Defesa de Lula diz que Lava Jato negociou o programa espião Pegasus
Criado em Israel, o programa consegue hackear celulares, e-mails e gravar chamadas secretamente
Advogados do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmam que procuradores da República envolvidos na operação Lava Jato tentaram comprar o programa espião israelense Pegasus. Em petição protocolada enviada ao Supremo Tribunal Federal (STF), nesta 2ª feira (26.jul), procuradores de Curitiba teriam tentado criar um sistema de espionagem cibernética clandestina.
O documento traz mensagens de WhatsApp trocadas entre integrantes da operação Lava Jato apreendidas na operação Spoofing. As mensagens mostram que os procuradores se encontraram com representantes do NSO Group, desenvolvedora do programa Pegasus, em janeiro de 2018 no Rio de Janeiro e em Curitiba.
"a FT-RJ se reuniu hoje com uma outra empresa de Israel, com solução tecnológica super avançada para investigações.
A solução "invade" celulares em tempo real (permite ver a localização, etc.). Eles disseram que ficaram impressionados com a solução, coisa de outro mundo.
Há problemas, como o custo, e óbices jurídicos a todas as funcionalidades (ex.: abrir o microfone para ouvir em tempo real).
De toda forma, o representante da empresa estará aqui em CWB, e marcamos 17h para vir aqui. Quem puder participar da reunião, será ótimo! (Inclusive serve para ver o q podem/devem estar fazendo com os nossos celulares)."
Estas mensagens foram enviadas pelo procurador da Lava Jato Júlio Carlos Motta Noronha no dia 31 de janeiro de 2018. As aspas foram reproduzidas como no documento protocolado ao STF pela defesa de Lula nesta 2ª feira (26.jul). Na sequência das mensagens, um link de uma reportagem sobre o Pegasus é encaminhado. No grupo, somente um procurador demonstrou preocupação ética com a compra da solução de espionagem.
Pegasus
Pegasus é um malware que infecta iPhones e dispositivos Android para permitir que os operadores da ferramenta extraiam mensagens, fotos e e-mails, gravem chamadas e ativem microfones secretamente. De acordo com a NSO Group, a utilização da ferramenta se destina apenas ao uso contra criminosos e terroristas.
Na petição enviada ao STF, os advogados do presidente Lula ressaltam a reportagem divulgada, no dia de 18 de julho, pelo jornal britânico The Guardian, em parceria com outros 16 veículos de imprensa sobre o Pegasus. "[A reportagem] revelou que um malware de nome Pegasus está sendo utilizado ao redor do mundo para a realização de espionagens por regimes autoritários e também para atacar democracias ao redor do mundo. Também está sendo utilizado para promover grosseiras violações ao direitos humanos.
Confira o documento enviado ao STF na íntegra:
Petição sobre negociação do Pegasus pela Lava Jato by Fernanda Bastos on Scribd