Argentina quer usar IA para monitorar cidadãos e "prever futuros crimes"
Governo Milei criou a Unidade de Inteligência Artificial Aplicada à Segurança para agir como uma "patrulha cibernética" na Internet
Em 1956, o escritor de ficção científica Philip K. Dick escreveu Minority Report, conto que aborda Washington em 2054, onde um departamento de polícia especial prende criminosos com base em premonições fornecidas por três videntes. Em 2002, a história virou filme estrelado por Tom Cruise, dirigido por Steven Spielberg, e fez sucesso. 22 anos depois, a vida imita a arte e a história pode virar realidade na Argentina.
O governo liderado pelo presidente Javier Milei quer usar a inteligência artificial para monitorar a atividade dos cidadãos nas redes sociais e na internet para "prever futuros crimes".
O projeto, que foi apresentado na última semana de julho, aponta para a criação da Unidade de Inteligência Artificial Aplicada à Segurança, que funcionará como uma espécie de "patrulha cibernética" nas redes sociais e na internet.
Esta unidade deve usar "algoritmos de aprendizado de máquina para analisar dados históricos de crimes e prever crimes futuros" com base na interação dos usuários na web "para investigar crimes e identificar seus autores".
O projeto relata que este novo departamento será responsável por usar um software de reconhecimento facial para identificar "pessoas desejadas" além de vigiar imagens de milhares de câmeras de segurança em tempo real.
A proposta também aponta que a unidade terá também a função de "processar grandes volumes de dados de diversas fontes para extrair informações úteis e criar perfis de suspeitos ou identificar ligações entre diferentes casos".
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O projeto, que deve ser operado pelo Ministério da Segurança, liderado por Patricia Bullrich, também contará com drones para vigilância e patrulha em grandes áreas e o governo argentino prevê a compra do polêmico software de cibervigilância israelense Pegasus -- polêmico sistema de espionagem da NSO Group que foi usado em alguns países, cujo procuradores da operação Lava Jato em Curitiba teriam tentado comprar a ferramenta para fazer espionagem clandestina.
Estratégia de Milei é reduzir "o tamanho do estado", demitindo trabalhadores da segurança pública e substituí-los por sistemas de inteligência artificial.
“A vigilância em larga escala afeta a liberdade de expressão porque encoraja as pessoas a se autocensurarem ou se absterem de compartilhar suas ideias ou críticas se suspeitarem que tudo o que comentam, postam ou publicam está sendo monitorado pelas forças de segurança”, disse Mariela Belski, diretora executiva da Anistia Internacional Argentina ao jornal britânico The Guardian.
Nas suas redes sociais, a representante argentina da Anistia Internacional explicou também que a "inteligência artificial (IA) pode ser uma ferramenta aliada em muitos casos, mas noutros é uma desculpa para o controle social, a vigilância em massa e a discriminação; afetando direitos".