Risco de suicídio entre adolescentes aumenta na comparação com outras faixas etárias, diz Fiocruz
Taxa de pessoas que tenham de 10 a 19 anos foi 53,6 vezes maior em 2022 comparada ao ano 2000; como conversar com seu filho?
Alerta: tema sensível
Uma pesquisa divulgada pela Escola Nacional de Saúde Pública (Ensp/Fiocruz), nesta quinta-feira (19), revela um aumento significativo na taxa de suicídios entre adolescentes no Brasil, especialmente na faixa-etária de 10 a 19 anos.
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Os pesquisadores alertam que a aceleração no aumento dos suicídios entre adolescentes é preocupante. Em 2022, a taxa desse tipo de morte entre os jovens de 10 a 19 anos foi 53,6 vezes maior do que em 2000.
O estudo indica que o crescimento da mortalidade por suicídio nesta faixa etária é mais acentuado do que em outros grupos. A análise aponta que, em 2022, a probabilidade de suicídios entre adolescentes superou em 21% a de jovens adultos (20 a 29 anos), uma inversão que começou em 2019.
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O relatório técnico "Adolescência e suicídio: um problema de saúde pública" foi feito sob coordenação dos pesquisadores Raphael Mendonça Guimarães, Nilson do Rosário Costa e Marcelo Rasga Moreira, e utiliza dados do Sistema de Informações sobre Mortalidade (SIM/SUS).
Influência da pandemia e aumento nas áreas urbanas
A pandemia de Covid-19 também contribuiu para esse quadro, reforçando as dificuldades enfrentadas pela geração mais jovem, impactada por incertezas em relação ao futuro e pela crise climática.
Segundo Raphael Guimarães, um dos autores do estudo, o avanço do suicídio entre adolescentes sugere que questões contemporâneas, como a precariedade econômica e o impacto das mudanças climáticas, têm um efeito devastador sobre a saúde mental dessa faixa etária.
“Embora hoje as taxas entre adultos sejam maiores, a taxa entre adolescentes cresce mais rápido. Não tem epidemia de suicídio. O que tem é uma tendência de crescimento que aponta o momento exato para a intervenção de políticas públicas. Se não houver, aí sim, em 20 anos chegaremos a algo preocupante”, ressaltou.
O estudo também aponta que, apesar de o Brasil apresentar taxas de suicídio historicamente mais baixas que em outros países, o aumento entre jovens, especialmente em áreas urbanas e entre homens, é alarmante.
Taxa de suicídio entre jovens adultos e adolescentes é maior do que a média geral
A taxa de pessoas que tiraram a própria na faixa-etária entre 10 e 25 anos cresceu 6% por ano no país entre 2011 a 2022, quase o dobro do observado na população em geral (3,7%). É o que mostram os dados do Ministério da Saúde e de um outro estudo feito pela Fiocruz.
Além disso, o número de atendimentos ambulatoriais por automutilação é 1925% maior em 2023, na comparação com 2014, quando considerada a faixa-etária de 7 até 19 anos. Os dados foram compilados pelo Ministério da Saúde a pedido do SBT News.
Como os pais podem conversar com os filhos?
Antônio Geraldo, que é presidente da Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP) e coordenador nacional da campanha Setembro Amarelo, ressalta que é importante explicar que as doenças mentais são como doenças físicas, só que ao contrário da hipertensão, que afeta sua saúde cardiovascular, elas afetam nossos pensamentos e sentimentos também.
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"É importante estar atento a mudanças bruscas no comportamento da criança e do adolescente. Se ela está se sentindo triste, se está muito calada, se isolando, preferindo fazer as refeições no quarto, se não quer ir pra escola, se não está fazendo atividades que antes eram prazerosas", ressalta.
Para poder estabelecer conversas com os filhos, os pais devem construir uma relação de diálogo respeitoso, com carinho desde cedo e promover momentos de qualidade em família, avalia Gabriela Crenzel, que é membro do Grupo de Trabalho de Saúde Mental da Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP)
"Dessa forma, portas serão abertas para conversar sobre os mais variados temas, inclusive questões da saúde mental. À medida em que há uma comunicação aberta, eles começam a falar. Mas isso precisa vir naturalmente e sem julgamentos, respeitando a privacidade para que eles não se sintam inibidos de falar", ressalta.
Ela destaca que falar sobre esses assuntos não aumenta a incidência de autoagressão ou suicídio, e, sim, pode ter um efeito contrário. O diálogo, segundo ela, ajuda os adolescentes a nomear questões que, algumas vezes são triviais para os adultos, mas que para eles ainda são novidade.
No entanto, ela alerta que a família precisa de outros aliados para abordar essas questões com os filhos.
"Dificilmente, a família conseguirá ajudar sozinha seus filhos e precisará de uma rede de apoio, no âmbito da educação e de saúde, como psicoterapia", afirma.
Os sinais de alerta para adolescentes são isolamento, piora do rendimento escolar, desatenção exacerbada "o que era alegria, vira apatia, perde o sentido" e excesso de apetite.
"O que precisa ser medido são duas coisas: a persistência dos sintomas e os prejuízos que estão sendo trazidos para a vida do adolescente".
Controlar tempo e conteúdo das telas também pode ajudar
Sobre o uso de tecnologia, a recomendação de Luci Pfeiffer, presidente do Departamento Científico de Prevenção e Enfrentamento das Causas Externas na Infância e Adolescência da SBP, é de que até os dois anos de idade a criança não deva entrar em contato com telas. Depois dos dois até os cinco anos, o limite é uma hora por dia, com supervisão parental. Na adolescência, o ideal é no máximo duas horas, também sob monitoramento e nunca à noite, antes de dormir. "A tela excita, estimula vários tipos de atividades cerebrais e, com certeza, vai causar um sono agitado e pesadelos".
"O ideal é que as telas nunca substituam completamente ou parcialmente o lazer natural, como correr, brincar, trocar abraços, conversar e se divertir ao ar livre", ressalta.
Onde procurar ajuda?
CVV (Centro de Valorização à Vida) - Atendimento por ligação gratuita, 24 horas por dia, pelo número 188. Há também as opções de atendimento físico, chat e e-mail.
Pode falar - Canal de atendimento da Unicef (Fundo das Nações Unidas para a Infância) criado para ajudar pessoas de 13 a 24 anos a lidarem com questões de saúde mental.
Além disso, pela rede pública, o atendimento para questões de saúde mental pode começar via atendimento pelas UBSs (Unidade Básica de Saúde) ou pelos Caps (Centros de Atenção Psicossocial) Infanto-Juvenil espalhados pelo Brasil.