Lula diz que países do Sul Global precisam ser financiados na transição energética
No segundo dia da Cúpula de Líderes, em Belém, Lula também afirmou que o Brasil vai lançar um fundo de investimentos; encontro antecede a COP30

Murillo Otavio
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) abriu, nesta sexta-feira (7), em Belém, no Pará, o segundo e último dia da Cúpula de Líderes da 30ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP30).
Lula destacou a necessidade de os países do Sul Global serem financiados durante o processo de transição energética. Uma das propostas para viabilizar esse financiamento seria direcionar parte dos lucros gerados pela exploração de petróleo para apoiar o processo de transição. Além disso, o presidente anunciou, sem detalhes, que o Brasil vai criar um fundo para financiar o enfrentamento da mudança do clima e promover justiça climática.
“Um processo justo, ordenado e equitativo de afastamento dos combustíveis fósseis demanda o acesso a tecnologias e financiamento para os países do Sul Global. Há espaço para explorar mecanismos inovadores de troca de dívida por financiamento de iniciativas de mitigação climática e transição energética. Direcionar parte dos lucros com a exploração de petróleo para transição energética permanece um caminho válido para os países em desenvolvimento.”
O presidente ressaltou o papel do Brasil nos esforços para a transição, afirmando que 90% da energia nacional provém de fontes limpas.
"O Brasil não tem medo de discutir a transição energética. Somos líderes nessa área há décadas. Ainda nos anos 1970, fomos o primeiro país a investir em larga escala em alternativas renováveis. 90% da matriz elétrica nacional provém de fontes limpas”, disse.
Ele também abordou o tema da pobreza energética, citando o exemplo de centenas de milhões de pessoas que ainda não têm acesso à eletricidade. Para Lula, é fundamental incluir essa população ao planejar a transição energética global.
Por fim, os minerais críticos, que estão no centro da disputa econômica entre as principais potências tecnológicas, Estados Unidos e China, foram citados no discurso.
“É impossível discutir a transição energética sem falar dos minerais críticos, essenciais para a confecção de baterias, painéis solares e sistemas de energia. Para gerar emprego e renda e gozar de segurança energética, os países em desenvolvimento precisam participar de todas as etapas dessa cadeia global de valor”, completou.
🔍 O tema da transição energética é um dos principais desafios climáticos. A ideia é transformar a forma como o mundo produz e consome energia, reduzindo a dependência de combustíveis fósseis. Na prática, a transição significa trocar petróleo, carvão e gás natural, responsáveis pela maior parte das emissões de gases de efeito estufa, por alternativas mais limpas e sustentáveis, como a energia solar, eólica e hidrelétrica.
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Acordo de Paris
No fim do dia desta sexta-feira, está prevista a rodada de negociações sobre o Acordo de Paris, o tratado global firmado em 2015, durante a COP21, com o objetivo de conter o aquecimento global. Assinado por mais de 190 países, o texto propõe limitar o aquecimento global a um nível considerado seguro para as gerações atual e futuras.
A meta é manter o aumento da temperatura global bem abaixo de 2°C e buscar esforços para limitar esse aumento a 1,5°C até o final do século, em relação aos níveis pré-industriais.
No entanto, apesar da emergência climática e da necessidade de continuar buscando as metas estabelecidas, o secretário-geral das Nações Unidas (ONU), António Guterres, afirmou em outubro, durante a Organização Meteorológica Mundial (OMM), em Genebra, na Suíça, que o objetivo de limitar o aquecimento global a 1,5°C já não será mais possível.
Ainda assim, o Acordo de Paris permanece como o maior tratado global de combate à mudança climática e deve ser um dos principais temas da COP30.
Segundo a agência Reuters, a saída dos Estados Unidos do acordo, determinada por Donald Trump, pode ser essencial para o declínio de efetividade do tratado.
Segundo a Casa Branca, a ação faz parte das "primeiras prioridades do presidente Trump na América", que também incluem "por fim às políticas de extremismo climático de Biden", declarar Emergência Energética Nacional e acabar com os arrendamentos para grandes parques eólicos.
Primeiro dia de Cúpula
Na quinta-feira (6), ocorreu o primeiro dia da Cúpula de Líderes. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva abriu o encontro com um discurso que enfatizou a necessidade de perseguir as metas climáticas e o papel essencial do multilateralismo.
O dia foi marcado pelo lançamento oficial do Fundo Florestas Tropicais para Sempre (TFFF), uma das principais iniciativas do Brasil para a COP30. O fundo conta com a adesão de 53 países que assinaram sua Declaração de Lançamento.
A iniciativa é vista como um marco no financiamento da conservação das florestas tropicais e recebeu amplo apoio de ambientalistas.
O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, declarou na quinta que o Fundo Florestas Tropicais para Sempre (TFFF) havia alcançado 50% do valor de investimentos esperados pelo governo até o final de 2026.
Em relação ao seu discurso de abertura, o presidente Lula reforçou que a COP30 é a edição da implementação, e não de negociações.
“O ano de 2025 é um marco para o multilateralismo. Provamos que a organização coletiva gera resultados”, declarou. Em outro momento de sua fala, o presidente reforçou a defesa de que os países intensifiquem os esforços para alcançar as metas climáticas. “Não podemos abandonar os objetivos do Tratado de Paris”, afirmou.
Ao salientar o privilégio de a COP30 ser realizada na Amazônia, o presidente destacou que os povos originários sofrem com os impactos das mudanças climáticas, lembrando a vital importância dessa população na preservação da flora e fauna.
"[Os povos originários] podem não assimilar o significado de um aumento de um grau e meio na temperatura global, mas sofrem com secas, enchentes e furacões. O combate à mudança do clima deve estar no centro das decisões de cada governo, de cada empresa, de cada pessoa”, pontuou.
O presidente afirmou, também, que rivalidades entre países e conflitos armados concentram verbas que deveriam ser empregadas no combate ao aquecimento global.
O Secretário-geral da ONU, António Guterres, também falou no primeiro dia de Cúpula. Era um dos discursos mais aguardados. Ele corroborou a fala de Lula ao afirmar que a COP30 é a edição da implementação.
Ele ressaltou as consequências socioeconômicas do aumento da temperatura do planeta e alertou para a necessidade urgente de uma ação conjunta das nações para que a situação seja minimamente revertida.
Guterres defendeu os investimentos para tentar reverter a atual condição climática, sobretudo o projeto capitaneado pelo Brasil, o Fundo Florestas Tropicais para Sempre.









