Mudança nas unhas leva homem a diagnóstico de câncer de pulmão avançado
Brian Gemmell não teve nenhum sintoma respiratório; alteração na ponta dos dedos é conhecida como baqueteamento digital; saiba identificar

Wagner Lauria Jr.
Identificar um inchaço na ponta dos dedos a tempo mudou o destino de Brian Gemmell, um educador físico britânico que descobriu ter câncer de pulmão em estágio avançado sem apresentar nenhum sintoma respiratório. Conhecido como o baqueteamento digital, é uma alteração visível nas extremidades dos dedos das mãos e dos pés — caracterizado pelo aumento da curvatura das unhas e do volume nas pontas dos dedos (veja como identificar abaixo).
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"Eu não tinha os sintomas considerados 'comuns' de câncer de pulmão. Meu sintoma inicial foi baqueteamento digital; as pontas dos meus dedos inchavam o tempo todo. Pesquisei no Google – como sempre – e encontrei um possível problema respiratório", disse Brian
Ao procurar um clínico geral, ele foi imediatamente encaminhado para uma radiografia de tórax.
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“Comecei a ficar preocupado quando vi o técnico de raio-x chamar um radiologista. Depois fiz uma tomografia, e encontraram um tumor avançado no meu pulmão direito. O médico sugeriu uma biópsia, mas o cirurgião decidiu que o pulmão precisava ser removido. E assim foi”, relembrou.
Segundo a Roy Castle, instituição de caridade voltada para pacientes com câncer de pulmão, cerca de nove em cada dez pacientes diagnosticado com a doença procuram primeiro um clínico geral, o que torna sua avaliação essencial para a detecção precoce da doença. No caso de Brian, essa agilidade foi crucial.
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“As pessoas acham que o câncer de pulmão é uma sentença de morte. Não é surpreendente, considerando as estatísticas de sobrevivência. Mas não precisa ser assim. Eu sou a prova de que não precisa ser. Mas é preciso que as pessoas certas façam acontecer”, afirmou Brian, em vídeo promocional da Roy Castle que também contou com a presença do ex-treinador do Manchester United, Sir Alex Ferguson.
Além de paciente, Brian continua atuando como educador físico, agora com foco em pessoas que enfrentam o câncer de pulmão. Ele defende que a atividade física ajuda os pacientes a se manterem fortes e ativos durante o tratamento, o que foi comprovado por um estudo publicado mês passado.
Como identificar o baqueteamento digital?
O baqueteamento digital ou hipocratismo digital é uma alteração que se desenvolve de forma gradual. De acordo com artigo publicado na Best Medicine Practice, nos primeiros estágios, a base da unha fica mais macia, além de apresentar vermelhidão ou inflamação na pele ao redor da unha em alguns casos. Em seguida, as unhas começam a se curvar de maneira acentuada. Com o tempo, os dedos adquirem um aspecto mais arredondado e inchado (imagem abaixo).

O artigo recomenda a realização do teste da janela de Schamroth para identificar a condição: basta encostar as unhas dos dedos indicadores uma na outra. Em pessoas saudáveis, forma-se um pequeno espaço em formato de losango entre elas, por onde a luz passa. Se essa abertura não existir, pode ser um sinal de baqueteamento.

Essa deformação nas unhas e nas pontas dos dedos costuma estar associada a doenças que provocam baixa crônica nos níveis de oxigênio no sangue, como problemas pulmonares e cardíacos, endócrinos e gastrointestinais. Além disso, pode aparecer de forma isolada.
Segundo o portal médico Medscape, o baqueteamento está presente em cerca de 35% dos casos de câncer de pulmão de células não pequenas, que são os casos mais comuns de câncer e costuma ser menos agressivo. Já nos tumores de células pequenas, mais agressivo e menos comum, a incidência é bem menor, presente em 4% dos casos. Por isso, qualquer alteração perceptível deve ser avaliada por um médico o quanto antes.
Outros sinais de atenção incomuns
De acordo com o American Cancer Society e o Hospital Albert Einstein, além dos sintomas respiratórios comuns como tosse persistente, dor na região do peito, e cuspir, escarrar ou tossir sangue, alguns dos sinais incomuns do câncer de pulmão incluem:
- Perda de peso sem motivo aparente;
- Dor no ombro (apesar de raro, acontece em caso de tumores que pressionam a região);
- Voz rouca;
- Vermelhidão e inchaço no rosto;
- Alterações nas suas pálpebras (fraqueza) e pupilas (diminuição do tamanho);
- Cansaço frequente;
É importante ressalta que o diagnóstico não deve ser feito pela própria pessoa e, sim, por um médico, uma vez que os sintomas podem ser confundidos com outras condições. Além dos métodos tradicionais para diagnosticar a condição, há integração da radiômica e da inteligência artificial (IA) vêm possibilitando formas mais personalizadas de cuidado, ajudando a prever a progressão da doença e a resposta ao tratamento.
Prevenção
Apesar de ter outras causas e até mesmo questões genéticas, o tabagismo é a principal causa relacionada a casos de câncer de pulmão, de acordo com Instituto Nacional do Câncer (INCA), responsável por cerca de 90% das mortes pela doença. Segundo o radiologista intervencionista Felipe Roth Vargas, intervenções voltadas à cessação do tabagismo têm impacto direto na redução da incidência da doença.
"Programas de apoio, como terapia de reposição de nicotina e medicamentos como a vareniclina, são amplamente utilizados para auxiliar os pacientes a parar de fumar", ressalta.