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Saúde

Tylenol x autismo: OMS rebate fala de Trump sobre desenvolvimento do transtorno

Sem apresentar provas, presidente dos EUA afirmou que o uso do paracetamol por grávidas aumenta o risco de TEA em crianças

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Paracetamol | Reprodução/Pexels
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A Organização Mundial da Saúde (OMS) afirmou nesta terça-feira (23) que não há evidências de que o uso de paracetamol durante a gravidez aumente o risco de autismo em crianças. A agência rebateu uma declaração do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, que anunciou na segunda-feira (22) uma suposta descoberta que associava o uso de Tylenol (medicamento que contém paracetamol) na gravidez com o desenvolvimento do transtorno.

"As evidências permanecem inconsistentes", disse o porta-voz da OMS, Tarik Jašarević, em uma entrevista para jornalistas em Genebra.

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🔎 O Tylenol, produzido pela farmacêutica Kenvue, que foi desmembrada da Johnson & Johnson em 2023, é um medicamento cujo ingrediente ativo é conhecido como paracetamol (ou acetaminofeno). O paracetamol é um dos analgésicos e antitérmicos mais consumidos no mundo e é considerado o "analgésico de escolha" durante a gravidez, por ser considerado o mais seguro para gestantes.

O porta-voz da agência citou estudos não especificados que apontavam para uma possível ligação, mas disse que isso não foi confirmado por pesquisas posteriores. "Essa falta de replicabilidade realmente exige cautela ao tirar conclusões precipitadas", declarou.

Trump associou o autismo ao uso de vacinas na infância e à ingestão de Tylenol por mulheres grávidas – alegação não respaldada por evidências científicas. Ele afirmou que a FDA, agência reguladora de medicamentos do país (como a Anvisa no Brasil), vai recomendar que gestantes evitem o uso do paracetamol. "Tomar Tylenol não é bom. Vou dizer, não é bom", disse o americano várias vezes durante o comunicado realizado ontem.

Jašarević acrescentou também que as vacinas não causam autismo e reafirmou a sua importância para salvar vidas. "Isso é algo que a ciência provou, e essas coisas não devem ser realmente questionadas", acrescentou.

🔎 O Transtorno do Espectro Autista (TEA) é um distúrbio do neurodesenvolvimento que interfere na capacidade de comunicação, linguagem, interação social e comportamento.

Entidades contestam alerta

A Agência Europeia de Medicamentos (EMA) afirmou nesta terça-feira (23) que não há novas evidências que exijam mudanças nas recomendações atuais para o uso de paracetamol durante a gravidez.

"As evidências disponíveis não encontraram nenhuma ligação entre o uso de paracetamol durante a gravidez e o autismo", afirmou a EMA em um comunicado, acrescentando que o paracetamol pode ser usado durante a gravidez quando necessário, embora em menor dose e frequência.

Na segunda-feira (22), o órgão regulador de saúde do Reino Unido também disse que o uso de paracetamol é seguro.

A Febrasgo (Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia) emitiu uma nota na segunda afirmando que "não há evidências conclusivas de que o uso de paracetamol (Tylenol) durante a gestação cause autismo". Apesar de estudos mostrarem "associações estatísticas", não há comprovação de relação de causa e efeito, "e pesquisas mais robustas não confirmam aumento significativo do risco".

A organização Autistas Brasil manifestou repúdio às declarações de Trump e as classificou como "uma cruzada capacitista" para apagamento das pessoas com deficiência.

"Não é meramente um erro, é um projeto político. Estão reintroduzindo no século XXI a lógica eugenista que trata pessoas com deficiência como tragédia. O autismo se torna um vilão a ser combatido, e pessoas autistas são reduzidas a sujeitos desumanizados numa cruzada moral em nome de uma sociedade 'pura' e homogênea, sem lugar para aqueles tidos como 'diferentes', 'estranhos', 'deficientes'", afirmou Arthur Ataide Ferreira Garcia, vice-presidente da ONG.

A entidade destacou que o aumento de diagnósticos de autismo não é causado por uma "epidemia", mas sim o resultado de mais acesso à avaliação e diagnóstico.

O que diz a Kenvue

Os executivos da farmacêutica Kenvue, que fabrica o Tylenol, se reuniram com o governo dos Estados Unidos nas últimas semanas e afirmaram, em comunicado, que dados científicos demonstram "claramente" que tomar paracetamol não causa autismo.

"Discordamos veementemente de qualquer sugestão em contrário e estamos profundamente preocupados com o risco à saúde que isso representa para as gestantes", disse a empresa.
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