Dia da Amazônia: conheça mitos e verdades sobre a Floresta Amazônica
Data foi criada em 2007 para celebrar e conscientizar sobre uma das mais importantes florestas para o equilíbrio do mundo
O Brasil comemora, nesta quinta-feira (5), o Dia da Amazônia, data criada em 2007 para celebrar uma das mais importantes florestas para o equilíbrio do mundo.
"É também um dia criado para que a gente tome consciência da importância de preservar e usar com sabedoria os recursos naturais, respeitando aqueles que residem ali, vivendo milenarmente, e que têm conhecimentos associados àquela riqueza", afirma a ministra do Meio Ambiente e Mudança do Clima, Marina Silva.
Para celebrar a data, o SBT News listou 5 mitos e verdades sobre a Floresta Amazônica:
1. A Amazônia é o "pulmão do mundo"?
Mito. Apesar da crença, e até mesmo disseminação por defensores da Amazônia, de que ela seria o "pulmão do mundo", a afirmação não está correta.
Isso porque o oxigênio produzido pela floresta é consumido por ela mesma, em benefício próprio. É verdade que o bioma retira bilhões de toneladas de gás carbônico da atmosfera, por meio da fotossíntese, e retorna outros bilhões de toneladas de oxigênio, mas as árvores e micróbios que vivem na floresta inalam esse oxigênio produzido.
A maior parte do oxigênio que respiramos é acumulado há bilhões de anos nos processos que tornaram a atmosfera respirável, na formação da vida na Terra, por fitoplâncton nos oceanos.
2. Há "rios voadores" na floresta?
Verdade. Os "rios voadores" são causados pelo suor das árvores, que evaporam água – a chamada evapotranspiração – e formam nuvens. Segundo o Greenpeace, são bombeadas até 20 bilhões de toneladas de água por dia para a atmosfera.
As correntes de ar transportam essa umidade da Amazônia do oeste para o leste e depois se chocam com a Cordilheira dos Andes, que faz uma espécie de "barreira" na região, levando assim chuvas para o Centro-Oeste, Sudeste e Sul do país.
Esse fenômeno, essencial para o ciclo de chuvas não só no Brasil, tem sido o responsável por trazer fumaça de queimadas da Amazônia para áreas distantes da floresta, deixando cidades do Sul e do Sudeste com o céu cinzento.
3. A Amazônia é a maior floresta tropical do mundo?
Verdade. Com extensão de aproximadamente 7 milhões de km², a Amazônia representa cerca de 40% das florestas tropicais do mundo, segundo o Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma).
A bacia hidrográfica amazônica é também considerada a maior do mundo, com quase 7 milhões de km² e mais de 25 mil km de rios navegáveis. Apenas o Rio Amazonas despeja 17 bilhões de toneladas de água por dia no mar, o que corresponde a 20% de todo o volume de água doce que chega aos oceanos em todo o mundo.
O desmatamento, entretanto, é preocupante. Segundo dados do Greenpeace Brasil, 17% do bioma já foi perdido, "o que nos deixa cada vez mais perto de um ponto em que a floresta não poderá mais se regenerar". De 1º de janeiro a 4 de setembro deste ano, a Amazônia já registrou 73.221 focos de incêndio.
4. A Floresta Amazônica é brasileira?
Mito. Apesar de grande parte da Floresta Amazônica estar em território brasileiro (60%) e de quase metade do Brasil ser de Amazônia (49,5%), o bioma está presente em outros oito países: Colômbia, Peru, Bolívia, Venezuela, Equador, Guiana, Suriname e Guiana Francesa.
Guiana, Suriname e Guiana Francesa têm todo o seu território coberto pela Amazônia.
5. Bioma é "santuário de biodiversidade"?
Verdade. A Floresta Amazônica abriga um número incontável de plantas e animais. A maior parte dessas espécies sequer foi estudada ainda pelos cientistas.
Segundo a WWF Brasil, pelo menos 40 mil espécies vegetais, 427 mamíferos, 1.294 aves, 378 répteis, 427 anfíbios e cerca de 3 mil peixes da região já tem classificação científica. O número mais impressionante é o de invertebrados: só na parte brasileira do bioma, já foram descritos entre 96.660 e 128.840 espécies.
73% das espécies de mamíferos e 80% das aves existentes no Brasil são encontrados na floresta, de um total de mais de 120 mil espécies de animais, segundo o Catálogo Taxonômico da Fauna do Brasil (CTFB).
Atualmente, segundo o Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), 218 espécies e subespécies da fauna brasileira são reconhecidas como ameaçadas de extinção (vulneráveis, em perigo ou criticamente em perigo) na Amazônia. Uma ave, o maçarico-esquimó, é considerada regionalmente extinta, já que não é registrada no Brasil há mais de 150 anos.
Conheça algumas espécies ameaçadas de extinção na Amazônia:
Jandaia-amarela
A Jandaia-amarela (Aratinga solstitialis) é uma espécie de ave endêmica do Escudo das Guianas no norte da América do Sul, ocorrendo exclusivamente no extremo norte do Brasil e oeste da Guiana. Com base nos registros recentes da espécie, o tamanho populacional global é estimado em menos de 2.500 indivíduos maduros.
Foi excessivamente capturada nas últimas décadas e desapareceu da maioria das localidades de ocorrência, de modo que uma redução populacional é suspeitada em mais de 50% nos últimos 21 anos (três gerações).
Foi categorizada como Em Perigo pelo ICMBio.
Macaco-cara-branca
O macaco-cara-branca (Cebus kaapori) é uma espécie de mamífero endêmica do Brasil, ocorrendo no leste do Pará e oeste do Maranhão, região inserida no arco do desmatamento. A espécie é extremamente rara e sensível a perturbações ambientais. Há registros de extinções locais, principalmente devido à alta pressão de caça e degradações ambientais, inclusive incêndios florestais que atingiram 50% da área da única unidade de conservação de proteção integral com ocorrência da espécie. A distribuição da espécie é uma das menores dentre os Cebus no Brasil, e sua área de ocorrência está completamente fragmentada por causa da grande atividade antrópica na Amazônia Oriental.
Considerando estimativas de perda de hábitat e o impacto da caça, suspeita-se de uma redução populacional de 85,28% para uma janela temporal entre os anos 1972 e 2020 (três gerações).
Foi categorizada como Criticamente em Perigo pelo ICMBio.
Charinus ferreus
Charinus ferreus é uma espécie de invertebrados terrestres, distribuída e registrada em cavernas da região conhecida como Serra Sul de Carajás (Floresta Nacional de Carajás), no Pará, tendo sido registrada em 75 cavernas muito próximas entre si.
A espécie não é encontrada em outros platôs da região. As cavernas na Serra Sul de Carajás sofrem intensa exploração mineral (minério de ferro).
Foi categorizada como Criticamente em Perigo pelo ICMBio.
Hypancistrus zebra
A espécie de peixe Hypancistrus zebra é endêmica do Brasil, ocorrendo na região da Volta Grande do Rio Xingu, estado do Pará. A principal ameaça sobre a espécie é o impacto decorrente da construção da usina hidrelétrica de Belo Monte. A Área de Ocupação da espécie está totalmente incluída na área diretamente afetada pela usina.
Após o enchimento do reservatório de Belo Monte, em 2016, parte da população foi intensamente afetada, pela redução da vazão original e perda da regularidade natural do ciclo hidrológico, segundo o Sistema de Avaliação do Risco de Extinção da Biodiversidade (Salve), do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio).
A espécie está mais vulnerável ainda à captura para o comércio ilegal de peixes ornamentais. Apesar da proibição da captura desta espécie, a pesca ilegal continua ocorrendo e cerca de 10 mil indivíduos/mês são contrabandeados via Colômbia, de onde são exportados regularmente.
Foi categorizada como Criticamente em Perigo pelo ICMBio.
A Norte Energia, empresa concessionária da usina hidrelétrica de Belo Monte, negou o impacto citado pelo Salve e informou que o Hypancistrus zebra está incluso na lista de peixes em extinção "devido à prática da pesca clandestina, mesmo com sua captura proibida há 19 anos".
"Quanto à informação de que a espécie Hypancistrus zebra tem como principal ameaça o impacto decorrente da construção de Belo Monte, a empresa afirma que a quantidade de água (hidrograma) destinada para a Volta Grande do Xingu foi estudada e estabelecida pelo Estado Brasileiro no âmbito do leilão de concessão da UHE Belo Monte e é parte integrante do licenciamento ambiental da Usina, visando assegurar a manutenção da qualidade da água, da conservação da ictiofauna, da vegetação aluvial, dos quelônios, da pesca e da navegação, além dos modos de vida da população na região", disse a empresa em nota.