Caso Marielle Franco: veja detalhes da delação de Élcio de Queiroz à Polícia Federal
Ex-PM narrou antes, durante e depois do atentado que matou a vereadora e o motorista Anderson Gomes
O assassinato da vereadora Marielle Franco e do motorista Anderson Gomes ganhou novidades nesta 2ª feira (24.jul), com a prisão do ex-bombeiro Maxwell Simões Corrêa, o Suel, e detalhes da delação premiada do ex-policial militar Élcio de Queiroz firmada com a Polícia Federal (PF) e o Ministério Público do Rio de Janeiro (MPRJ).
+ Leia as últimas notícias no portal SBT News
O SBT News teve acesso à delação e traz destaques do que Queiroz, acompanhado de sua advogada, Ana Paula de Araújo Fonseca Cordeiro, disse aos investigadores:
Campanas para vigiar Marielle
No depoimento, Queiroz contou que a vereadora era vigiada desde pelo menos agosto de 2017. E que o carro usado no assassinato de Marielle e Anderson, um Chevrolet Cobalt prata, era usado desde setembro daquele ano. "Pra uma campana, diversas coisas, coisa que fosse ilícita; na época eu não sabia do que se tratava", disse o ex-PM.
Ele ainda relatou que "assuntos triviais" eram tratados pelo WhatsApp. "Alguma coisa assim muito reservada" ou "uma ilegalidade" era conversada pelo aplicativo Confide, de mensagens criptografadas.
Novo personagem: o intermediador Macalé
Queiroz disse aos investigadores que quem trouxe "essa missão" -- de perseguir Marielle -- para Ronnie Lessa foi o policial militar Edimilson Oliveira da Silva, conhecido como Macalé. Ele morreu assassinado a tiros em novembro de 2021, na zona oeste do Rio de Janeiro.
O ex-PM também disse que Macalé estava em "todas" as campanas. "Inclusive foi através do Edimilson que trouxe... Vamos dizer, esse trabalho pra eles. Essa missão pra eles foi através do Macalé, que chegou até o Ronnie", contou.
Tentativa de "chegar ao alvo"
Queiroz disse que Lessa não podia dirigir "por causa da perna dele". "Só se for [carro] automático", contou. O motorista era sempre Suel. No carona, ia Ronnie "com a metralhadora dele, a MP5". No banco de trás, ia Macalé, "que faria a contenção com a AK47".
O ex-PM relatou que no dia 31 de dezembro de 2017, no condomínio Vivendas da Barra, na Barra da Tijuca, as famílias dele e de Lessa passaram o réveillon juntas. Ele conta, sem citar Marielle, que Lessa estava "num trabalho" há algum tempo e desabafou sobre esse assunto. Eles, Suel, Lessa e Macalé, "estavam campanando esse alvo".
Queiroz contou que a tentativa de matar Marielle foi na área do Estácio, bairro na zona central do Rio. Suel, Lessa e Macalé estavam no carro e Marielle, num táxi. Na hora de emparelhar os carros, o veículo em que estavam teria dado um problema. Lessa disse a Queiroz que não acreditava nisso e que Suel "refugou".
14 de março de 2018: o dia do crime
Queiroz contou que, por volta das 12h, estava trabalhando numa Casas Bahia em Santa Cruz da Serra. Lessa fez contato com ele por meio do Confide e perguntou se ele poderia dirigir em um serviço e se o colega estaria liberado entre 17h e 19h. Queiroz parou de trabalhar por volta das 14h.
Lessa mandou fotos de mulheres para Queiroz, que estava dirigindo e não conseguiu visualizar as imagens com clareza. "Depois eu soube que era um evento da Casa das Pretas", disse Queiroz, que relatou não conhecer Marielle Franco à época. A vereadora foi assassinada depois de sair desse coletivo de mulheres negras, localizado na Lapa.
Lessa orientou Queiroz a ir para casa; ele seria chamado em algum momento mais tarde. Queiroz disse que não contou à esposa que se encontraria com Lessa. O contato foi retomado pouco depois das 16h, pelo Confide. Como saiu cedo, Queiroz não enfrentou a hora do rush.
Queiroz disse que, quando chegou à Barra da Tijuca, Lessa segurava uma bolsa de viagem. Queiroz relatou que depois ficou sabendo que tinha uma arma na bolsa. Ele deixou o carro na garagem.
Lessa e Queiroz entraram em outro carro atrás do condomínio, o Cobalt prata, com Queiroz dirigindo e Lessa de carona. Lessa pediu para ele desligar o telefone.
Lessa orientou Queiroz a dirigir em direção ao centro e falou que o "assunto" era a vereadora. Queiroz disse novamente que não sabia quem era e perguntou a Lessa sobre o motivo e se tinha dinheiro envolvido. Lessa disse que não, que era "pessoal".
Queiroz disse que viu Lessa "se equipando" com um casaco preto, "uma touca ninja", uma metralhadora com silenciador e um binóculo. Eles ficaram fazendo campana durante um tempo, até Marielle, Anderson e Fernanda Chagas, assessora da vereadora, deixarem o evento.
Queiroz e Lessa seguiram o carro e Lessa citou um bar onde Marielle poderia ir. "Ele já estava de touca esse tempo todo", contou Queiroz. Eles estavam esperando por uma oportunidade para emparelhar o carro.
Quando isso foi possível, Queiroz deixou sua janela paralela ao do carro dirigido por Anderson. "Só escutei a rajada; da rajada, começou a cair umas cápsulas a minha cabeça e no meu pescoço".
Fuga e desova do veículo
Lessa orientou Queiroz a dirigir para a casa de sua mãe, localizada no Méier, na zona norte do Rio. O irmão de Lessa, então, pediu um táxi para os dois para a Barra da Tijuca.
Lessa e Queiroz encontraram Suel num bar. No dia seguinte, voltaram a se encontrar, no Méier, para desovar o Cobalt prata. Eles retiraram e descartaram cápsulas e Suel colocou uma outra placa no veículo. "A situação do carro" foi resolvida por Edilson Barbosa dos Santos, apelidado de Orelha.