Hospital em SP cancela cirurgia horas antes de procedimento por falta de pinça
Paciente com endometriose esperou dois anos pelo procedimento; após reportagem do SBT, procedimento foi marcado
Fernanda Trigueiro
Karen Aparecida Serafim, de 36 anos, esperou dois anos por uma cirurgia de endometriose. Tudo estava pronto: exames feitos, internação confirmada. No entanto, na última hora, o hospital cancelou o procedimento por falta de um instrumento cirúrgico: uma pinça específica.
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Segundo a Associação Brasileira de Endometriose, cerca de 6 milhões de mulheres no Brasil convivem com a doença. Com o tratamento adequado, é possível ter uma vida normal — e é isso que Karen deseja.
“Eu me sinto um lixo, de verdade. Me sinto incapaz, impotente, desolada. A gente que é pobre, que depende do SUS, precisa planejar tudo. Tenho um filho pequeno, tem logística, custos financeiros e emocionais. Quem arca com isso?”, desabafa a autônoma.
Remédios para dor e falta de pinça
Há um ano, Karen vive sob efeito de medicamentos para suportar as dores intensas e constantes causadas pela endometriose. “Não tem um dia da minha vida em que eu não tenha que tomar remédio forte ou vir tomar, por exemplo, morfina, pra dor, pra conseguir fazer o mínimo: sobreviver”, conta.
Ela já passou por uma cirurgia há dois anos, mas os médicos indicaram um novo procedimento. A nova cirurgia foi marcada para o dia 27 de maio, última terça-feira, no Hospital da Mulher, na região central de São Paulo — maior centro especializado da América Latina.
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Karen deu entrada no hospital no dia anterior e passou a noite na unidade. Animada e esperançosa, parecia o fim de uma longa jornada de sofrimento. Ela passou por todos os preparativos, mas, poucas horas antes do início do procedimento, foi informada de que a cirurgia havia sido cancelada.
A equipe médica alegou que a pinça bipolar, essencial para a realização da cirurgia, estava quebrada.
“Duas, três horas antes de eu descer para o centro cirúrgico, vieram avisar que a cirurgia não ia acontecer porque a pinça bipolar quebrou. Simplesmente me deram alta, sem qualquer apoio, sem qualquer cuidado com minha saúde, com minha vida”, relatou Karen.
A pinça bipolar é usada em cirurgias minimamente invasivas, com menor risco de infecção, perda de sangue e trauma, proporcionando recuperação mais rápida. Segundo especialistas, trata-se de um instrumento simples e de baixo custo.
Karen, acompanhada do marido, voltou ao hospital em busca de uma nova data, mas saiu novamente sem respostas.
“Gostaria da minha cirurgia, de uma nova data. E que eles aprendam a tratar a gente com mais empatia, mais amor, mais acolhimento. Do jeito que foi feito não é correto, é um descaso, é desumano”, afirma.
Hospital remarca cirurgia após repercussão
Após a repercussão do caso, o Hospital da Mulher informou, em nota, que a cirurgia de Karen foi reagendada para o dia 18 de junho. A unidade esclareceu ainda que a pinça citada não está em falta no hospital.