Crise climática no Rio Grande do Sul é considerada a pior da história
Estado ainda sofre as consequências do super El Niño, que começou em junho de 2023
O Rio Grande do Sul sofre com tragédias climáticas em sequência desde 2023. A de agora já é considerada a mais grave da história do estado.
As águas arrastaram tudo o que havia no caminho. Em Muçum, uma barreira de entulhos representava risco a uma das únicas pontes que resistiu à enxurrada.
Na cidade vizinha, Bom Retiro do Sul, montes de lixo serviram como botes de sobrevivência para um casal com um cãozinho. Depois de dias esperando, todos foram salvos.
No meio da inundação, três idosos esperavam pela ajuda que finalmente chegou nesta sexta-feira (3).
O governo do estado não sabe informar quantas pessoas ainda aguardam resgate e afirma que esta é a pior tragédia climática da história. Catástrofes desse tipo estão cada vez mais frequentes no Rio Grande do Sul.
Em junho do ano passado, a passagem de um ciclone extratropical matou 16 pessoas. Caraá, no litoral norte gaúcho, foi atingida em cheio: estradas, pontes, escolas, hospitais e milhares de casas foram destruídas.
Em setembro, um evento climático sem precedentes: primeiro, os municípios do norte gaúcho sofreram com uma onda de tempestades. Logo depois, o excesso de chuva desceu pelo curso dos rios e chegou ao Vale do Taquari. Muçum e Roca Sales ficaram submersas. Famílias inteiras foram arrastadas pela enxurrada. No total, 54 pessoas morreram.
Mal deu tempo para começar a reconstrução dos dois pequenos municípios, e em novembro vieram mais temporais. Para os especialistas, os fenômenos atmosféricos e climáticos naturais foram potencializados pelo aquecimento global.
O Rio Grande do Sul ainda sofre as consequências do super El Niño, que começou em junho de 2023, junto com as primeiras tragédias. “Atualmente, o fenômeno está em fase de diminuição de intensidade, porém, ele largou muita umidade na atmosfera durante esse período, desde setembro até agora”, explica o meteorologista do Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet).
A geografia do estado também contribui para os desastres. É o que explica Iporã Possantti, pesquisador do Instituto de Pesquisas Hidráulicas da Universidade Federal do Rio Grande do Sul. “Temos muitas montanhas no Rio Grande do Sul. A Escarpa da Serra é uma escarpa muito declivosa, com vales muito profundos, encaixados, e os solos são muito ralos. Isso significa que pouca chuva é suficiente para saturar o solo e fazer com que a água comece escoar, então, a gente não tem capacidade de absorver tanta água assim”, afirma.