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Veja o que pode explicar o sobrenome Silva ser o mais usado no Brasil

Historiador sustenta que processo de escravidão no Brasil foi crucial para popularização da identidade; 16% dos brasileiros têm Silva no nome

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Exposição 130 anos da Abolição da Escravatura apresenta os documentos originais da Lei Áurea e da Lei do Ventre | Reprodução/AgênciaBrasil
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O Instituto Brasileiro de Geografia e Pesquisa (IBGE) divulgou nesta terça-feira (4), pela primeira vez na série histórica, os sobrenomes mais usados no Brasil. Isolado, o Silva aparece em primeiro lugar.

🔍 Cerca de 34.030.104 pessoas têm o sobrenome Silva, sendo 16,76% da população brasileira.

Em um país diverso e miscigenado, fatores históricos ajudam a explicar a popularidade do sobrenome. Entre eles, o legado da escravidão e suas consequências na formação social do Brasil.

O tráfico de pessoas negras começou no século 17 e durou, pelo menos de forma oficial, até 1888, quando foi assinada a Lei Áurea.

Não há um número concreto devido à subnotificação e mortes não registradas. Ainda assim, estima-se que cerca de 5 milhões de africanos tenham sido trazidos ao país, o que representa 40% do total de escravizados nas Américas.

Durante o período colonial, o Estado não reconhecia os nomes africanos das pessoas escravizadas, que eram tratadas como propriedade.

Como resultado, muitos receberam sobrenomes portugueses, especialmente “Silva”, como forma de controle e poder social.

Segundo, em alguns poucos casos, algumas pessoas obtiveram a alforria — documento que atestava a liberdade de pessoas escravizadas — adquiriram o sobrenome Silva, mesmo sem ser sua vontade.

“Isso reforçava um ambiente mental de dominação e a persistência da história escravista”, explica Pedro Issa, professor de História do Mackenzie Tamboré. Assim, o sobrenome Silva se espalhou e foi transmitido por gerações, sendo parte da identidade nacional.

O racismo na história do Brasil

O contexto do sobrenome Silva serve como exemplo para entender a influência da escravidão no processo de desenvolviemnto do Brasil.

O livro “Racismo Brasileiro: Uma História da Formação do País”, de Ynaê Lopes dos Santos, mostra que o racismo é um elemento central na história do Brasil, moldando sua formação política, social e econômica.

Ynaê Lopes mostra que não é possível compreender a história brasileira sem levar em consideração o racismo, que é apresentado no livro como fio condutor que organiza a sociedade.

Portanto, a imposição do sobrenome Silva pela sociedade colonial, juntamente com a proibição de uso dos nomes de batismo, evidencia de que maneira a subversão da identidade por parte das pessoas escravizadas se relaciona ao racismo no Brasil.

O livro analisa o racismo não apenas como um fenômeno individual, mas como um sistema de poder histórico, que se transforma, mas que se perpetua na marginalização de populações não brancas em espaços de privilégio, prestígio e poder.

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Racismo

A escravidão no Brasil foi um sistema social e econômico baseado na exploração da mão de obra de africanos escravizados e seus descendentes, de acordo com o livro “Racismo Brasileiro: Uma História da Formação do País”.

O Brasil foi o destino final de quase 5 milhões de africanos trazidos à força, sendo o maior receptor de pessoas escravizadas das Américas. Esse regime sustentou a economia colonial e imperial, principalmente nos ciclos da cana-de-açúcar e do café.

Os indivíduos escravizados eram tratados como propriedade, submetidos a trabalho forçado, crueldade e negação de sua humanidade. A resistência era uma constante, manifestada através de fugas e da formação de quilombos, como Palmares.

A primeira revolução industrial, somada à pressão interna e externa, junto à luta incessante dos próprios escravizados, forçou o Império a um processo gradual de abolição.

Contudo, a liberdade não veio acompanhada de integração. Sem apoio estatal (terra, educação ou trabalho), a população liberta foi abandonada à própria sorte, o que perpetuou a desigualdade racial e social que é visível na estrutura da sociedade brasileira contemporânea.

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Os sobrenomes mais usados

Além do Silva, os dados do IBGE mostram Santos e Oliveira como os mais populares.

“Santos e Oliveira são nomes associados a cristãos-novos, isto é, judeus que se converteram (pelo menos em suas práticas públicas) ao cristianismo após a proibição do judaísmo em Portugal. Esses nomes aparecem em dicionários de judeus sefarditas (originários da Península Ibérica) e sua presença é associada especialmente ao Brasil”, diz o professor Pedro Issa.

"Esses nomes são um testemunho de aspectos fundamentais da história luso-brasileira: o antissemitismo, o catolicismo pujante e a imigração. Tudo isso reforça o peso e a persistência da presença portuguesa no Brasil e no desenrolar de sua história", completa.

Confira os 30 sobrenomes mais usados:

  • Silva: 34.030.104
  • Santos: 21.367.475
  • Oliveira: 11.708.947
  • Souza: 9.197.158
  • Pereira: 6.888.212
  • Ferreira: 6.226.228
  • Lima: 6.094.630
  • Alves: 5.756.825
  • Rodrigues: 5.428.540
  • Costa: 4.861.083
  • Sousa: 4.797.390
  • Gomes: 4.046.634
  • Nascimento: 3.609.232
  • Araujo: 3.460.940
  • Ribeiro: 3.127.425
  • Almeida: 3.069.183
  • Jesus: 2.859.490
  • Barbosa: 2.738.119
  • Soares: 2.615.284
  • Carvalho: 2.599.978
  • Martins: 2.576.764
  • Lopes: 2.337.914
  • Vieira: 2.102.389
  • Rocha: 2.044.495
  • Dias: 2.035.387
  • Gonçalves: 2.028.298
  • Fernandes: 1.835.974
  • Santana: 1.815.982
  • Andrade: 1.707.452
  • Batista: 1.703.130

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