Cúpula de Líderes reforça urgência em ações climáticas e apoio a países pobres para transição energética
Evento antecede a COP30 e prevê o tom das negociações climáticas e antecipa alguns programas, como o Fundo Florestas Tropicais para Sempre

Murillo Otavio
A Cúpula de Líderes, que reuniu chefes de Estado e autoridades sobre clima, terminou na sexta-feira (7) em Belém, no Pará, destacando a necessidade de implementar medidas climáticas que já foram discutidas e a necessidade de financiar os países mais pobres para avançar na agenda da transição energética.
O encontro político antecede a COP30, que será oficialmente aberta na segunda-feira (10). Tradicionalmente, a cúpula define as prioridades e o tom das negociações da conferência climática.
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva abriu a reunião na quinta-feira (6) reforçando a importância de cumprir os compromissos da COP29 e avançar nas metas do Acordo de Paris.
O dia também marcou o lançamento do Fundo Florestas Tropicais para Sempre (Tropical Forests Forever Facility – TFFF), iniciativa brasileira que prevê a remuneração de países que preservam suas florestas.
Na sexta, o foco foi a transição energética. Lula defendeu que as nações do Sul Global recebam apoio financeiro para viabilizar a mudança. O presidente afirmou que o Brasil pretende criar um programa que utilizará parte dos lucros do setor de petróleo para impulsionar políticas de energia limpa.
Ao todo, 143 delegações participaram dos dois dias de Cúpula em Belém, incluindo chefes de Estado, ministros e representantes de organismos internacionais, como a ONU, o Banco Mundial e o Fundo Monetário Internacional (FMI).
Primeiro dia
Durante a abertura da Cúpula de Líderes, na quinta-feira (6), Lula foi enfático ao defender que os países do Sul Global precisam ser financiados no processo de transição energética. Uma das propostas é destinar parte dos lucros do petróleo para apoiar essa transformação.
O presidente ressaltou que 90% da matriz energética brasileira já vem de fontes limpas e destacou a importância de incluir as populações que ainda vivem em pobreza energética:
“Centenas de milhões de pessoas ainda não têm acesso à eletricidade. É fundamental incluí-las no planejamento da transição energética global.”
Lula também pediu apoio ao Compromisso de Belém, que prevê quadruplicar o uso de combustíveis sustentáveis até 2035, e lembrou que o Brasil é o segundo maior produtor mundial de biocombustíveis.
Antes dele, o secretário-geral da ONU, António Guterres, declarou que a COP30 deve ser a “edição da implementação” e fez um alerta:
“Precisamos reduzir o desmatamento, renovar nossa energia. Chegou o momento em que não há mais espaço para negociação. É preciso implementar, implementar!”
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Segundo dia
Na sexta-feira (7), Lula anunciou a criação de um fundo nacional para financiar ações de enfrentamento à mudança do clima e promover justiça climática.
O presidente reforçou o compromisso do Brasil com a sustentabilidade e lembrou que o país foi pioneiro em investir em alternativas renováveis.
“O Brasil não tem medo de discutir a transição energética. Somos líderes nessa área há décadas. Ainda nos anos 1970, fomos o primeiro país a investir em larga escala em alternativas renováveis.”
Durante o discurso, Lula também criticou os países ricos, afirmando que os conflitos armados têm agravado a crise ambiental:
“O conflito na Ucrânia reverteu anos de esforços para reduzir as emissões de gases de efeito estufa e levou à reabertura de minas de carvão. Gastar com armas o dobro do que destinamos à ação climática é pavimentar o caminho para o apocalipse climático.”
Por fim, o presidente mencionou os minerais críticos, que estão no centro da disputa entre Estados Unidos e China, e ressaltou a importância de garantir uma exploração sustentável desses recursos estratégicos.
Outros acordos
Belém 4X
O Compromisso de Belém pelos Combustíveis Sustentáveis (Belém 4X), assinado por dezenove países, visa quadruplicar o uso de combustíveis sustentáveis até 2035.
O plano reconhece que a eletrificação não basta para descarbonizar setores como transporte pesado e indústria, apostando em alternativas como hidrogênio, biogases, biocombustíveis e combustíveis sintéticos para complementar as fontes renováveis.
Coalizão
A Coalizão Aberta de Mercados Regulados de Carbono busca conectar países que já operam ou planejam criar seus próprios sistemas de mercado de carbono. O acordo tem como objetivo fortalecer a precificação de carbono e incentivar a redução global de emissões de gases de efeito estufa.
Florestas Produtivas
O Programa Nacional de Florestas Produtivas busca conciliar sustentabilidade e desenvolvimento econômico em comunidades rurais da Amazônia, transformando áreas degradadas em espaços produtivos e restaurados.
A ideia é incentivar a recuperação de áreas degradadas por meio de sistemas agroflorestais, modelo que combina o cultivo de espécies agrícolas e florestais.
Racismo ambiental
A Declaração de Belém sobre o Combate ao Racismo Ambiental foi um marco por ser o primeiro acordo internacional a unir justiça racial e ação climática.
O texto reconhece que os impactos da crise climática e da poluição não são distribuídos de forma igual, afetando mais severamente comunidades afrodescendentes, indígenas e locais.









