uma cidade de Goiás e registro no sistema federal via prefeitura de Duque de Caxias, reduto de aliados de Bolsonaro.
O secretário de Governo da prefeitura, João Carlos de Sousa Brecha, que ocupava a pasta desde a gestão do ex-prefeito Washington Reis (MDB), inseria falsos comprovantes de vacinação para emissão posterior dos certificados de vacinação, a serem apresentados nos aeroportos. Brecha também foi preso na Operação Venire.
Indiciamento
Bolsonaro foi indiciado em março deste ano por fraudes em cartões de vacinação contra a covid-19. O inquérito, fruto da Operação Venire, também engloba o tenente-coronel Mauro Cid e outras 15 pessoas. Todos são acusados de associação criminosa e inserção de dados falsos em sistema de informação.
No entanto, a Procuradoria-Geral da República (PGR) pediu mais diligências e elementos de investigação e o inquérito foi devolvido à PF. Há expectativa de que a PF entregue novo relatório nesta quinta (4).
Esquema de falsificação
Segundo a Polícia Federal, em documento que embasou o indiciamento de Bolsonaro e mais 16 pessoas, a falsificação do certificado de vacinação funcionava assim:
- pessoa que queria se beneficiar com um certificado de vacinação ideologicamente falso solicitava ao ex-ajudante de ordens, Mauro Cid;
- Cid encaminhava o pedido de inserção dos dados falsos para Ailton Gonçalves Barros, colega de turma da Academia Militar das Agulhas Negras (Aman) e da Artilharia da Brigada Paraquedista;
- Barros encaminhava os dados do beneficiário e o pedido para o secretário de Governo de Duque de Caxias (RJ), João Carlos de Sousa Brecha;
- por fim, Brecha, mediante suas credenciais de acesso, executava a inserção dos dados falsos no sistema SI-PNI do Ministério da Saúde.