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Saúde

É possível evitar doenças graves pela seleção de embriões? Qual é o dilema ético? Entenda

Onde termina o cuidado e começa o desejo de controle sobre o futuro de seu filho? Saiba mais sobre os limites da ciência em relação ao tema

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É possível evitar doenças graves pela seleção de embriões? | Freepik
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A ideia de ter um bebê sob medida — um filho "perfeito", com características físicas e intelectuais escolhidas pelos pais — sempre povoou o imaginário humano. Filmes e livros de ficção científica exploraram essa possibilidade, misturando fantasia e avanços da ciência. Mas até que ponto isso já é possível? A medicina reprodutiva consegue, de fato, selecionar tais atributos? E, principalmente: quais são os limites éticos e legais?

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O que já é realidade na reprodução assistida

A reprodução assistida é uma das áreas da medicina que mais evolui em tecnologia. A fertilização in vitro (FIV) ajuda milhões de casais ao redor do mundo a realizar o sonho de ter filhos — e, em alguns casos, permite ir além.

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O diagnóstico genético pré-implantacional (PGT) é um desses avanços. A técnica permite a análise genética dos embriões gerados em laboratório antes da transferência para o útero, identificando alterações genéticas associadas a doenças graves, como fibrose cística, distrofia muscular ou síndromes cromossômicas, como a Síndrome de Down.

Existem diferentes tipos de PGT. Alguns realizam a triagem de doenças cromossômicas mais comuns em embriões de mulheres com mais de 38 anos ou com histórico de abortamentos de repetição. Outros se concentram em doenças genéticas específicas, especialmente quando há histórico familiar. Em ambos os casos, o objetivo é aumentar as chances de um bebê saudável e reduzir riscos à saúde e à qualidade de vida.

Apesar dos avanços, os testes genéticos ainda não permitem, com segurança, selecionar características como inteligência, altura, cor dos olhos ou talentos específicos. A genética humana é extremamente complexa: o funcionamento dos genes depende tanto de combinações específicas quanto da interação com o ambiente — o que torna inviável prever e determinar traços multifatoriais por um simples exame.

Quando a ciência encontra os dilemas éticos

Mesmo que fosse possível selecionar as melhores características de um embrião, resta a pergunta: deveríamos fazer isso?

A possibilidade de escolher traços físicos ou comportamentais levanta questões éticas profundas. O que aconteceria com os embriões que não atendessem às expectativas? Até que ponto a ciência pode moldar um ser humano sem desrespeitar sua individualidade, imprevisibilidade e valor intrínseco?

Transformar o filho em um “projeto ideal” pode significar deixar de lado sua condição única de pessoa — e tratá-lo como objeto de realização pessoal.

Do ponto de vista legal, a maioria dos países adota restrições rígidas. No Brasil, o Conselho Federal de Medicina permite o uso de testes genéticos apenas para prevenção de doenças hereditárias ou para seleção em casos específicos, como compatibilidade para transplante de medula óssea entre irmãos. A escolha de sexo, características estéticas ou comportamentais não é autorizada.

Mais cuidado, menos controle

O verdadeiro avanço da medicina reprodutiva não está em criar “bebês perfeitos”, mas em garantir acesso a tratamentos seguros, éticos e humanizados. A tecnologia pode — e deve — ser usada para prevenir sofrimento, não para alimentar expectativas irreais ou desejos de controle total sobre o futuro.

O maior presente que a medicina pode oferecer é o cuidado com a vida desde o início. E o maior gesto dos pais será sempre acolher o filho como ele é — com ou sem os traços sonhados.

* Fabia Vilarino é ginecologista especialista em Reprodução Humana e Cirurgia Ginecológica Endoscópica credenciada pelo CRM 105.234 – RQE 72263 / 722631 / 722632

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