Com medo de saques, moradores de Porto Alegre acampam em acostamento de rodovia
Em uma das casas improvisadas, três famílias estão vivendo juntas desde o início de maio
Já são três semanas de inundações em Porto Alegre. Com medo de saques, moradores da capital gaúcha acampam no acostamento de uma rodovia. Em uma das casas improvisadas, três famílias estão vivendo juntas desde o início de maio. “Estou aqui desde que fui resgatada, no início dos alagamentos”, diz a empreendedora Joselaine Roza.
A lona tenta proteger o lugar da chuva. “São noites de muito vento, muita chuva, e é a vida que a gente tá levando ultimamente”, confessa a dona de casa Anelise Camargo da Fontoura
Além das casas, no bairro Humaitá, o local de trabalho dos moradores também foi atingido. “Eu tenho uma reciclagem aqui na Dona Teodora que também está debaixo d'água, assim como a empresa de muitos amigos nossos”, revela a empreendedora Marcia Pontes.
Voluntários ajudam com doações. “A gente traz de vez em quando. Quando eles precisam, a gente passa. Sempre tem alguma coisa para gente trazer”, revela o motorista Marco Medeiros.
O Departamento Municipal de Águas e Esgotos ainda estuda a instalação de uma bomba flutuante para escoar a água na região. “Colocando uma bomba externa junto à casa de bombas e também despejando no posto de saída em direção ao Guaíba”, conta Mauricio Loss, diretor-geral do DMAE.
As comportas foram fechadas em toda a cidade para impedir a entrada de mais água. Enquanto isso, houve mutirões de limpeza no comércio do centro histórico. São dezenas de lojinhas que se espremem em galerias. Um trabalho difícil, segundo a lojista Joice Franzmann.
“Não é água, é esgoto. O cheiro é terrível, terrível, é insuportável. A minha loja ainda tá com 50 centímetros de água. E eu faço o quê? Não tô conseguindo uma equipe pra vir aqui pra tirar. O valor tá na faixa de 12 mil reais. Nós perdemos tudo. E ainda vou ter que pagar esse valor?”, desabafa.
São mais de 12 mil empresas na capital gaúcha. O temor de novas inundações é constante. Em Novo Hamburgo, no Vale dos Sinos, 32 mil pessoas precisaram sair de casa. Mesmo com as ruas alagadas, muitos moradores começaram a voltar. Já são três semanas de inundações em Porto Alegre.
“É desesperador. A gente tava ainda com aquela esperança de conseguir salvar alguma coisa, né? Mas não tem. Parece que colocaram a casa no liquidificador e sacudiram”, relata a vendedora Daiane da Silva de Oliveira.
Na região das ilhas de Porto Alegre, uma das pistas da BR 116 precisou ser bloqueada porque também foi ocupada por um enorme acampamento de famílias desabrigadas.
Alguns têm medo de saques. Outros só querem ficar perto das residências. Mas todos exigem agilidade para poder voltar para casa. O que a elevação do Guaíba, que voltou a passar dos quatro metros, dificulta ainda mais.
“A gente queria pedir encarecidamente para todos os políticos que parem de discutir política. Neste momento a gente precisa das bombas, a gente precisa que as águas que estão ali há mais de 20 dias baixem. Agilizem este processo. A gente neste momento só quer voltar pra nossas casas”, Joselaine Roza desabafa.