Trump diz que grávidas não devem tomar paracetamol por "suposto risco de autismo"; OMS destaca que não há evidências disso
FDA vai notificar médicos sobre "risco aumentado de autismo em crianças" cujas mães tenham tomado o remédio na gestação; tema provoca polêmica

Sofia Pilagallo
O presidente dos Estados Unidos (EUA), Donald Trump, afirmou que a FDA, agência reguladora de medicamentos do país, vai recomendar que grávidas evitem o uso do paracetamol, em razão de um "suposto risco aumentado de autismo" em crianças, associado ao uso do medicamento. A declaração foi feita em uma coletiva de imprensa na Casa Branca, na segunda-feira (22).
“Tomar Tylenol não é bom. Vou dizer, não é bom”, disse Trump várias vezes durante o comunicado.
O paracetamol é um dos analgésicos e antitérmicos mais consumidos no mundo, usado para tratar dores e febre. O medicamento é vendido sob o nome comercial de Tylenol, produzido pela farmacêutica Kenvue, que foi desmembrada da Johnson & Johnson em 2023.
O alerta do governo dos EUA estaria baseado em algumas pesquisas, - incluindo uma revisão realizada em agosto por pesquisadores do Monte Sinai e de Harvard — que sugerem uma possível ligação entre o uso de Tylenol no início da gravidez e um risco aumentado de autismo em crianças. No entanto, não há consenso entre cientistas sobre o tema que provoca controvérsias.
Nesta terça-feira (23), um porta-voz da Organização Mundial da Saúde (OMS) rebateu a afirmação e disse que as evidências de uma ligação entre o uso de paracetamol durante a gravidez e o autismo permanecem inconsistentes. "As evidências permanecem inconsistentes. Vários estudos realizados posteriormente não encontraram tal relação", afirmou.
Na segunda-feira, a Febrasgo (Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia) emitiu uma nota afirmando que "não há evidências conclusivas de que o uso de paracetamol (Tylenol) durante a gestação cause autismo". Apesar de estudos mostrarem "associações estatísticas", não há comprovação de relação de causa e efeito, "e pesquisas mais robustas não confirmam aumento significativo do risco."
"É importante destacar que o paracetamol, quando usado de forma responsável, sob orientação médica, continua sendo considerado seguro, e que tratar febre e dor na gravidez é fundamental para a saúde da mãe e do bebê", diz a nota.
Os executivos do Tylenol se reuniram com o governo nas últimas semanas para expressar suas dúvidas sobre o esforço federal e discutir os próximos passos. Em comunicado, a Kenvue afirmou que dados científicos demonstram "claramente" que tomar paracetamol não causa autismo.
"Acreditamos que dados científicos independentes e sólidos demonstram claramente que tomar paracetamol não causa autismo", disse a empresa. "Discordamos veementemente de qualquer sugestão em contrário e estamos profundamente preocupados com o risco à saúde que isso representa para as gestantes."
OMS rebate Trump
Um porta-voz da Organização Mundial da Saúde disse nesta terça-feira (23) que as evidências de uma ligação entre o uso de paracetamol durante a gravidez e o autismo permanecem inconsistentes.
Segundo Tarik Jašarević, os estudos observacionais que sugeriram essa associação não são coerentes. "As evidências permanecem inconsistentes. Vários estudos realizados posteriormente não encontraram tal relação. E se a ligação entre o paracetamol e o autismo fosse forte, provavelmente teria sido observada de forma consistente em vários estudos."
"É importante que todas as mulheres continuem a seguir as orientações de seus médicos ou profissionais de saúde, que podem ajudar a avaliar as circunstâncias individuais e recomendar os métodos necessários", afirmou.
Na mesma coletiva de imprensa, em Genebra, ele também disse que o valor das vacinas não deve ser questionado.
"Sabemos que as vacinas não causam autismo. As vacinas, como eu disse, salvam inúmeras vidas. Então, isso é algo que a ciência comprovou, e essas coisas não devem ser realmente questionadas", acrescentou.









