Para que serve cada fase do sono? Como nos ajuda a lembrar das coisas? Veja o que diz estudo
Pesquisa mostra que fases não-REM e REM trabalham em conjunto para organizar e preservar memórias; veja o que fazer em caso de insônia

Wagner Lauria Jr.
Uma nova teoria proposta por pesquisadores da Universidade de Michigan, nos EUA, pode ajudar a explicar por que o sono segue, em praticamente todos os animais, uma sequência específica de fases e qual é a real função de cada uma delas no cérebro.
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Publicado na revista PLOS Computational Biology, o estudo sugere que as fases não-REM e REM não apenas têm papéis distintos, mas também trabalham em conjunto para organizar e preservar nossas memórias de forma eficiente.
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A dança cerebral do sono
Dormir não é um processo uniforme. Durante a noite, o cérebro alterna entre dois estados principais: o sono não-REM, caracterizado por baixa atividade cerebral, e o sono REM, em que os neurônios voltam a disparar intensamente e os olhos se movem rapidamente sob as pálpebras (daí o nome: Rapid Eye Movement). É nesse estágio que os sonhos mais vívidos costumam acontecer.
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Embora essas fases ocorram em ciclos que se repetem ao longo da noite, uma coisa chama a atenção dos cientistas: a ordem nunca se inverte. O corpo sempre entra primeiro no sono não-REM, seguido do REM.
“É um padrão altamente preservado na evolução. Quando a sequência se altera, como em casos graves de privação de sono ou distúrbios como a narcolepsia, algo claramente está fora do lugar", explica Sara Aton, uma das autoras do estudo.
Memórias como arbustos
A nova teoria propõe uma analogia simples para entender o papel de cada fase do sono. Imagine que suas memórias são como arbustos crescendo em um jardim. Durante o sono não-REM, essas memórias “crescem”: o cérebro fortalece as conexões relacionadas aos eventos e informações vivenciadas. Já o sono REM atua como um jardineiro, “podando” os galhos que cresceram demais ou se entrelaçaram, garantindo que cada memória se mantenha clara, organizada e separada das demais.
Ou seja, o sono não-REM ajuda a consolidar, e o REM, a refinar. Quando essa ordem se inverte, com o REM vindo antes, o resultado é desastroso: memórias recém-formadas podem ser eliminadas, segundo os experimentos conduzidos com camundongos.
"Digamos que você tenha três reuniões por dia. Sabemos que você se lembrará melhor dessas reuniões depois de uma boa noite de sono", diz Michal Zochowski, outro autor do estudo.
Em resumo, durante o sono não REM, você fortalece a memória de cada reunião. Mas também precisa se lembrar de quem disse o quê e durante qual reunião. O que o sono REM faz é manter essa separação.
Quais serão os próximos passos?
Na prática, essa descoberta reforça o que estudos anteriores já indicavam: uma boa noite de sono é fundamental para a memória. “Se você participou de três reuniões durante o dia, é durante o sono não-REM que você vai fortalecer o conteúdo de cada uma delas. E é no sono REM que seu cérebro vai separar essas memórias, evitando confusão entre o que foi dito em cada reunião”, explica Michal Zochowski, coautor do estudo.
A teoria ainda precisa ser testada em cenários mais complexos e com dados mais diversos, especialmente em humanos. Mas os cientistas acreditam que ela oferece um novo caminho para entender como o cérebro organiza experiências, aprende e se adapta.
“O que temos agora é um estudo que diz: 'Vejam, é isso que pode estar acontecendo'. Agora precisamos provar que o modelo está associado à realidade.”, diz Zochowski.
O estudo foi financiado por instituições como a National Science Foundation, a iniciativa Chan Zuckerberg e os Institutos Nacionais de Saúde dos Estados Unidos, além de contar com apoio do programa BRAIN (Brain Research Through Advancing Innovative Neurotechnologies).
O que fazer em caso de insônia?
Para tratar a insônia, é necessário entender suas causas, segundo o psiquiatra Bruno Brandão. Em muitos casos, ela é apenas uma consequência de transtornos como os da ansiedade, depressão, por exemplo. Por isso, ele reitera que primeiro o quadro deve ser diagnosticado, para que ele seja tratado corretamente.
"Se precisar de tratamento com medicação, é preciso ter uma data de início e término, para não deixar o medicamento pela vida inteira", disse
Alguns hábitos prejudicam o sono
De acordo com Brandão, alguns hábitos devem ser evitados para melhorar a qualidade do sono: ficar no quarto o dia inteiro, cochilar durante o dia, ter pouco contato com a luz, tomar café em excesso e ter contato com telas (como TV e celular) próximo ao horário de dormir.
"Para regular o sono, basicamente é preciso seguir o fluxo do sol. Não necessariamente tomar sol, mas simplesmente deixar a luz entrar no ambiente em que você está", disse
Regular o sono "não é da noite para o dia"
Para regular do sono, é preciso de planejamento e "não é feito da noite para o dia", explica o psiquiatra. Em muitos casos, ele exemplifica, pode levar pelo menos de duas até três semanas.
*Com informações do Futurity