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PCC no Guarujá: criminoso fez 'curso' no Rio com ajuda da Prefeitura para importar milícia no litoral, diz PM; entenda o esquema

Grupo comandado por membro da facção colocava medo em comerciantes e cobrava pela "segurança". Organização envolvia assassinatos de PMs

PCC no Guarujá: criminoso fez 'curso' no Rio com ajuda da Prefeitura para importar milícia no litoral, diz PM; entenda o esquema
Sigla do Primeiro Comando da Capital | Reprodução/EBC
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Para a Polícia Civil e o Ministério Público de São Paulo, a cidade do Guarujá está "sequestrada" sob o domínio da organização criminosa Primeiro Comando da Capital (PCC), que instalou milícias financiadas via licitações milionárias, corrompendo agentes públicos no município da Baixada Santista.

O SBT News teve acesso à investigação de mais de 1300 páginas que detalha o passo a passo da facção, que utilizou a influência política, impôs o medo na sociedade e assassinou policiais para se estruturar no litoral paulista.

Curso do crime

Segundo relatório do Centro de Inteligência da Polícia Militar (CIPM), que abriu o inquérito policial após ser analisado e aceito pelo MPSP, o criminoso Cristiano Lopes Costa, conhecido pelo apelido "Meia Folha", braço direito de lideranças do PCC na Baixada, foi ao Rio de Janeiro, em 2022, para aprender o "funcionamento das milícias cariocas e introduzir a prática nos territórios sob sua influência", no Guarujá.

Cristiano Lopes Costa, conhecido como Meia Folha | Polícia Civil/SBT
Cristiano Lopes Costa, conhecido como Meia Folha | Polícia Civil/SBT

No entanto, para viabilizar a criação da milícia na cidade, Meia Folha teria feito um acordo com o atual prefeito do Guarujá, Válter Suman (PSDB), e o ex-presidente da Câmara Municipal, José Nilton Doidão, em que ocorreria o "repasse de verbas públicas e licitações", financiando a facção, segundo a PM.

A investigação aponta que ao menos oito licitações fraudulentas teriam sido vencidas por empresas do PCC com apoio de políticos, sendo mais de R$ 81 milhões para os cofres da facção.

"Segurança" ou ameaça

Sigla do Primeiro Comando da Capital | Reprodução/EBC
Sigla do Primeiro Comando da Capital | Reprodução/EBC

Após voltar do Rio de Janeiro e com os recursos para o início da milícia, Meia Folha recrutou criminosos com o objetivo de formar uma quadrilha com foco em homicídios contra policiais em atividade e, principalmente, contra os aposentados que prestavam serviço de segurança privada. Com isso, o integrante do PCC passou a "garantir" a segurança da população mediante ameaças.

"A partir daquele momento, seria cobrado um valor pela segurança da região e que não aceitaria mais que policiais realizassem segurança na sua área", explica o relatório de inteligência da PM sobre a atuação do Meia Folha.

Em um dos exemplos de violência, Meia Folha determinou que 30 pessoas de uma favela local fossem trabalhar em um mercado na região, mas o proprietário do comércio argumentou que não tinha condições financeiras.

Como a imposição não foi cumprida, o dono do estabelecimento passou a ser ameaçado e contratou um segurança particular.

De acordo com a PM, no dia 21 de janeiro de 2022, cinco homens assassinaram o agente, como "um aviso para os comerciantes". Em seguida, o proprietário foi obrigado a realizar um novo acordo com Meia Folha.

Morte dos policiais

Policial militar utiliza câmera corporal em SP | Rovena Rosa/Agência Brasil
Policial militar utiliza câmera corporal em SP | Rovena Rosa/Agência Brasil

Em 2022, seis policiais militares morreram na região, sendo cinco inativos, além de outras 12 vítimas de tentativa de homicídio. De acordo com o Centro de Inteligência da PM, de outros seis assassinatos de policiais registrados no primeiro semestre de 2023, cinco contaram com indícios da atuação da milícia de Meia Folha. No período, mais nove militares sofreram tentativas de assassinato.

Casos em 2023

  • No dia 19 de maio, o subtenente Nelson da Silva, inativo desde 2009, foi vítima de homicídio em serviço de segurança privada, onde atuava há dez anos.
  • Com Nelson, estava o sargento Clóvis Oliveira Barbosa, inativo desde 2019, assassinado ao parar para conversar com o colega após término de um serviço como mototáxi.
  • Em 25 de maio, o sargento inativo Alexandre de Moura estava em uma moto e morreu ao ser abordado por dois homens.
  • No dia 6 de junho, o sargento Sérgio Pereira foi vítima de homicídio por dois homens enquanto arrumava a banca de frutas e verduras da família.
  • No mesmo dia, em julho, o sargento inativo Marcos Rogério Martins foi vítima de um latrocínio após sair de uma agência bancária. Ele realizava transportes de valores.
Policiais mortos com possível participação da milícia de Meia Folha | Reprodução, Polícia Civil e PM
Policiais mortos com possível participação da milícia de Meia Folha | Reprodução, Polícia Civil e PM

Por que o Guarujá?

Praia das Pitangueiras no Guarujá | Reprodução/Prefeitura
Praia das Pitangueiras no Guarujá | Reprodução/Prefeitura

De acordo com o relatório de inteligência da Policia Militar, a Baixada Santista tem situação geográfica privilegiada, em distância próxima a capital paulista, ao principal porto da América Latina, ao Porto de Santos e ao Centro Industrial de Cubatão, o "que torna a região atrativa para diferentes atividades econômicas, lícitas e ilícitas".

Na visão da PM, desde a década de 2010, o PCC mudou o próprio comportamento para alcançar lucro máximo, priorizando o tráfico de drogas em larga escala no país, América Latina e Europa e, recentemente, para nações do continente africano.

A PM aponta que as favelas da Baixada Santista caracterizam-se, majoritariamente, pela localização em morros, como também em áreas alagadiças, como os mangues, em palafitas, o que as "tornam de difícil acesso, consequentemente de fácil refúgio, condições ideais para a prática de atividades ilícitas encobertas e esconderijos".

O que dizem os citados

Em nota, a Prefeitura do Guarujá repudiou "todos ataques direcionados à instituição e ao chefe do executivo", afirmou que não pode romper os contratos vigentes no último ano do mandato e disse que está à disposição da Justiça".

Veja a resposta na íntegra:

"A Prefeitura de Guarujá repudia todos os ataques direcionados à esta instituição e também ao chefe do Executivo, que, de forma deturpada, fazem relação com uma investigação policial.

Infelizmente, nesta reta final do período eleitoral, em que faltam pouco menos de duas semanas para a escolha do novo gestor da Cidade para os próximos quatro anos, queiram criar alarmismo e, principalmente, confundir o eleitor neste momento tão importante da democracia, no qual está em jogo o futuro de Guarujá.

É preciso deixar claro que, dentro da esfera administrativa, empresas vencedoras de processos licitatórios no Município devem, obrigatoriamente, apresentar um rol de documentos, sempre relacionados ao seu CNPJ, no sentido de comprovar a regularidade perante os órgãos competentes.

No entanto, análises referentes à pessoa física (CPF) de seus responsáveis não constam dentre as exigências legais, exceto no que se refere a grau de parentesco com servidores municipais ou detentores de mandato eletivos no Município, o que é vedado por lei e precisa ser informado pelos cidadãos cujas empresas vencem um certame, em forma de declaração assinada.

A Administração Municipal não pode – no último ano de mandato do atual gestor – romper contratos que culminariam com a interrupção de serviços, prejudicando assim toda uma população. Isso sem contar as famílias que dependem de seus empregos.

Desta forma, priorizando pela transparência, a Prefeitura de Guarujá e o chefe do Executivo seguem amparados no que determina a lei, seguindo todos os ritos estabelecidos, garantindo serviços importantes. Além disso, se mantém à disposição para colaborar com a Justiça no que for necessário".

Ao SBT, Válter Suman afirmou que acredita ser vítima de perseguição politica

“Mais uma vez tentam manchar a minha gestão. Insistem em me atacar, mesmo não sendo candidato ao pleito que se aproxima, o que demonstra uma verdadeira manobra para ludibriar a população. Sou médico há quase 40 anos, com 25 deles dedicados em cuidar de milhares de vidas. Fui vereador por dois mandatos. Tive uma reeleição histórica para prefeito, com 75% dos votos válidos. E vou continuar trabalhando até o dia 31 de dezembro, concluindo 8 anos à frente do Executivo. No entanto, penso que o motivo para esses ataques seja a minha história de vida, minha trajetória política, e principalmente, o trabalho tão significativo que desenvolvemos em prol desta Cidade desde 2017 e que falam por si. Deixaremos um importante legado. Afinal, o trabalho é a melhor resposta. E mesmo diante de tantas leviandades, sigo firme, resiliente, preparado, me defendendo, acreditando na Justiça, e acima de tudo, com muita fé em Deus, sempre ao lado da minha família", conclui o prefeito de Guarujá, Válter Suman.

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