Viagem aos EUA busca diálogo sobre tarifa sem “abrir negociação”, diz presidente de comissão do Senado
Comitiva que vai a Washington se reuniu com Mauro Vieira, no Itamaraty, para alinhar estratégias e receber atualização sobre negociações em andamento

Jessica Cardoso
Hariane Bittencourt
O presidente da Comissão de Relações Exteriores do Senado, Nelsinho Trad (PSD-MS), afirmou nesta quarta-feira (23) que a ida de senadores aos Estados Unidos (EUA) na próxima semana busca promover diálogo político sobre as tarifas anunciadas por Donald Trump, mas sem abrir negociação.
“Não temos a prerrogativa de abrir negociação, mas temos o dever de dialogar”, disse Trad durante reunião virtual com o ministro das Relações Exteriores, Mauro Vieira, e outros parlamentares que embarcam para Washington entre os dias 28 e 30 de julho.
O encontro com o chanceler foi realizado para os senadores serem atualizados sobre as negociações em andamento.
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Ao SBT News, o senador afirmou que o objetivo da missão é reaproximar os dois países após o aumento das tensões comerciais e "abrir esse canal de diálogo".
Trad também disse que o papel dos parlamentares é complementar ao trabalho técnico do governo federal.
“Eles [governo] têm a linha de atuação deles. A parte técnica com assessores, ministérios. E nós temos a interlocução com deputados e senadores”, afirmou.
O senador ressaltou ainda que toda iniciativa que contribua para resolver o impasse é positiva.
“Tudo o que vem para ajudar é bem-vindo. Queremos fazer com que o Brasil possa se sentar à mesa no mais alto nível”, afirmou.
A comitiva, formada por oito senadores, pretende se reunir com empresários norte-americanos que têm negócios com o Brasil e também com empresários brasileiros que atuam nos EUA. Haverá ainda encontros com parlamentares norte-americanos, na tentativa de estreitar as relações diplomáticas entre os dois países.
Segundo Trad, o grupo também alertará autoridades norte-americanas sobre os efeitos das tarifas em setores-chave da economia brasileira, que, segundo estudo da comissão, podem ameaçar até 1,9 milhão de empregos no país.
Nos EUA, os estados da Califórnia, Flórida, Texas e Nova Jersey enfrentam risco de interrupção nas cadeias produtivas. Juntos, esses quatro estados importam quase US$ 22 bilhões em produtos brasileiros, como café, petróleo, ferro, aço, carnes e celulose.
Durante a reunião, o chanceler Mauro Vieira detalhou os esforços recentes do governo brasileiro em articulações com o setor privado norte-americano e com autoridades do Tesouro dos EUA, conduzidas por diferentes ministérios.
Vieira também ressaltou que, nos últimos 15 anos, os Estados Unidos mantiveram superávit de US$ 410 milhões na balança com o Brasil e que a complementariedade entre as economias tem sido apresentada sistematicamente como argumento contra a aplicação das tarifas. Ele explicou, no entanto, que não há, por ora, outras alternativas definidas pelo governo brasileiro para resolver a questão.
Uma possibilidade é o envio de uma delegação do Executivo aos EUA para tentar negociação direta, além de eventual ligação do presidente Lula (PT) para Trump, mas nenhuma dessas opções foi confirmada pelo chanceler durante a reunião.
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Diplomatas presentes explicaram que os primeiros contatos entre os governos ocorreram antes mesmo do primeiro anúncio oficial das tarifas por Trump em abril, quando o Brasil foi taxado em 10%. Segundo eles, o país sempre defendeu que, por ter déficit comercial, não deveria ser alvo da medida.
Ainda de acordo com o relato, em 4 de julho, o Escritório do Representante de Comércio dos EUA (USTR) informou que a decisão final sobre as tarifas continua pendente da Casa Branca.
A reunião contou também com a participação da secretária de Comércio Exterior do Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (Mdic), Tatiana Prazeres, que colocou a pasta à disposição dos parlamentares.