Terapia-alvo contra câncer: como é o tratamento o experimental que Preta Gil realizava nos EUA
Embora a técnica tenha demonstrado resultados promissores, no caso de Preta, a resposta imunológica ao tratamento não foi a esperada; entenda

Wagner Lauria Jr.
A cantora Preta Gil morreu nesse domingo (20), aos 50 anos, em Washington, nos Estados Unidos, em decorrência de um câncer colorretal – tipo que afeta o cólon e o reto, partes do intestino grosso. Ela lutava contra a doença desde janeiro de 2023 e havia esgotado todas as possibilidades de tratamento disponíveis no Brasil.
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Nos últimos meses de vida, a artista buscou uma esperança fora do país: um protocolo experimental baseado em terapia-alvo, no centro oncológico Virginia Cancer Institute, onde participava de um estudo clínico em fase final.
Embora a técnica tenha demonstrado resultados promissores em outros pacientes, no caso de Preta, a resposta imunológica ao tratamento não foi a esperada, e o câncer seguiu avançando.
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O que é a terapia-alvo?
Segundo o Instituto Vencer o Câncer, a terapia-alvo é uma forma de tratar o câncer, utilizando medicamentos desenvolvidos para agir diretamente sobre mutações ou moléculas específicas envolvidas no crescimento e na disseminação do tumor.
Ao contrário da quimioterapia tradicional – que atinge todas as células que se dividem rapidamente, inclusive as saudáveis –, a terapia-alvo identifica e ataca apenas as alterações genéticas presentes nas células cancerígenas ou no microambiente tumoral. Isso torna o tratamento mais específico e, muitas vezes, com menos efeitos colaterais.
Esse tipo de abordagem representa um avanço significativo na oncologia, especialmente para pacientes cujos tumores apresentam mutações conhecidas e que podem ser controladas com medicamentos direcionados. No entanto, nem todos os tipos de câncer possuem essas características, e por isso a indicação depende de testes genéticos e da análise individual de cada caso.
A terapia-alvo atua de diversas maneiras para combater o câncer, entre elas:
- Bloqueio de sinais celulares que estimulam o crescimento e a multiplicação das células tumorais;
- Inibição da formação de novos vasos sanguíneos, que nutrem o tumor e permitem seu crescimento (angiogênese);
- Entrega direta de substâncias tóxicas às células cancerígenas, preservando os tecidos saudáveis ao redor;
- Ativação do sistema imunológico, estimulando o corpo a reconhecer e destruir as células doentes;
- Interferência em mecanismos de sobrevivência celular, impedindo que as células tumorais vivam mais do que deveriam.
A luta de Preta Gil contra o câncer
A artista foi diagnosticada no início de 2023 com adenocarcinoma, um tipo de tumor maligno no reto e chegou a anunciar a remissão da doença.
No entanto, em agosto de 2024, a cantora anunciou a retomada do tratamento contra o câncer após detectar o retorna da doença por exames de rotina. Na ocasião, anunciou que a doença voltou em "quatro lugares diferentes": dois linfonodos, uma metástase no peritônio e uma lesão na ureter (tubos que transportam a urina nos rins).
No final de dezembro do ano passado, a cantora e empresária passou por uma cirurgia com duração de cerca de 21 horas, com o objetivo de retirar tumores. Ela revelou que a recuperação tem sido desafiadora.
"Só melhora. Mas é difícil. É um reaprender a fazer muitas coisas. Eu tô aprendendo a lidar com a bolsa de colostomia, dessa vez definitiva. Eu vou ficar para sempre com essa bolsinha e sou muito grata a ela por isso", declarou na época.
Por fim, ela foi submetida a um estudo clínico experimental nos Estados Unidos.
Por que o câncer pode voltar?
O termo recidiva é usado pela literatura médica para definir o retorno de uma doença. No caso do câncer, ainda que em um primeiro momento ocorra a remissão completa, ele pode retornar quando pequenas áreas tumorais ficam no corpo, as "micrometástases", que não são detectáveis em exames de imagem, segundo a Sociedade Brasileira de Cirurgia Oncológica (SBCO).
"Mesmo com o tratamento que tinha intenção de curar o câncer, ele pode voltar", ressalta Clarissa Baldotto, oncologista clínica e membro do Comitê de Tumores do Sistema Nervoso Central da Sociedade Brasileira de Oncologia Clínica (SBOC).
De acordo com a SBOC, o retorno da doença pode acontecer no mesmo local onde foi diagnosticado inicialmente (recidiva local) ou em outras regiões do corpo, podendo ser uma área próxima a do diagnóstico inicial (regional) ou em outra parte do corpo, geralmente distante de onde ocorreu pela primeira vez (metastática distante ou à distância).
Por exemplo, seria o caso de um paciente inicialmente com câncer de mama, mas que na recidiva desenvolve a doença nos ossos.
Geralmente, segundo Baldotto, a recidiva é detectada em consultas de retorno, que devem ser realizadas de três em três meses no início, depois o tempo vai aumentando. Nessas consultas, os médicos costumam indicar exames como tomografia e pet-scan.
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