Exercício físico durante o tratamento do câncer pode aliviar efeitos colaterais, mostra estudo
Ampla revisão científica encontrou evidências sólidas dos benefícios da atividade física para quem está em tratamento contra a doença; entenda

Wagner Lauria Jr.
A prática regular de atividade física tem se mostrado uma ferramenta poderosa na jornada de pacientes com câncer. Mais do que auxiliar na prevenção da doença, novos estudos comprovam que se exercitar durante o tratamento oncológico pode fazer toda a diferença — aliviando efeitos colaterais e promovendo bem-estar físico e mental.
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É o que aponta uma ampla revisão publicada recentemente no British Journal of Sports Medicine. Pesquisadores do Hospital Shengjing, da Universidade Médica da China, analisaram 80 estudos clínicos realizados entre 2012 e julho de 2024 e encontraram evidências sólidas dos benefícios da atividade física para quem enfrenta o câncer, segundo os pesquisadores.
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Menos efeitos colaterais, mais qualidade de vida
A revisão mostra que o exercício físico, quando praticado ao longo do tratamento, reduz significativamente eventos adversos como cardiotoxicidade (danos ao coração causados por quimioterapia), comprometimento cognitivo, dificuldade para respirar (dispneia), entre outros sintomas comuns.
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Além disso, os pacientes apresentaram melhorias importantes na composição corporal, em biomarcadores metabólicos (como os níveis de insulina), no sono, no bem-estar psicológico, na função física e até na interação social. Em resumo, a qualidade de vida como um todo aumentou — mesmo em meio a um tratamento muitas vezes agressivo e exaustivo.
“Esses benefícios reforçam que o corpo em movimento é um corpo mais preparado para lidar com os desafios impostos pelo câncer e seus tratamentos”, apontam os autores.
Atividade antes da cirurgia também ajuda
Outro achado importante do estudo chinês foi o impacto positivo do exercício praticado antes de cirurgias oncológicas. A atividade física nesse período reduziu o risco de complicações no pós-operatório, aliviou dores, encurtou o tempo de internação hospitalar e até diminuiu o risco de morte.
O que praticar?
Entre os tipos de exercícios avaliados, destacam-se:
- Atividades aeróbicas (como caminhadas e bicicleta);
- Treinos de resistência (musculação e similares);
- Treinamento intervalado de alta intensidade (HIIT);
- Práticas corpo-mente, como ioga, tai chi e Qigong.
Essas modalidades mostraram resultados positivos principalmente entre pacientes com câncer de mama, de pulmão, do sistema digestivo, sanguíneo e de próstata.
Uma ferramenta poderosa – e acessível
Embora os pesquisadores reconheçam limitações nos dados — como o fato de que pacientes com mais saúde conseguem se exercitar mais facilmente —, o consenso é claro: já existem evidências suficientes para que a atividade física seja incorporada como parte oficial do tratamento oncológico.
No Brasil, o Instituto Nacional de Câncer (Inca), em parceria com sociedades médicas, lançou em 2022 o guia “Atividade física e câncer: recomendações para prevenção e controle”. O documento orienta profissionais de saúde a incentivarem seus pacientes a se manterem ativos durante todas as fases do tratamento.
As recomendações seguem padrões da Organização Mundial da Saúde: pelo menos 150 minutos por semana de atividade física moderada (como caminhar enquanto conversa) ou 75 minutos de exercício vigoroso. Mesmo quantidades menores já são benéficas e devem ser valorizadas.